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Hormonioterapia antineoplásica: o que é? Como atua? Quais os principais tipos?

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O que são hormônios?

Hormônios são substâncias químicas específicas fabricadas pelas glândulas1 do sistema endócrino2 ou por neurônios3 especializados e liberados em pequenas doses na corrente sanguínea. Eles agem à distância regulando funções vitais como crescimento, desenvolvimento, reprodução4, processos metabólicos dentre outras funções. O termo hormônio5 provém do grego ormao, que significa evocar ou excitar e foi primeiramente utilizado, em 1905, pelo fisiologista inglês Ernest Staling. Ele definiu os hormônios como mensageiros químicos, carregados do órgão em que são produzidos para o órgão de destino pela corrente sanguínea.

O que é hormonioterapia antineoplásica?

A hormonioterapia antineoplásica é uma manipulação do sistema endócrino2 para tratar algumas neoplasias6 malignas e seu objetivo é impedir que os hormônios se liguem a seus receptores e atuem como fator de crescimento das células7 malignas. A hormonioterapia é a terapia mais eficiente para tratar os tumores malignos que tenham os chamados receptores hormonais8 para o estrogênio ou para a progesterona. Se houver a presença de receptores de um desses hormônios, a manipulação deles pode ser feita para tratar algumas neoplasias6, em qualquer fase da doença, mesmo no caso de doença metastática9.

A hormonioterapia pode estar indicada no tratamento pré-operatório com o intuito de diminuir o tamanho do tumor10 e de permitir uma cirurgia menor ou no tratamento pós-operatório com intuito de eliminar células7 que porventura estejam circulando ou tenham escapado à ressecção cirúrgica ou, ainda, na doença metastática9. Utilizada isoladamente a hormonioterapia não tem o objetivo de cura, mas quando associada ao tratamento cirúrgico, à quimioterapia11 e/ou à radioterapia12 tende a aumentar em muito as chances de cura.

De início, a hormonioterapia foi utilizada para tratar o câncer13 de mama14, mas foi sendo subsequentemente aplicada a outros tumores hormônio5-sensíveis, como os carcinomas de endométrio15, de próstata16 e certos tumores tireoidianos. Até poucos anos atrás a hormonioterapia era empírica, mas novos subsídios foram trazidos pela determinação da dosagem de receptores celulares específicos para estrogênio e progesterona em amostras tumorais, pelo conhecimento da relação entre positividade do receptor e resposta terapêutica17 e pelos avanços verificados no conhecimento das interações entre receptores hormonais8 e processos bioquímicos intracelulares. A hormonioterapia pode ser indicada também para tratamento paliativo18 de metástases19 ósseas de tumores hormônio5-sensíveis e até preventivamente para pessoas com alto risco de desenvolver câncer13. Os medicamentos utilizados agem suprimindo ou aumentando os níveis de hormônios circulantes ou bloqueando os receptores à ação deles. A supressão de hormônios pode ser realizada também por meio de procedimentos cirúrgicos ou com o emprego de radiações. Além da atuação antineoplásica, os hormônios podem ser usados com outras finalidades, tais como tratar enfermidades endócrinas, fazer reposições hormonais na menopausa20, conferir ao corpo certas características desejadas, como nas mudanças de sexo, por exemplo, ou para induzir o desenvolvimento de músculos21, como nos fisioculturistas.

Como se dá a atuação da hormonioterapia antineoplásica?

Algumas células7 do corpo humano22 e algumas células7 tumorais são dotadas de receptores de hormônios responsáveis por estimular o seu crescimento normal. Quando uma célula23 tumoral é dotada desses receptores, os hormônios atuam como estimulantes do crescimento das células7 doentes. A hormonioterapia faz o processo inverso e promove uma interferência na produção dos hormônios ou no efeito deles sobre os tumores, impedindo que recebam nutrientes e “matando-os de fome”. Em geral, a hormonioterapia antineoplásica é realizada juntamente com outras modalidades de terapia como cirurgia, quimioterapia11 e radioterapia12.

Quais são as principais hormonioterapias antineoplásicas usadas?

As hormonioterapias antineoplásicas podem ser medicamentosas ou ablativas24 e estas últimas podem ser cirúrgicas ou actínicas (por radiações). As hormonioterapias medicamentosas são feitas pela estimulação ou supressão dos hormônios ou dos seus efeitos. A próstata16, as mamas25, os ovários26 e o endométrio15 são exemplos de órgãos que dependem dos hormônios para crescer e funcionar. Por isso, a hormonioterapia é indicada principalmente para tumores nesses órgãos, embora possa ser usada também em outros. Dessa forma, podem ser indicados, em diversas circunstâncias, estrogênios e similares sintéticos, antiestrogênios, progestágenos e similares sintéticos, corticosteroides, inibidores das suprarrenais, androgênios, antiandrogênios, inibidores da ação hipofisária e hormônios tireoidianos. Como os hormônios usados no tratamento do câncer13 exercem seus efeitos citotóxicos27 tanto sobre as células7 tumorais como sobre as normais é inevitável a existência de efeitos colaterais28 indesejáveis.

Entre as hormonioterapias ablativas24 pode-se citar a ooforectomia29 (retirada dos ovários26), que pode ser utilizada nos casos de câncer13 de mama14. A forma cirúrgica deve ser preferida à actínica30, pois com o tempo, os ovários26 podem voltar a produzir hormônios. Obviamente, a ooforectomia29 é restrita às mulheres antes da menopausa20, devendo ser baseada, sempre que possível, nas dosagens positivas de receptores hormonais8. A orquiectomia31 (retirada dos testículos32) pode ser feita como alternativa de tratamento do carcinoma33 de próstata16. A adrenalectomia34 (retirada de uma ou de ambas as glândulas1 adrenais) pode ser indicada nos casos de metástases19 ósseas dolorosas, rebeldes a outros tratamentos e em mulheres na pré-menopausa20 com carcinoma33 de mama14, no entanto, deve ter indicação limitada, devido à alta taxa de mortalidade35 pós-operatória. A hipofisectomia (retirada da hipófise36), seja cirúrgica ou actínica30, só é indicada em mulheres com metástases19 ósseas dolorosas de câncer13 de mama14 rebeldes a outros métodos analgésicos37. É um método terapêutico quase que totalmente abandonado atualmente.

ABCMED, 2014. Hormonioterapia antineoplásica: o que é? Como atua? Quais os principais tipos?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/exames-e-procedimentos/587942/hormonioterapia-antineoplasica-o-que-e-como-atua-quais-os-principais-tipos.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Glândulas: Grupo de células que secreta substâncias. As glândulas endócrinas secretam hormônios e as glândulas exócrinas secretam saliva, enzimas e água.
2 Sistema Endócrino: Sistema de glândulas que liberam sua secreção (hormônios) diretamente no sistema circulatório. Em adição às GLÂNDULAS ENDÓCRINAS, o SISTEMA CROMAFIM e os SISTEMAS NEUROSSECRETORES estão inclusos.
3 Neurônios: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO. Sinônimos: Células Nervosas
4 Reprodução: 1. Função pela qual se perpetua a espécie dos seres vivos. 2. Ato ou efeito de reproduzir (-se). 3. Imitação de quadro, fotografia, gravura, etc.
5 Hormônio: Substância química produzida por uma parte do corpo e liberada no sangue para desencadear ou regular funções particulares do organismo. Por exemplo, a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que diz a outras células quando usar a glicose para energia. Hormônios sintéticos, usados como medicamentos, podem ser semelhantes ou diferentes daqueles produzidos pelo organismo.
6 Neoplasias: Termo que denomina um conjunto de doenças caracterizadas pelo crescimento anormal e em certas situações pela invasão de órgãos à distância (metástases). As neoplasias mais frequentes são as de mama, cólon, pele e pulmões.
7 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
8 Receptores hormonais: São proteínas que se ligam aos hormônios circulantes, mediando seus efeitos nas células. Os mais estudados em tumores de mama são os receptores de estrogênio e os receptores de progesterona, por exemplo.
9 Doença metastática: Câncer que se espalhou do seu local de origem a outras partes do organismo.
10 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
11 Quimioterapia: Método que utiliza compostos químicos, chamados quimioterápicos, no tratamento de doenças causadas por agentes biológicos. Quando aplicada ao câncer, a quimioterapia é chamada de quimioterapia antineoplásica ou quimioterapia antiblástica.
12 Radioterapia: Método que utiliza diversos tipos de radiação ionizante para tratamento de doenças oncológicas.
13 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
14 Mama: Em humanos, uma das regiões pareadas na porção anterior do TÓRAX. As mamas consistem das GLÂNDULAS MAMÁRIAS, PELE, MÚSCULOS, TECIDO ADIPOSO e os TECIDOS CONJUNTIVOS.
15 Endométrio: Membrana mucosa que reveste a cavidade uterina (responsável hormonalmente) durante o CICLO MENSTRUAL e GRAVIDEZ. O endométrio sofre transformações cíclicas que caracterizam a MENSTRUAÇÃO. Após FERTILIZAÇÃO bem sucedida, serve para sustentar o desenvolvimento do embrião.
16 Próstata: Glândula que (nos machos) circunda o colo da BEXIGA e da URETRA. Secreta uma substância que liquefaz o sêmem coagulado. Está situada na cavidade pélvica (atrás da parte inferior da SÍNFISE PÚBICA, acima da camada profunda do ligamento triangular) e está assentada sobre o RETO.
17 Terapêutica: Terapia, tratamento de doentes.
18 Paliativo: 1. Que ou o que tem a qualidade de acalmar, de abrandar temporariamente um mal (diz-se de medicamento ou tratamento); anódino. 2. Que serve para atenuar um mal ou protelar uma crise (diz-se de meio, iniciativa etc.).
19 Metástases: Formação de tecido tumoral, localizada em um lugar distante do sítio de origem. Por exemplo, pode se formar uma metástase no cérebro originário de um câncer no pulmão. Sua gravidade depende da localização e da resposta ao tratamento instaurado.
20 Menopausa: Estado fisiológico caracterizado pela interrupção dos ciclos menstruais normais, acompanhada de alterações hormonais em mulheres após os 45 anos.
21 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
22 Corpo humano: O corpo humano é a substância física ou estrutura total e material de cada homem. Ele divide-se em cabeça, pescoço, tronco e membros. A anatomia humana estuda as grandes estruturas e sistemas do corpo humano.
23 Célula: Unidade funcional básica de todo tecido, capaz de se duplicar (porém algumas células muito especializadas, como os neurônios, não conseguem se duplicar), trocar substâncias com o meio externo à célula, etc. Possui subestruturas (organelas) distintas como núcleo, parede celular, membrana celular, mitocôndrias, etc. que são as responsáveis pela sobrevivência da mesma.
24 Ablativas: 1. Em medicina, uma terapia ablativa é aquela que remove ou destrói a função de um órgão, por exemplo, a remoção dos ovários ou dos testículos ou a administração de alguns tipos de quimioterápicos que fazem com que estes órgãos parem de funcionar. 2. Aquilo ou o que tem que a faculdade de tirar, extrair, privar, cortar. 3. Em linguística, diz-se de ou caso da declinação latina (ou de outras línguas) em que ficam as palavras que indicam circunstâncias (de instrumento, afastamento, origem, matéria etc.).
25 Mamas: Em humanos, uma das regiões pareadas na porção anterior do TÓRAX. As mamas consistem das GLÂNDULAS MAMÁRIAS, PELE, MÚSCULOS, TECIDO ADIPOSO e os TECIDOS CONJUNTIVOS.
26 Ovários: São órgãos pares com aproximadamente 3cm de comprimento, 2cm de largura e 1,5cm de espessura cada um. Eles estão presos ao útero e à cavidade pelvina por meio de ligamentos. Na puberdade, os ovários começam a secretar os hormônios sexuais, estrógeno e progesterona. As células dos folículos maduros secretam estrógeno, enquanto o corpo lúteo produz grandes quantidades de progesterona e pouco estrógeno.
27 Citotóxicos: Diz-se das substâncias que são tóxicas às células ou que impedem o crescimento de um tecido celular.
28 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
29 Ooforectomia: Ablação ou retirada de um ou dos dois ovários.
30 Actínica: Referente às radiações capazes de ativar transformações químicas em certas substâncias (por exemplo, a luz do sol ao incidir sobre o tecido humano ou vegetal).
31 Orquiectomia: Remoção cirúrgica do testículo.
32 Testículos: Os testículos são as gônadas sexuais masculinas que produzem as células de fecundação ou espermatozóides. Nos mamíferos ocorrem aos pares e são protegidos fora do corpo por uma bolsa chamada escroto. Têm função de glândula produzindo hormônios masculinos.
33 Carcinoma: Tumor maligno ou câncer, derivado do tecido epitelial.
34 Adrenalectomia: Ressecção cirúrgica de uma ou de ambas as glândulas adrenais, também conhecidas como suprarrenais.
35 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
36 Hipófise:
37 Analgésicos: Grupo de medicamentos usados para aliviar a dor. As drogas analgésicas incluem os antiinflamatórios não-esteróides (AINE), tais como os salicilatos, drogas narcóticas como a morfina e drogas sintéticas com propriedades narcóticas, como o tramadol.
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