Distúrbio comportamental do sono REM
O que é o sono REM?
O sono normal passa por quatro fases, eletroencefalograficamente distintas:
- Na fase 1 ocorre a transição entre a vigília e o sono. Ocupa 10% da noite.
- Na fase 2 os ritmos cardíacos e respiratórios diminuem, os músculos1 relaxam e a temperatura corporal baixa. É a fase do sono leve. Abrange 45% da noite.
- Na fase 3 todo o corpo funciona mais lentamente e o metabolismo2 desacelera muito. Tanto o coração3 quanto a respiração passam a funcionar num ritmo bem mais lento e mais leve.
- A fase REM (do inglês “Rapid Eye Movement” - movimento rápido dos olhos4) é a fase do sono profundo. É nesta fase em que ocorrem os sonhos, a pessoa tem descargas de adrenalina5 e há picos de batimentos cardíacos e pressão arterial6. Abrange 20% da noite e durante ela costumam ocorrer certos distúrbios específicos.
O que é distúrbio comportamental do sono REM?
O distúrbio comportamental do sono REM é uma manifestação na qual o indivíduo atua fisicamente em sonhos vívidos, muitas vezes desagradáveis, com sons vocais e movimentos repentinos e frequentemente violentos de braços e pernas. Em razão disso, o distúrbio comportamental do sono REM é chamado também de encenação de sonhos.
Essa ocorrência é muito diferente do normal, porque geralmente a pessoa não se move durante o sono REM, embora essa seja a fase de maior incidência7 de sonhos, principalmente durante a segunda metade da noite.
O início do distúrbio de comportamento do sono REM é gradual e pode piorar com o tempo. Muitas vezes, está associado a outras condições neurológicas, como demência8 com corpos de Lewy, doença de Parkinson9 ou atrofia10 de múltiplos sistemas, e precede a essas condições.
Veja mais sobre "Ciclos do sono", "Parassonias", "Distúrbios do sono em idosos", "Hipersonia" e "Pavor noturno".
Quais são as causas do distúrbio comportamental do sono REM?
O distúrbio comportamental do sono REM ocorre em menos de 1% das pessoas. Não se conhece inteiramente as causas porque ele acontece, no entanto, alguns fatores de risco são sabidos:
- homens de mais de 50 anos (embora mais raramente possa acontecer também em mulheres, em adultos jovens e mesmo em crianças);
- ter um problema neurodegenerativo, como doença de Parkinson9, atrofia10 de múltiplos sistemas, acidente vascular cerebral11 ou demência8 com corpos de Lewy;
- ter narcolepsia;
- tomar certos medicamentos, especialmente os antidepressivos mais novos;
- exposição ocupacional a pesticidas;
- tabagismo;
- traumatismo12 craniano anterior.
Qual é o substrato fisiopatológico do distúrbio comportamental do sono REM?
Normalmente, durante o sono REM, a maioria dos músculos1 do corpo experimenta uma paralisia13 temporária enquanto o cérebro14 está ativo e sonhando. Isso permite à pessoa sonhar com tranquilidade e segurança.
Para indivíduos com esse distúrbio, no entanto, a paralisia13 não ocorre durante o estágio REM e, em vez disso, o corpo e a voz deles “atuam” seus sonhos enquanto a pessoa permanece dormindo. Geralmente isso começa após os 50 anos de idade e está associado a outras doenças neurodegenerativas.
Quais são as características do distúrbio comportamental do sono REM?
O sono REM começa cerca de 90 minutos depois que a pessoa adormece e seus estágios ficam mais longos na segunda metade da noite. Por esse motivo, episódios de distúrbio de comportamento do sono REM frequentemente surgem mais tarde no período de sono.
O distúrbio de comportamento do sono REM é uma condição caracterizada por movimentos corporais repentinos e vocalizações enquanto uma pessoa tem sonhos vívidos durante essa fase do sono. Os sintomas15 costumam piorar com o tempo.
Como durante o sono REM o corpo experimenta paralisia13 muscular, enquanto o cérebro14 mostra atividade elétrica semelhante à vigília, ele às vezes é chamado de sono paradoxal16. A paralisia13 temporária do sono REM envolve a maioria dos músculos1 esqueléticos e exclui os músculos1 que atuam na respiração, que ajudam na digestão17 e também alguns músculos1 dos olhos4.
Os sonhos associados ao distúrbio comportamental do sono REM costumam ser intensos e assustadores. Os transtornos de comportamentos associados a eles podem ir desde pequenos espasmos18 musculares e sono agitado a gritos altos, socos, chutes, agarrar o parceiro de cama ou pular da cama. Os indivíduos podem sonhar que estão sendo perseguidos ou atacados e, sem saber, podem encenar na vida real o que imaginam ser sua defesa.
Esses episódios podem ocorrer uma ou várias vezes durante uma noite e as pessoas podem tê-los algumas vezes por ano ou todas as noites, e eles podem se desenvolver repentina ou gradualmente, e geralmente pioram com o tempo.
As pessoas afetadas não têm ciência desses comportamentos e, de fato, só descobrem que têm esse transtorno quando são informadas por um parceiro de cama ou colega de quarto. Quando uma pessoa está tendo um episódio, ela pode ser acordada com relativa facilidade e então se mostra alerta, coerente e pode se lembrar do conteúdo do sonho.
Como o médico trata o distúrbio comportamental do sono REM?
O tratamento para o distúrbio de comportamento do sono REM deve ser individualizado e pode envolver uma combinação de mudanças no estilo de vida, medicação e técnicas de prevenção de lesões19.
As mudanças no estilo de vida visam evitar gatilhos que podem disparar o fenômeno, como uso de álcool ou medicamentos controlados, definir um horário consistente de sono, praticar a higiene do sono, etc.
Em se tratando de remédios, a melatonina deve ser o medicamento preferido. O clonazepam também tem se mostrado eficaz, mas pode causar alguns efeitos colaterais20 indesejáveis.
Quanto às técnicas de prevenção de lesões19, recomenda-se:
- remover do quarto objetos pontiagudos e armas de fogo;
- colocar acolchoamento no chão ao redor da cama ou instalar grades acolchoadas na lateral da cama;
- colocar o colchão no chão;
- mover móveis e a bagunça para longe da cama;
- preencher os cantos dos móveis no quarto;
- proteger as janelas do quarto;
- dormir em cama separada de um eventual parceiro, até que os sintomas15 sejam bem tratados.
Leia também sobre "Insônia - como dormir melhor", "Os sonhos e suas interpretações", "Sonambulismo" e "Usos e abusos dos tranquilizantes".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Sleep Foudation, da Cleveland Clinic e da U.S. National Library of Medicine.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.