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Nomofobia - a dependência do aparelho celular

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O que é nomofobia?

A nomofobia é a síndrome1 psicológica que ocorre quando uma pessoa sente medo de ficar sem o seu telefone celular, incluindo o medo da ausência de sinal2 e da falta de bateria. O termo foi cunhado em 2008, a partir de uma expressão em inglês “no-mobile-phone-phobia”, no escopo de um estudo britânico para descobrir as reações psicológicas e o nível de estresse causados pelo uso do celular.

A nomofobia reflete o medo de ficar sem esse instrumento de comunicação. Um estudo da Scientific American, de 2015, definiu a nomofobia como "o grau em que as pessoas dependem dos telefones celulares". Pesquisadores húngaros descobriram, em 2016, que os participantes de uma pesquisa exibiram níveis significativos de ansiedade apenas alguns minutos depois que seus telefones foram retirados deles.

Embora a nomofobia ainda não tenha sido reconhecida como um diagnóstico3 psiquiátrico, seu uso é bastante generalizado em artigos populares. Como tal, o termo assumiu uma conotação negativa com autores de saúde4. A dependência dos telefones celulares é possivelmente o maior vício do século 21.

Quais são os efeitos do uso do celular e do medo de ficar sem ele (nomofobia)?

Desde 2005, sabe-se que fatores psicológicos estão envolvidos como desencadeantes do uso excessivo do telefone celular. Eles podem incluir baixa auto-estima, quando as pessoas procuram reafirmação por intermédio do telefone celular, e personalidade extrovertida, quando as pessoas usam o telefone móvel em excesso.

Também é altamente possível que os sintomas5 nomofóbicos possam ser causados por outros transtornos mentais subjacentes e pré-existentes, incluindo fobia6 social, ansiedade social e transtorno de pânico. Outros preditores psicológicos para que uma pessoa possa sofrer essa fobia6 são idade baixa (uso precoce de aparelhos celulares), alta extroversão ou introversão, impulsividade, senso de urgência7 e busca de sensações.

Entre alunos, o uso frequente de telefones celulares tem sido correlacionado à diminuição do rendimento escolar e ao aumento da ansiedade que afeta negativamente o bem-estar e a felicidade. A "síndrome1 de conexão excessiva" ocorre quando o uso do celular reduz a quantidade de interações face8 a face8 entre as pessoas, interferindo significativamente com as relações sociais e familiares.

Saiba mais sobre "Transtorno ansioso social", "Transtorno do pânico", "Fobias9" e "Ansiedade".

A nomofobia também pode levar a problemas físicos, devido ao teclar excessivo, como dor nos cotovelos, mãos10 e pescoço11, além de lesionar as pequenas articulações12 da mão13. A ansiedade das pessoas que sofrem da síndrome1 aumentam em situações ou locais onde o uso do telefone celular é restrito, como em aeroportos, instituições acadêmicas, igrejas, hospitais, shows e ambiente de trabalho.

Apesar da reconhecida participação dos celulares nos acidentes de trânsito, muitas pessos não conseguem ficar sem eles quando estão dirigindo, mesmo que por curto período de tempo. Artigo publicado pela revista JAMA Pediatrics diz que as mensagens de texto em celulares são particularmente perigosas para jovens ao volante, pois afetam negativamente a performance de condução.

Digitar uma mensagem de texto no celular é um comportamento que tem potencial para criar distração visual, olhando para a tela para ler o texto, distração manual, usando as mãos10 para digitar o texto e distração cognitiva14 para o motorista se concentrar no conteúdo da mensagem. Neste estudo, os adolescentes que digitavam durante a condução em um simulador apresentaram alterações na velocidade, bem como na posição do veículo na via. Os pesquisadores descobriram que mensagens de texto podem triplicar o risco de conduzir o carro para fora de uma pista, o que já mostra os graves riscos dessa dependência.

Muitas pessoas sentem-se desprotegidas, como que “desnudadas”, quando não estão conectadas com celulares. Essas pessoas insistem em manter seus celulares sempre em mãos10, fazendo grandes esforços para recuperá-los se eventualmente os esquecem ou perdem. Tem sido usada a expressão "tecno-estresse" para referir-se aos indivíduos que evitam as interações face8 a face8, sendo vítimas do isolamento social e de alguns distúrbios do humor, tais como a depressão.

Leia sobre "Isolamento social", "Transtorno de esquiva" e "Depressão".

Como lidar com a nomofobia?

Juntamente com o aumento da pesquisa em nomofobia, surgiram artigos que discutem como superá-la. A primeira advertência é: “Se você sofre de nomofobia, você não está sozinho”. A nomofobia está em alta. Quanto mais poderosos são os telefones celulares, mais eles são usados, maior a dependência deles e tanto mais compulsivas e nomofóbicas as pessoas se tornam. Há quatro anos, uma pesquisa revelou que 53% das pessoas sofriam de nomofobia. Hoje em dia, são 66%.

Os tratamentos para a nomofobia são novos e limitados. Entretanto, a psicoterapia cognitivo15-comportamental combinada à intervenção farmacológica, quando necessária, tem mostrado resultados promissores.

Melhor do que qualquer tratamento é fazer, desde o início, um uso equilibrado e racional do celular, prevenindo a dependência com atividades simples no dia a dia:

  • Pergunte-se e fique atento a uma resposta sincera para modificar hábitos: “O meu celular está me controlando de alguma forma?”
  • Evite o uso de celulares durante as refeições.
  • Acorde, lave o rosto e tome um bom café da manhã antes de checar as suas mensagens no celular.
  • Quando for a um bar conversar com seus amigos, dirija a sua atenção aos amigos e não às mensagens e ligações que chegam no celular.
  • Converse olhando nos olhos16 das pessoas e ouvindo o que elas têm a dizer, sem ser interrompido por apitos e alertas de dispositivos móveis.
  • Procure estabelecer um período do dia “livre de eletrônicos”.
  • Não use celular durante o seu expediente de trabalho, a não ser que você trabalhe diretamente com ele.
  • Ao chegar em casa, fique um pouco com seus familiares sem pegar no celular, dê atenção às pessoas que você ama.
  • Pais devem ter maturidade suficiente para avaliar se seus filhos estão prontos para usar dispositivos móveis com acesso à internet; devem avaliar se as crianças realmente precisam de um celular e se saberão fazer um uso produtivo dele. Crianças não precisam de celular só porque os amiguinhos da escola também têm um.
  • Caso você note que você ou alguém da sua família está “passando dos limites” com o uso de celulares, procure ajuda médica ou psicológica. Pode estar na hora dessa pessoa receber apoio profissional.
Veja também sobre "Crianças e adolescentes e as mídias digitais" e "Como evitar radiações eletromagnéticas emitidas por celulares".

 

ABCMED, 2017. Nomofobia - a dependência do aparelho celular. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1307498/nomofobia-a-dependencia-do-aparelho-celular.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
3 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
4 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
5 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
6 Fobia: Medo exagerado, falta de tolerância, aversão.
7 Urgência: 1. Necessidade que requer solução imediata; pressa. 2. Situação crítica ou muito grave que tem prioridade sobre outras; emergência.
8 Face: Parte anterior da cabeça que inclui a pele, os músculos e as estruturas da fronte, olhos, nariz, boca, bochechas e mandíbula.
9 Fobias: Medo exagerado, falta de tolerância, aversão.
10 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
11 Pescoço:
12 Articulações:
13 Mão: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
14 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
15 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
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