Diferenças entre fome e vontade de comer - quais são os mecanismos fisiológicos e psicológicos envolvidos?
Diferenças entre fome e vontade de comer
Fome não é a mesma coisa que vontade de comer, embora as duas muitas vezes andem juntas e não seja fácil separar uma da outra. Só conceitualmente elas existem como coisas distintas; na prática estão quase sempre amalgamadas. Teoricamente, fome é a sinalização de uma necessidade puramente biológica de receber alimentos necessários e suficientes para cobrir os requerimentos da máquina orgânica. No entanto, a vontade de comer sempre reveste o sentimento de fome com fatores psicológicos, sociais e culturais e leva o desejo de alimentos para além das necessidades puramente biológicas.
É fácil notar que normalmente "o alimentar" acha-se pesadamente influenciado por fatores não biológicos: hábitos pessoais ou culturais, escolha de alimentos, horários, aparência dos alimentos, ambiente, estar só ou acompanhado, etc. Talvez seja nos animais abaixo dos humanos, onde todas essas influências estão ausentes, que a fome esteja mais perto de se manifestar em sua forma pura. Nos humanos, só em situações especiais, de extrema privação de alimentos, a fome predomina sobre a vontade de comer.
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Quais são os mecanismos fisiológicos e psicológicos da fome e da vontade de comer?
A fome é um fenômeno do corpo e qualquer alimento disponível poderia fazê-la desaparecer. Geralmente, ela aparece por volta de 3 ou 4 horas após a última refeição. Organicamente, ela é controlada pelo hormônio3 grelina, presente no estômago4. É esse hormônio3 que sinaliza para o cérebro5 que o corpo precisa de alimento, ou seja, que estamos com fome. Assim que o alimento chega ao estômago4, a grelina baixa.
No intestino, a liberação de outro hormônio3 sinaliza ao cérebro5 que estamos satisfeitos. Demora em torno de 20 minutos entre o alimento na boca6 e a liberação desse hormônio3 para o cérebro5 entender que não precisamos de mais comida. Esse estado é referido como estar a pessoa saciada ou satisfeita, isto é, o estado de necessidade foi eliminado.
Do ponto de vista psicológico, comer sem ter fome e/ou vontade de comer é um ato desagradável. Os psicólogos costumam considerar que o prazer advém da eliminação do estado de necessidade e não da satisfação em si. A ser verdadeiro, quanto maior a necessidade de alimento, maior o prazer ao obtê-lo.
O que é fome?
A fome resulta da necessidade fisiológica7 do organismo de obter alimentos (combustíveis) para manter as funções normais do corpo. Quando essa necessidade se instala, principalmente porque a taxa de açúcar8 no sangue9 fica baixa, o cérebro5 entende que o combustível para manutenção das funções vitais está acabando e envia sinais10 ao corpo de que precisa de mais alimentos.
Esses sinais10 e sintomas11 físicos são bem definidos: além da sensação peculiar de fome, o estômago4 ronca e pode ocorrer dor de cabeça12, que só passa depois que a pessoa comer algo. Nesse estrito sentido, a fome exerce um controle perfeito sobre as necessidades biológicas de alimentos necessários para manter a homeostase corporal.
No entanto, a vontade de comer e, efetivamente, o comer, dependem de outros fatores que agem sozinhos ou associadamente com a fome. Ou seja, uma pessoa come não só quando sente fome, mas também por outros motivos, os quais, inclusive, podem ser mais intensos que a própria fome.
Salvo em condições excepcionais, a fome nunca atua sozinha nos indivíduos humanos. O animal com fome está automaticamente à procura de comida, come a primeira coisa comestível que encontrar, sem quaisquer outras considerações, e se recusa a comer se estiver saciado. O homem, ao contrário, em condições ordinárias, pode estar executando outras tarefas, mesmo estando com fome, procura algo específico para comer, às vezes desprezando a primeira ou primeiras coisas comestíveis que encontra, leva em conta questões estéticas e higiênicas em relação ao alimento e muitas vezes come por razões sociais, mesmo não estando com fome.
“Fome” é um termo que tem uma conotação negativa e ela em geral é tida como algo que deve ser eliminado o mais rapidamente possível. No entanto, quando há alimentos disponíveis, a fome é uma coisa boa. Ela torna os alimentos mais saborosos. Muitas vezes ouve-se as pessoas dizerem “não sei se estava mesmo muito saboroso ou se a minha fome é que era muito grande”. Os franceses dizem apropriadamente: “chegar à mesa com um bom apetite é um ingrediente essencial para a boa comida”.
Mas é a fome que deve ser atendida, não a simples vontade de comer. O organismo deve trabalhar na medida de suas necessidades, mas sem excessos. Permitir que uma criança fique com fome não é uma maldade, mas pode ser um presente: além de tornar os alimentos mais saborosos, a fome ajuda a criança a ficar mais disposta a experimentar novos alimentos.
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O que é vontade de comer?
A vontade de comer depende de outros fatores, como hábitos sociais, sentimento de vazio, ansiedade, depressão, higidez15 ou doença física, oferta ou restrição de alimentos, comemorações, etc.
Desde bebê uma pessoa é alimentada em função de outros fatores que não simplesmente a fome: o entendimento da mãe sobre as necessidades alimentares do bebê, as regras de horários e quantidades determinadas pelo pediatra, a necessidade de acalmar um bebê chorão, mesmo que o choro tenha outros motivos que não a fome, a comparação com outros lactentes16, com certo desprezo pela individualidade meramente biológica do bebê, etc.
No adulto, o comer sofre influência de fatores como disponibilidade mais ou menos abundante de alimentos, a aparência deles, a associação com motivos comemorativos, festivos ou negociais, estar ou não acompanhado, etc. Além disso, come-se também por prazer e, surgido não se sabe bem de onde, as pessoas muitas vezes sentem desejos alimentares específicos e buscam atendê-los, mesmo que lhe custem sacrifícios.
No entanto, esses demais fatores que revestem ou se associam à fome são o que vão transformando o bebê de ser inteiramente biológico em um indivíduo social. É através desses fatores que a sociedade acaba por suplantar a natureza e ajuda a converter o bebê de ser natural em indivíduo social.
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As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.