Relação médico-paciente para pacientes
A escolha do médico
Atualmente é comum que o paciente escolha um médico simplesmente consultando uma lista de desconhecidos fornecida pelos planos de saúde1. Essa é, sem dúvidas, a pior e a mais arriscada das opções. A escolha de um médico deve ser decidida a partir de vários parâmetros conjugados: sua filiação a sociedades médicas especializadas, recomendações feitas por outros médicos da confiança do paciente, anúncios éticos e sérios de procedimentos, indicações de outros pacientes, conceito mais ou menos público da competência do profissional, etc.
Linguagem médica
Pesquisas mostram que apenas uma pequena porcentagem do que os médicos dizem é corretamente compreendido pelos pacientes. Isso se deve a vários motivos: a linguagem técnica dos médicos nem sempre é bem compreendida pelos pacientes, mesmo em uma linguagem não-técnica os jargões médicos podem conotar realidades diferentes da conhecida pelos pacientes, a ambiguidade natural das palavras pode levar a atribuir a elas um sentido diferente daqueles com que foram proferidas, a consulta médica geralmente é realizada pelos pacientes num estado de ansiedade, o que prejudica a compreensão, defesas psicológicas levam os pacientes a descartar ou deturpar aquilo que lhes seja difícil aceitar. O paciente deve repetir na frente do médico as instruções que recebeu para ter certeza de que as compreendeu bem.
Gerencie a sua saúde1
Sempre que for ao médico leve consigo o seu histórico de saúde1 ou permita a ele acessá-lo no computador. Isso inclui as doenças que tem ou teve, os resultados de exames anteriores, seus sintomas2, informações sobre alergias, diabetes3 ou hipertensão arterial4, indicação de remédios e substâncias que você está tomando ou não pode tomar.
Se você for sujeito a alguma crise repentina, leve consigo a medicação corretiva correspondente. Anote os endereços e os telefones dos serviços de urgência5 que você deseja que sejam contatados em caso de necessidade. Faça o mesmo em relação a pessoas que você deseja que sejam avisadas.
Procure informar-se sobre os eventuais procedimentos diagnósticos e terapêuticos a que deva submeter-se: seus preparos, incômodos, expectativas, riscos e benefícios, consequências imediatas e em longo prazo, etc. Depois de bem informado, decida você mesmo sobre eles.
O médico geralmente é tão interessado na sua melhora quanto você mesmo, seja por razões humanitárias, por um dever ético ou, ainda, porque disso depende o seu sucesso e a reputação profissional que adquirirá. No entanto, a pessoa mais responsável pelo seu tratamento deve ser você mesmo. Assuma um papel ativo e não simplesmente “se entregue nas mãos6 do médico”, atribuindo a ele toda a responsabilidade pelo seu tratamento.
Interações medicamentosas
É muito frequente que o paciente esteja tomando mais de um remédio, muitas vezes receitados por médicos diferentes. Conforme o caso, a associação de dois ou mais remédios pode ser perigosa ou, no mínimo, desvantajosa. Algumas medicações reforçam ou inibem a ação de outras e por isso convém que sejam ou que não sejam associadas. Assim, por exemplo, a vitamina7 C ajuda na absorção do ferro e os inibidores da monoaminoxidase8 desencadeiam uma crise hipertensiva grave quando tomados juntamente com outros antidepressivos. De um modo geral, as interações podem levar à diminuição do nível plasmático de um dos medicamentos, o que pode levar à ineficácia dele, gerar reações adversas, produzir um agravamento da condição mórbida do paciente ou criar dificuldades para que seja feito um diagnóstico9. Por tudo isso é importante informar ao seu médico os remédios que está tomando ou tenha tomado recentemente.
Horários para tomar os remédios
De preferência os remédios que não apresentem inconveniências ou impedimentos devem ser tomados juntos, para evitar-se criar vários horários de medicação, o que facilita o esquecimento. No entanto, devido aos ritmos orgânicos, algumas medicações fazem melhor efeito quando tomadas em horários determinados e outros têm suas ações mais adequadas a determinados períodos do dia. Assim, os remédios para reduzir o colesterol10, por exemplo, fazem melhor efeito se tomados nos horários de pico sanguíneos dessa substância, por volta das 19 horas e os soníferos ou remédios que dão sonolência devem ser tomados à noite e, ao contrário, os que dificultam o sono, devem ser tomados pela manhã. Os diuréticos11, por exemplo, não devem ser tomados à noite, para não causarem o incômodo de acordar o paciente com vontade de urinar. Alguns remédios devem ser tomados juntamente com as refeições, outros nos intervalos entre elas. Procure saber com seu médico qual o melhor horário para tomar os remédios que ele receitou. Alguns remédios têm maior duração no organismo e devem ser tomados mais espaçadamente e outros são de eliminação mais rápida e necessitam uma reposição em menor tempo. É isso que determina “de quanto em quanto tempo” deve ou pode ser tomada nova dose do remédio. Por outro lado, não existe uma correlação direta entre os sintomas2 e as medicações. Alguns remédios devem ser tomados mesmo na ausência de sintomas2, para agirem preventivamente ou porque devem ser tomados por um prazo determinado, necessário para erradicar a doença. Procure esclarecer com o seu médico o que fazer se você se esquecer de tomar uma dose ou se estiver em dúvida se tomou ou não o remédio.
A espera da consulta
Muitas esperas, sobretudo na medicina pública, são ocasionadas pela precariedade dos serviços e os profissionais médicos também são vítimas delas. No entanto, as esperas, às vezes longas, em salas de espera, podem ser decorrentes de uma má organização da agenda profissional. É verdade que os médicos podem se deparar com urgências e situações imprevistas que alteram todos os seus horários. Isso, no entanto, não constitui a rotina do profissional: são exceções. Não aceite o médico que atende habitualmente com grandes atrasos fazendo com que você tenha que reservar toda uma manhã ou tarde ou mesmo todo um dia para o atendimento. Existem outras opções.
A internet
Hoje em dia um grande número de pacientes consulta a internet sobre seus sintomas2 e medicações e os compara com o que foi dito ou recomendado pelo médico. No entanto, a informação teórica genérica transmitida pela internet é muito diferente da aplicação casuística dos dados. Se o médico for da sua confiança, as informações dele devem ser predominantes em relação à internet, mesmo que discrepantes delas.
A bula
Toda bula de medicação é muito mais extensa e minuciosa que as informações que o médico lhe transmite. Isso tanto porque as bulas trazem informações técnicas que muitas vezes não interessam aos usuários, quanto porque os laboratórios são obrigados a inserir nelas mesmo os efeitos colaterais12 raríssimos e pouco significativos. Até água pode causar intoxicação, mas isso é tão raro que nem se leva em conta. Mas, se fosse medicação, deveria constar na bula!
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.