Como funciona o controle do apetite?
Como é feito o controle do apetite?
A fome é também um problema social, mas aqui a abordamos apenas nos seus aspectos fisiológicos. Nesse sentido, ela tem a ver com o controle e descontrole do apetite, isto é, da vontade de comer e isso é regulado, basicamente, pelo hipotálamo1.
O centro da fome está localizado na parte lateral do hipotálamo1, enquanto que o centro da saciedade está localizado na parte ventromedial daquele órgão. Lesões2 nessas áreas causam, respectivamente, anorexia3 (ausência da vontade de comer) e emagrecimento ou obesidade4, consequente a um excesso da vontade de comer.
Do ponto de vista químico, a leptina5 é um hormônio6 produzido pelos adipócitos7 (células8 gordurosas) que suprime a atividade dos neurônios9 orexígenos10 e que estimula a atividade de neurônios9 anorexígenos11. Uma regulação mais imediata é ligada à ingesta alimentar e causada pelas peculiaridades da digestão12 gástrica.
A fome é ainda ativada pela quantidade de nutrientes e outros fatores presentes no organismo, como glicose13, aminoácidos, gordura14 e variações da temperatura interna. Mesmo diminuições mínimas na concentração de nutrientes são suficientes para gerar sinais15 que a desencadeiam. Ela também é estimulada pela visão16 e cheiro dos alimentos, além de fatores sociais e psicológicos.
Quando se come, além das necessidades energéticas, os nutrientes ingeridos são estocados sob a forma de gordura14 e a pessoa tende a engordar. Por outro lado, o cancelamento ou diminuição da fome, estado a que se denomina saciedade, é promovido, de maneira mais direta, durante ou imediatamente após uma refeição, pela distensão da parede gástrica, causada pelo alimento ingerido no estômago17. No intestino, a presença de proteínas18 e de gorduras libera o hormônio6 colecistocinina, que emite ao hipotálamo1, no cérebro19, outro sinal20 de saciedade.
Além desses, existem complexos sistemas biológicos, ainda não totalmente conhecidos, que controlam o apetite e, por consequência, a ingestão de alimentos. Entre eles, fatores neuronais, endócrinos e intestinais. O controle neuronal depende de uma série de sinais15 vindos de órgãos da periferia, que atuam sobre o sistema nervoso central21, e mais especificamente são regulados pela região hipotalâmica. A regulação do apetite também é feita no hipotálamo1 de maneira química. Do ponto de vista endócrino22, a homeostase energética (propriedade de um sistema orgânico de manter estável uma determinada condição) é regulada por um sistema neuro-humoral23 que controla o balanço energético. A insulina24, assim como a leptina5, atua nos receptores do hipotálamo1 também promovendo a sensação de saciedade.
Como dito antes, há fatores intestinais que também controlam a absorção de alimentos e contribuem para a modulação do apetite. Células8 secretoras de peptídeos, localizadas no trato gastrointestinal, agem sobre o sistema nervoso central21 regulando as sensações de fome e de saciedade.
Quais são as manifestações mais comuns do descontrole do apetite?
O apetite pode manifestar-se como diminuído ou aumentado, em relação àquilo que se consideraria normal, ou mesmo estar ausente.
À total falta de apetite chama-se inapetência25 ou anorexia3. Ela leva à perda de peso corporal, às vezes muito acentuada. Quando a anorexia3 se torna um sintoma26 muito ostensivo e sem motivação aparente, vários exames podem estar indicados para esclarecer a sua causa: enema27 de bário, análise sanguínea, tomografia computadorizada28, radiografias do esôfago29, exames da vesícula biliar30, ensaios hormonais, testes de função hepática31, renal32 e tireoidiana, ecografia33 abdominal e estudo endoscópico do sistema digestivo34 alto. Existe uma situação especial, chamada anorexia3 mental ou nervosa, em que as pessoas deixam de comer por um medo intenso de ganhar peso, mesmo quando estão abaixo do peso normal. Trata-se de um distúrbio da imagem corporal.
A diminuição parcial do apetite, sem perda total, é chamada de hiporexia35. Na prática, a diferenciação entre essas duas situações pode não ser fácil e, no uso popular, é comum falar-se de ambas como a pessoa estando “sem apetite”. As causas e as manifestações clínicas das duas condições são semelhantes, com diferenciação apenas de graus. O tratamento tanto para a anorexia3 como para a hiporexia35 depende de suas causas e é específico para cada uma delas.
Fala-se em hiperoexia quando há um aumento anormal do apetite, transitório ou permanente. Essa condição pode ocorrer devido à ansiedade, bulimia36, síndrome37 pré-menstrual, diabetes38, hipertireoidismo39, hipoglicemia40 e certos medicamentos. Também pode ocorrer em quadros psiquiátricos como a esquizofrenia41 ou a excitação maníaca, por exemplo.
Chama-se hiperfagia42 à vontade irresistível de comer, sem real sensação de fome, levando quase sempre a um excesso de peso. Ela pode afetar tanto mulheres quanto homens e se manifesta por ingestão indiscriminada de alimentos, um estado de extremo nervosismo, mal-estar, aumento da taxa de colesterol43 e risco aumentado de diabetes38.
Além das alterações quantitativas, o apetite sofre também alterações qualitativas, chamadas perversões do apetite. A principal delas é a alotriofagia, que consiste na apetência por substâncias não nutritivas e habitualmente não comestíveis.
Quais são as causas mais comuns do descontrole do apetite?
O apetite é controlado tanto por fatores físicos, quanto psicológicos e ambientais. Quase toda doença pode prejudicar o apetite, desde um simples resfriado a um estado canceroso, sem falar dos aspectos emocionais. Se a doença for curável, o apetite retornará assim que ela for sanada. Entre os motivos mais comuns de ausência ou diminuição do apetite estão as causas emocionais, as doenças infecciosas e degenerativas44 e o câncer45.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.