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A gravidez desejada e a não desejada

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Algumas vezes a gravidez1 faz parte de um bem elaborado planejamento familiar e ocorre no momento em que é desejada. A maioria delas, no entanto, acontece de forma ou em ocasiões não planejadas. Uma parte dessas acaba sendo assumida e leva a nascimentos felizes, para mães e bebês2, mas outras são persistentemente rejeitadas, resultando em abortamentos, relações mãe-filho conflituosas e abandono de recém-nascidos.

A gravidez1 não é somente o resultado de um ato voluntário, mas corresponde também a um imperativo da natureza. Todos os seres humanos, homens ou mulheres, parecem “condenados” a se reproduzirem e muito poucos deixam de fazê-lo. Se desse pequeno grupo de pessoas retirarmos aquelas que têm impedimentos orgânicos para procriar, restarão apenas poucas exceções que não o fazem. A gravidez1 desejada apenas dá curso e recobre com um manto de voluntarismo o que parece ser de fato, um mandato natural. O “prazer pelo prazer” somente, corresponderia a um luxo de que a natureza não possui outros exemplos semelhantes. Ele leva a uma finalidade natural de propiciar a concepção3, que às vezes se impõe mesmo contra a vontade do indivíduo.

Cada relação sexual leva potencialmente à gravidez1 e para que ela não aconteça têm de ser tomadas medidas anticonceptivas eficazes. Embora nos dias atuais a gravidez1 seja teoricamente fácil de evitar, continua emocionalmente sendo de muito difícil evitação. Daí que os cuidados para não engravidar têm de ir além dos simples métodos anticonceptivos. A tendência a engravidar, coisa que toda mulher (e todo homem) no fundo desejam inconscientemente, pode esconder-se sob fatos aparentemente razoáveis como esquecer o anticoncepcional ou acreditar que se está fora do período fértil. Quase se pode dizer, então, que muitas pessoas engravidam “sem querer querendo”, se atribuirmos à primeira vontade um aspecto voluntário, consciente, e à segunda um aspecto inconsciente, involuntário. Parece haver entre os homens uma verdadeira “compulsão à procriação” que, de fato, acontece também entre todos os seres vivos da natureza. Ela muitas vezes trabalha independentemente da vontade e às vezes contra ela.

Muitas pesquisas mostram um grande número de gravidezes entre adolescentes jovens. Segundo o Jornal do Brasil (1990), em grandes centros urbanos o número de abortamentos já chega a superar o de nascimentos. A isso se deve somar ainda as gravidezes não desejadas, mas posteriormente assumidas, para concluir-se que engravida-se mais “sem querer” que “por querer”.

O fato de uma gravidez1 ser ou não assumida tem importantes repercussões emocionais para a mãe e para a posterior relação mãe-bebê, com consequências para a formação emocional desse. Além das reações emocionais, a gravidez1 não desejada impõe uma intensa reformulação na vida prática das pessoas. Quando acontece dentro de uma família regularmente constituída ela pode ser mais bem assimilada, mas se ocorre com mães e pais solteiros (sobretudo, adolescentes), como é muito comum, implica numa mudança mais radical e difícil: o trabalho e/ou o estudo por vezes tem de ser abandonados, a criança tem de ser assistida pelos avós porque os pais ainda não têm condições materiais e emocionais de criá-la, etc.

Uma gravidez1 desejada tem mais chance de evoluir sem transtornos físicos que outra não desejada e corresponde, muitas vezes, “ao melhor período” da vida de uma mulher. Ao contrário, uma gravidez1 não desejada é um dos maiores revezes que uma mulher pode enfrentar. Da mesma forma, o parto geralmente é mais normal e sem complicações se a gravidez1 foi desejada.

A gravidez1 entre adolescentes no mundo e no Brasil

O início mais precoce da vida sexual tem trazido como consequência um maior número de gravidezes não desejadas entre adolescentes. Além de representarem um risco especial à saúde4 física e mental da adolescente e ao desenvolvimento do bebê, elas incidem num período da vida que normalmente deveria estar sendo dedicado a outros objetivos: estudos, iniciação profissional, terminação da formação físico-mental, estabelecimento de uma rede de relações sociais, etc.

O adolescente, em geral, não está preparado nem emocional nem financeiramente para arcar com as responsabilidades decorrentes de uma gravidez1 e ela acaba afetando não só ao jovem, mas a toda sua família.

A gravidez1 não desejada ocorre mais na adolescência que em outras fases da vida por alguns motivos próprios a essa etapa:

  • Menores informações e experiências sobre a sexualidade.
  • Tendência a agir impulsivamente.
  • Maior potencialidade reprodutiva.
  • Peculiar sentimento de estar imune a todos os perigos.
  • Rebeldia natural contra as regras e valores sociais.
  • Consolidação da auto-identidade.
  • Mudanças emocionais e intelectuais importantes.
  • Atuação mais forte da “compulsão à procriação”.

Em algumas partes do mundo o casamento ocorre muito cedo e mesmo gestações e partos desejados, e também os não desejados, produzem sérias lesões5 ou causam a morte de um milhão de adolescentes por ano. Globalmente, uma em cada cinco meninas foi mãe antes dos 18 anos e a cada ano 50 mil adolescentes e jovens morrem durante a gravidez1 ou o parto. O risco de morte para recém-nascidos aumenta em 60% se a mãe tem menos de 18 anos. No Brasil, mais comumente a gravidez1 na adolescência ocorre entre meninas não casadas e, embora ela pareça estar em queda, os números são ainda muito altos. Segundo uma estatística do SUS de 2007, os partos de adolescentes de 15 a 19 anos representam 23% do total e de adolescentes entre 10 e 14 anos representam 1%. 

ABCMED, 2013. A gravidez desejada e a não desejada. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/gravidez/336034/a-gravidez-desejada-e-a-nao-desejada.htm>. Acesso em: 5 out. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
2 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
3 Concepção: O início da gravidez.
4 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
5 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
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