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Toque retal: por que fazer?

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O que é o toque retal?

O toque retal é o exame feito através da introdução do dedo indicador do médico, revestido de luva esterilizada, no ânus1 do paciente, o que permite palpar a porção mais distal2 do reto3 (porção final do intestino grosso4), bem como a próstata5, e analisar possíveis anormalidades existentes nesses órgãos. O toque retal é muito utilizado pelos urologistas para examinar a próstata5, uma glândula6 externa ao reto3, mas que repousa diretamente sobre ele. Falaremos especificamente sobre esse uso do toque retal.

Esse exame, juntamente com as dosagens sanguíneas de antígeno7 prostático específico (PSA), representa a melhor e mais segura maneira de detectar precocemente a suspeita ou a existência do câncer8 de próstata5 que, do contrário, pode evoluir silenciosamente e só exibir sintomas9 quando já estiver muito evoluído ou produzir metástases10. Por isso, recomenda-se que exames regulares de toque retal e dosagem de antígeno7 prostático específico sejam feitos em homens a partir dos 40 ou 50 anos de idade. Afinal, costuma-se dizer, possivelmente com um exagero leigo, que o homem que viver muito "teve, tem ou terá" câncer8 na próstata5.

Anatomia, fisiologia11 e patologia12 da próstata5

A próstata5 é uma glândula6 exócrina, pertencente ao sistema reprodutor masculino, localizada abaixo da bexiga13 e à frente do reto3, envolvendo a uretra14. No homem adulto, a próstata5 normal pesa cerca de 20 gramas. Ela pode ser dividida em quatro zonas:

  • Zona periférica: envolve a uretra14 distal2 e é onde se alojam 70% dos cânceres de próstata5.
  • Zona central: envolve os ductos ejaculatórios15, é de onde partem cerca de 25% de todos os cânceres de próstata5.
  • Zona transicional: raramente associada ao câncer8, mas que é responsável por uma hiperplasia16 prostática benigna.
  • Zona fibromuscular anterior: composta somente de músculos17 e tecido18 fibroso. Anatomicamente, pode ser dividida em lóbulos anterior, posterior, laterais (direito e esquerdo) e medial.

Sua função principal é produzir e armazenar um fluido incolor e alcalino (pH 7,29) que constitui parte do volume do fluido seminal, o qual, juntamente com os espermatozoides19, forma o sêmen20. Seus músculos17 lisos ajudam a expelir o sêmen20 durante a ejaculação21. A correta função da próstata5 conta com a presença de hormônios masculinos, sobretudo a testosterona, produzida principalmente nos testículos22.

São três as principais doenças que podem acometer a próstata5:

  • Hiperplasia16 benigna da próstata5: caracterizada por um aumento benigno do tamanho da próstata5, que normalmente se inicia após os 40 anos de idade.
  • Prostatite23: é a inflamação24 da próstata5.
  • Câncer8 da próstata5: pode evoluir silenciosamente até que haja disseminação da doença.

Em que consiste o exame de toque retal?

O procedimento é muito simples e rápido, feito em consultório e dura apenas alguns minutos, se tanto. Normalmente, o paciente estará deitado numa maca ou cama, em uma posição parecida à posição ginecológica25 das mulheres, de barriga para cima, com as pernas fletidas e abertas, ou deitado de lado, apoiado na mesa de exame, e deve manter o ânus1 acessível e relaxado. O médico, vestindo luvas, lubrifica seu dedo indicador e o introduz no ânus1 do paciente, solicitando a ele que efetue um leve esforço defecatório e então palpa o interior do reto3 e, privilegiadamente, a próstata5. O exame é indolor e pode apenas ocasionar algum ligeiro desconforto, o qual pode ser aumentado devido ao não relaxamento da musculatura do ânus1.

O preconceito que ronda o exame, da parte de muito homens, tem feito com que o câncer8 de próstata5 possa progredir muito antes de ser diagnosticado, dificultando sobremaneira o tratamento ou mesmo tornado-o impossível. Deve-se ter em mente que alguns tumores de próstata5 são tão indolentes e de evolução tão lenta que nem chegam a necessitar tratamentos, mas outros são bem mais agressivos, crescendo e dando metástases10 mais rapidamente. Daí ser de toda conveniência que sejam diagnosticados bastante precocemente. O simples acompanhamento através das dosagens sanguíneas do antígeno7 prostático específico (PSA) não oferece segurança suficiente porque não há uma correspondência linear entre os níveis sanguíneos do PSA e a evolução do câncer8 de próstata5. Pessoas com PSA elevado podem não ter câncer8 e outras com PSA normal podem tê-lo. Além disso, o PSA sofre influência de muitos outros fatores que não o câncer8. Tampouco os exames de imagens podem substituir o toque retal. O câncer8 de próstata5, ao contrário de outros cânceres, não forma um tumor26, mas se distribui em numerosos pequenos nódulos que só podem ser percebidos ao toque retal.

Por que fazer o toque retal?

O toque retal é um exame importante para a área da proctologia, já que muitos tumores e outras doenças se manifestam na porção terminal do reto3. É também de grande importância para a urologia porque permite palpar a próstata5 através do reto3. Estima-se que todo homem que viver até os 100 anos terá algum tumor26 na próstata5.

Como um meio de levantar precocemente a suspeita do câncer8 de próstata5, o toque retal deve ser feito pelo menos uma vez ao ano por homens acima dos 50 anos, ou acima dos 40 anos para aqueles incluídos em grupos de risco: descendentes de negros, homens com parentes de primeiro grau que tenham tido câncer8 de próstata5, homens com PSA acima de 2,5 ng/mL, etc. No entanto, somente uma biópsia27 da próstata5 pode diagnosticar com certeza o câncer8 e determinar a sua gravidade.

O exame de toque retal é inadequado para diagnosticar ou monitorar muitas doenças que afetam o cólon28 porque ele apenas examina menos de 10% da mucosa29 do órgão. Em geral, o toque retal pode ser usado para diagnosticar tumores retais; examinar a próstata5; diagnosticar apendicite30 e casos de abdômen agudo31; estimar a tonicidade do músculo esfíncter anal32; fazer palpações ginecológicas de órgãos internos; avaliar hemorroidas33 etc. Muitas vezes o resultado do exame pode sugerir uma proctoscopia (exame endoscópico do reto3), uma colonoscopia34 (exame endoscópico do cólon28) ou uma biópsia27 de próstata5

ABCMED, 2013. Toque retal: por que fazer?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/saude-do-homem/367009/toque-retal-por-que-fazer.htm>. Acesso em: 5 out. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Ânus: Segmento terminal do INTESTINO GROSSO, começando na ampola do RETO e terminando no ânus.
2 Distal: 1. Que se localiza longe do centro, do ponto de origem ou do ponto de união. 2. Espacialmente distante; remoto. 3. Em anatomia geral, é o mais afastado do tronco (diz-se de membro) ou do ponto de origem (diz-se de vasos ou nervos). Ou também o que é voltado para a direção oposta à cabeça. 4. Em odontologia, é o mais distante do ponto médio do arco dental.
3 Reto: Segmento distal do INTESTINO GROSSO, entre o COLO SIGMÓIDE e o CANAL ANAL.
4 Intestino grosso: O intestino grosso é dividido em 4 partes principais: ceco (cecum), cólon (ascendente, transverso, descendente e sigmoide), reto e ânus. Ele tem um papel importante na absorção da água (o que determina a consistência do bolo fecal), de alguns nutrientes e certas vitaminas. Mede cerca de 1,5 m de comprimento.
5 Próstata: Glândula que (nos machos) circunda o colo da BEXIGA e da URETRA. Secreta uma substância que liquefaz o sêmem coagulado. Está situada na cavidade pélvica (atrás da parte inferior da SÍNFISE PÚBICA, acima da camada profunda do ligamento triangular) e está assentada sobre o RETO.
6 Glândula: Estrutura do organismo especializada na produção de substâncias que podem ser lançadas na corrente sangüínea (glândulas endócrinas) ou em uma superfície mucosa ou cutânea (glândulas exócrinas). A saliva, o suor, o muco, são exemplos de produtos de glândulas exócrinas. Os hormônios da tireóide, a insulina e os estrógenos são de secreção endócrina.
7 Antígeno: 1. Partícula ou molécula capaz de deflagrar a produção de anticorpo específico. 2. Substância que, introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpo.
8 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
9 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
10 Metástases: Formação de tecido tumoral, localizada em um lugar distante do sítio de origem. Por exemplo, pode se formar uma metástase no cérebro originário de um câncer no pulmão. Sua gravidade depende da localização e da resposta ao tratamento instaurado.
11 Fisiologia: Estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
12 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
13 Bexiga: Órgão cavitário, situado na cavidade pélvica, no qual é armazenada a urina, que é produzida pelos rins. É uma víscera oca caracterizada por sua distensibilidade. Tem a forma de pêra quando está vazia e a forma de bola quando está cheia.
14 Uretra: É um órgão túbulo-muscular que serve para eliminação da urina.
15 Ductos Ejaculatórios:
16 Hiperplasia: Aumento do número de células de um tecido. Pode ser conseqüência de um estímulo hormonal fisiológico ou não, anomalias genéticas no tecido de origem, etc.
17 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
18 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
19 Espermatozóides: Células reprodutivas masculinas.
20 Sêmen: Sêmen ou esperma. Líquido denso, gelatinoso, branco acinzentado e opaco, que contém espermatozoides e que serve para conduzi-los até o óvulo. O sêmen é o líquido da ejaculação. Ele é composto de plasma seminal e espermatozoides. Este plasma contém nutrientes que alimentam e protegem os espermatozoides.
21 Ejaculação: 1. Ato de ejacular. Expulsão vigorosa; forte derramamento (de líquido); jato. 2. Em fisiologia, emissão de esperma pela uretra no momento do orgasmo. 3. Por extensão de sentido, qualquer emissão. 4. No sentido figurado, fartura de palavras; arrazoado.
22 Testículos: Os testículos são as gônadas sexuais masculinas que produzem as células de fecundação ou espermatozóides. Nos mamíferos ocorrem aos pares e são protegidos fora do corpo por uma bolsa chamada escroto. Têm função de glândula produzindo hormônios masculinos.
23 Prostatite: Quadro de inflamação da próstata.
24 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
25 Posição ginecológica: O paciente permanece em decúbito dorsal, com as pernas flexionadas, afastadas e apoiadas em perneiras acolchoadas, e os braços estendidos e apoiados. Também chamada de posição de litotômia ou litotomia.
26 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
27 Biópsia: 1. Retirada de material celular ou de um fragmento de tecido de um ser vivo para determinação de um diagnóstico. 2. Exame histológico e histoquímico. 3. Por metonímia, é o próprio material retirado para exame.
28 Cólon:
29 Mucosa: Tipo de membrana, umidificada por secreções glandulares, que recobre cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
30 Apendicite: Inflamação do apêndice cecal. Manifesta-se por abdome agudo, e requer tratamento cirúrgico. Sua complicação mais freqüente é a peritonite aguda.
31 Agudo: Descreve algo que acontece repentinamente e por curto período de tempo. O oposto de crônico.
32 Esfíncter anal: Esfíncter é uma estrutura, geralmente um músculo de fibras circulares concêntricas dispostas em forma de anel, que controla o grau de amplitude de um determinado orifício. Esfíncter anal é o esfíncter do ânus. O canal anal tem um esfíncter interno e outro externo.
33 Hemorróidas: Dilatações anormais das veias superficiais que se encontram na última porção do intestino grosso, reto e região perianal. Pode produzir sangramento junto com a defecação e dor.
34 Colonoscopia: Estudo endoscópico do intestino grosso, no qual o colonoscópio é introduzido pelo ânus. A colonoscopia permite o estudo de todo o intestino grosso e porção distal do intestino delgado. É um exame realizado na investigação de sangramentos retais, pesquisa de diarreias, alterações do hábito intestinal, dores abdominais e na detecção e remoção de neoplasias.
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