Grupos sanguíneos: quais são? Como são a compatibilidade e a incompatibilidade entre sangues de tipos diferentes?
O que são grupos sanguíneos?
Até fins do século XIX ainda não se sabia porque alguns doentes morriam após uma transfusão1 de sangue2, enquanto outros não. No início do século XX (1900 - 1901) o cientista austríaco Karl Landsteiner demonstrou que nem todos os sangues são bioquimicamente iguais, há diferenças entre o sangue2 de diversos indivíduos. Ele verificou que certos tipos de sangue2 provocavam uma aglutinação ou hemólise3 (dissolução) das hemácias4 dos sangues que recebiam a transfusão1, enquanto outros tipos não o faziam. Continuando suas pesquisas, verificou que algumas hemácias4 possuem certos tipos de antígenos5 aderidos a suas superfícies, os quais atraem anticorpos6 específicos que as destrói. (Antígenos5 são substâncias que o organismo entende como ”invasoras” e anticorpos6 são proteínas7 encontradas no plasma sanguíneo8 que têm a função de neutralizar ou destruir essas substâncias). A isso se deviam as mortes ou não, observadas após algumas transfusões. Ele descobriu dois tipos de antígenos5 carregados pelas hemácias4, gerando tipos distintos de sangue2, a que ele denominou A e B. Ao sangue2 cujas hemácias4 não carregavam nenhum antígeno9 Landsteiner denominou “zero”, cuja grafia acabou sendo conhecida como sangue2 tipo O. Cada tipo sanguíneo carrega anticorpos6 contra antígenos5 que o indivíduo NÃO possui e, assim, não lhe causa problemas. É comum usar-se os termos aglutininas para se referir aos anticorpos6 e aglutinógenos para se referir os antígenos5. Em 1930, Landsteiner ganhou o Prêmio Nobel de Medicina por essa descoberta.
Assim, reconheceu os seguintes tipos sanguíneos:
- Sangue2 tipo A, cujas hemácias4 possuem o antígeno9 A e não podem, por isso, possuir o anticorpo10 A, embora possuam o anticorpo10 anti-B.
- Sangue2 tipo B, cujas hemácias4 possuem o antígeno9 B e não podem, por isso, possuir o anticorpo10 B, embora possuam o anticorpo10 anti-A.
- Sangue2 tipo AB, cujas hemácias4 possuem os antígenos5 A e B e não podem, por isso, possuir anticorpos6 anti-A nem anti-B.
- Sangue2 tipo O, cujas hemácias4 não possuem antígenos5 e podem, pois, possuir anticorpos6 anti-A ou anti-B.
Os tipos sanguíneos do sistema ABO de classificação são transmitidos geneticamente e determinados por dois alelos11, um deles recebido do pai e o outro da mãe, podendo cada um ser dominante e outro recessivo. Isso determina o tipo de sangue2 herdado pelo filho, segundo esse método classificatório.
Outro fator antigênico12 importante, independente e diferente do sistema ABO, que também tipifica o sangue2, foi isolado no macaco Rhesus, denominado fator Rh e marcado com os sinais13 positivo (+) ou negativo (-), conforme esteja ou não presente nos humanos. Assim, uma pessoa que tenha o antígeno9 Rh, NÃO POSSUI anticorpos6 anti-Rh; e uma pessoa Rh negativa POSSUI anticorpos6 anti-Rh. Sendo assim, pessoas Rh + podem receber transfusões de outras Rh + ou Rh -. Já os portadores de Rh - só podem receber transfusão1 do seu tipo, caso contrário haverá risco de aglutinação sanguínea e hemólise3, pois haverá sensibilização e formação de anticorpos6 anti-Rh.
Os sistemas ABO e Rh são os dois principais sistemas relacionados aos temidos problemas com as transfusões. A associação desses dois sistemas criou os tipos sanguíneos A+, A-, B+, B-, AB+, AB-, O+ e O-, em que as notações positivo (+) ou negativo (-) indicam a presença ou não do antígeno9 Rh, os quais são os principais tipos tomados em consideração quando se trata de transfusão1 de sangue2.
Na população mundial a grande maioria das pessoas pertence aos grupos A+ e O+ e uma menor percentagem é dividida nos outros tipos. Em geral, se os indivíduos Rh- não possuem aglutininas anti-Rh, mas se receberem sangue2 Rh positivo, passam a produzi-las e elas então danificarão as hemácias4. Como a produção dessas aglutininas ocorre de forma relativamente lenta, na primeira transfusão1 de sangue2 de um doador Rh+ para um receptor Rh-, geralmente não haverá grandes problemas, mas, numa segunda transfusão1 poderá haver considerável aglutinação das hemácias4 doadas. O mesmo acontece na gestação, se o filho for Rh+ e a mãe Rh-. A Doença Hemolítica do Recém-nascido14 é uma complicação gerada por essa incompatibilidade sanguínea geralmente (mas nem sempre) causada por pelo fator Rh+ do pai e da criança e o Rh- da mãe. Os antígenos5 do filho podem atingir a mãe, através da placenta e ela passa então a fabricar anticorpos6 anti-Rh que atingirão a criança. Como esse processo é lento, é possível não haver problemas no primeiro nascimento, mas já a partir do segundo podem ser necessárias algumas intervenções médicas para evitar problemas graves.
A determinação do grupo sanguíneo de uma pessoa não só tem várias aplicações na medicina, como ajuda a antropologia15 no estudo das diversas raças e suas inter-relações evolutivas e a medicina legal a determinar, por exemplo, o tipo sanguíneo de um criminoso a partir de material colhido na cena do crime. Além disso, dá uma ajuda relativa na determinação de paternidade, porque a análise dos tipos sanguíneos do pai e do filho permite afirmar que tal indivíduo NÃO É o pai de tal filho embora não permita, no sentido contrário, afirmar que tal indivíduo É o pai de tal filho.
Como se transmitem os grupos sanguíneos?
Os grupos sanguíneos são transmitidos geneticamente, por genes dominantes e recessivos, segundo métodos complicados, só dominados pelos especialistas no assunto. Eis algumas das múltiplas possiblidades, a título de exemplos: se mãe e pai são do tipo A, com dois genes dominantes para o tipo A, o descendente obrigatoriamente será também do tipo A. Se um dos genitores for do tipo A, também com dois genes dominantes para o tipo A, e o outro for do tipo O, ainda assim o descendente será do tipo A. O mesmo acontece com o tipo B, se tiver dois genes dominantes para o tipo B. Finalmente, se o descendente for filho de pais (mãe e pai) do tipo O, terá necessariamente o tipo O.
Compatibilidade e incompatibilidade dos grupos sanguíneos
Para realizar-se uma transfusão1 de sangue2 é necessário que se conheça o tipo sanguíneo ABO e Rh do receptor e do doador, uma vez que em casos de incompatibilidade pode haver aglutinação ou hemólise3 do sangue2, podendo levar à morte. Mas como há outros fatores que influenciam nas transfusões, um teste de compatibilidade sanguínea é sempre recomendável antes de qualquer transfusão1. Por exemplo, associando a classificação ABO com o fator Rh, temos os oito tipos de sangue2 citados: A+, A-, B+, B-, AB+, AB-, O+ e O-. Os tipos Rh+ não devem doar para tipos Rh-. Destes, apenas o tipo O- é um doador universal, isto é, pode doar para pessoas de qualquer outro tipo sanguíneo e só os tipos AB+ podem receber sangue2 de quaisquer outros tipos sanguíneos. Devido à combinação dos diversos tipos de antígenos5 e anticorpos6 tem-se o seguinte quadro, segundo a Fundação Pró-Sangue2 de São Paulo:
Tipo sanguíneo: | Pode receber sangue2 de indivíduos: | Pode doar sangue2 para indivíduos: |
A+ | A+, A-, O+ e O- | A+ e AB+ |
A- | A- e O- | A+, A-, AB+ e AB- |
B+ | B+, B-, O+ e O- | B+ e AB+ |
B- | B- e O- | B+, B-, AB+ e AB- |
AB+ | A+, A-, B+, B-, AB+, AB-, O+ e O- | AB+ |
AB- | A-, B-, AB- e O- | AB+ e AB- |
O+ | O+ e O- | A+, B+, AB+ e O+ |
O- | O- | A+, A-, B+, B-, AB+, AB-, O+ e O- |
Se a transfusão1 for incompatível, o sangue2 do doador será aglutinado pelo do receptor e poderá causar obstruções de vasos sanguíneos16. Por outro lado, os glóbulos brancos do receptor destroem as hemácias4 do doador que seriam reconhecidas pelas células17 de defesa como “invasoras”. Preferentemente, a transfusão1 deve ser feita com os sangues do doador e do receptor tendo a mesma tipagem ABO e Rh, só se usando grupos compatíveis diferentes se isso não for possível.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.