Atualização sobre sífilis
O que é sífilis1?
A sífilis1, ou lues, é uma doença infectocontagiosa2, sexualmente transmissível, causada por uma bactéria3. A infecção4 teve um rápido e significativo decréscimo depois da descoberta e uso da penicilina nos anos 40 do século passado, mas ultimamente vem assumindo um preocupante crescimento no Brasil e no mundo inteiro. Esse aumento tem alarmado os médicos e os serviços públicos de saúde5 no Brasil. Os casos de sífilis1 adquirida que eram 3.935 em 2010, passaram para 158.051 em 2018!
Esse grande aumento dos casos de sífilis1 deve-se a alguns fatores:
- A resistências das pessoas (jovens, principalmente) de usarem camisinha nas relações sexuais
- Maior promiscuidade de relações sexuais
- Desaparecimento espontâneo das lesões6 iniciais, dando a impressão de que o indivíduo está curado
- Os mais jovens não presenciaram os flagelos7 antigos da sífilis1 e de seus tratamentos
- O fácil tratamento atual encoraja as pessoas a correrem o risco de contrair a doença
- A semelhança dos seus sinais8 e sintomas9 com outras enfermidades, o que dificulta o seu reconhecimento
Quais são as causas da sífilis1?
A sífilis1 é uma infecção4 bacteriana causada pelo Treponema pallidum. A transmissão dessa bactéria3 geralmente se dá por relações sexuais não protegidas (sem o uso de camisinha), através de contado direto com as lesões6 do portador que contém o germe10, e pode também ocorrer de forma congênita11, por transmissão da mãe contaminada ao feto12, durante a gravidez13 ou o parto, por contato cutâneo14 direto ou por via transplacentária15.
Leia sobre "Doenças sexualmente transmissíveis", "Cancro mole e cancro duro", "HPV e verrugas genitais" e "Vulvovaginite16".
Qual é o substrato fisiopatológico da sífilis1?
O Treponema pallidum é uma espiroqueta17 que não pode sobreviver muito tempo fora do corpo humano18. Na sífilis1 sexualmente adquirida, ele entra no corpo pelas mucosas19 ou pela pele20, alcança os linfonodos21 regionais dentro de horas e rapidamente se dissemina para todo o organismo.
A fisiopatologia22 da doença decorre da interação direta da bactéria3 com os tecidos afetados, com indução de processo inflamatório inicialmente agudo23 que pode se tornar crônico24 com a evolução do quadro.
Quais são as características clínicas da sífilis1?
A sífilis1 pode se manifestar em quatro estágios diferentes: (1) primário, (2) secundário, (3) latente e (4) terciário.
Sífilis1 primária
Se caracteriza por uma ferida no local de entrada da bactéria3 (pênis25, vulva26, vagina27, colo uterino28, ânus29 ou boca30). Classicamente, trata-se de uma única úlcera31 de pele20, firme, indolor e que não coça, com uma base limpa e bordas afiadas com aproximadamente 0,3 a 3,0 centímetros de tamanho. Aparece entre 10 e 90 dias (mais frequentemente entre a 2ª e 6ª semanas) após o contágio32 e desaparece sozinha, independentemente de tratamento. Essas lesões6 contêm grande número da bactéria3 causadora e os linfonodos21 regionais frequentemente (80%) são também afetados.
Sífilis1 secundária
Aparece entre seis semanas e seis meses do aparecimento e cicatrização da lesão33 (ferida) inicial. Sua apresentação é muito variável e o quadro clínico pode se assemelhar a diversas outras patologias. Por isso, alguns falam desse estágio como sendo “o grande imitador”. Mais comumente, os sintomas9 envolvem a pele20, as membranas mucosas19 e os linfonodos21. Podem ocorrer manchas no corpo, que geralmente não coçam, incluindo a palma das mãos34 e a planta dos pés, as quais se fazem acompanhar de febre35, mal-estar, dor de cabeça36, perda de peso, queda de cabelos e ínguas pelo corpo. As erupções cutâneas37 no tronco e nas extremidades podem se tornar pápulas38 pustulosas. Podem ainda se formar lesões6 planas, largas, esbranquiçadas, semelhantes a verrugas nas membranas mucosas19. Mais raramente, pode haver inflamação39 do fígado40, doença renal41, inflamação39 das articulações42, periostite, inflamação39 do nervo óptico, uveíte43 e ceratite intersticial44. Os sintomas9 agudos remitem após cerca de três a seis semanas e muitas pessoas que apresentam sífilis1 secundária não relatam ter tido anteriormente as lesões6 típicas da sífilis1 primária. As lesões6 da sífilis1 secundária também abrigam grande número de bactérias e são, pois, infecciosas.
Sífilis1 latente
Tem prova sorológica da infecção4, sem sinais8 ou sintomas9 de doença. Sua duração é variável, quase sempre sendo interrompida pelo surgimento de sinais8 e sintomas9 da forma secundária ou terciária. A sífilis1 latente é dividida em (a) estágios latentes iniciais, com menos de 2 anos após a infecção4 original e ainda infecciosa e (b) estágios latentes tardios, não é mais tão infecciosa quanto na fase inicial. Essa fase pode durar de 2 a 40 anos (média de 15 anos).
Sífilis1 terciária
Surge depois desses anos, principalmente com sinais8 e sintomas9 constantes principalmente de lesões6 cutâneas37, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte. Nesse estágio, a doença não é mais infecciosa. Ela pode ocorrer em três formas diferentes: sífilis1 gengival, neurossífilis tardia e sífilis1 cardiovascular. Sem tratamento, um terço das pessoas infectadas desenvolve doença terciária. Esse estágio é caracterizado pela formação de “gomas” crônicas, que são bolas de inflamação39 macias, semelhantes a tumor45, que podem variar consideravelmente em tamanho e que afetam a pele20, os ossos e o fígado40, mas podem ocorrer em qualquer outro lugar.
A manifestação mais comum da sífilis1 cardiovascular é uma aortite46 sifilítica, que pode resultar na formação de aneurisma47 da aorta48.
A neurossífilis é uma infecção4 que envolve o sistema nervoso central49. Pode ocorrer precocemente, na forma de meningite50 sifilítica, ou tardiamente, como neurossífilis meningovascular ou neurossífilis parenquimatosa, esta última incluindo paralisia51 geral ou tabes dorsalis. A neurossífilis meningovascular envolve a inflamação39 das artérias52 pequenas e médias do sistema nervoso central49 e é caracterizada por acidente vascular cerebral53, paralisia51 dos nervos cranianos e inflamação39 da medula espinhal54. A neurossífilis parenquimatosa pode se desenvolver décadas após a infecção4 original e inclui 2 tipos de apresentação: paralisia51 geral e tabes dorsalis. A paralisia51 geral (ou paresia55 geral) é uma forma de demência56, com alterações de personalidade, delírios, convulsões, psicose57 e depressão. A tabes dorsalis é caracterizada por instabilidade de marcha, dores agudas no tronco e nos membros e sensação posicional prejudicada dos membros.
Sífilis1 congênita11
A sífilis1 congênita11 é aquela transmitida pela mãe ao bebê, seja durante a gravidez13, por via transplacentária15, ou durante o parto, por contato direto. Dois terços dos bebês58 sifilíticos nascem assintomáticos, mas os sintomas9 comuns que se desenvolvem nos primeiros dois anos de vida e incluem aumento do fígado40 e baço59, erupção60 cutânea61, febre35, neurossífilis, inflamação39 pulmonar e defeitos dentários. A infecção4 durante a gravidez13 também está associada ao aborto espontâneo.
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Como o médico diagnostica a sífilis1?
O diagnostico63 será baseado nos sinais8 e sintomas9 do paciente e no seu histórico clínico. O médico também deverá fazer um exame físico completo e pedir um exame de sangue64 que é, nesses casos, confirmatório. Se houver alguma lesão33 visível, ele poderá colher uma amostra dela para determinar se a bactéria3 da sífilis1 está presente.
Caso a suspeita seja de sífilis1 terciária, o paciente pode precisar de uma punção lombar para que o médico possa fazer um exame para a bactéria3 da sífilis1 no fluido espinhal. Nas grávidas, a pesquisa para sífilis1 deve fazer parte da rotina do pré-natal porque a bactéria3 pode estar no corpo da mulher sem que ela saiba.
Como o médico trata a sífilis1?
A sífilis1 primária e secundária são facilmente tratáveis por meio de injeções de penicilina, que é um dos antibióticos mais usados e geralmente é eficaz no tratamento da sífilis1. Pessoas alérgicas à penicilina podem ser tratadas com um antibiótico diferente.
Nos casos de sífilis1 terciária, o paciente deve receber doses diárias de penicilina por via intravenosa para combater a bactéria3, o que geralmente exigirá uma breve internação hospitalar. No entanto, os danos que já tenham sido causados ao organismo pela sífilis1 tardia não podem ser revertidos e terão de ser abordados por outros meios.
Se o paciente diagnosticado com sífilis1 for sexualmente ativo, seu parceiro também deve ser examinado e tratado.
Quais são as complicações possíveis com a sífilis1?
As mães infectadas com sífilis1 correm o risco de abortos espontâneos e de terem filhos natimortos ou prematuros. Também existe o risco de uma mãe com sífilis1 transmitir a doença ao feto12 e a sífilis1 congênita11 pode ser fatal. Os bebês58 nascidos com sífilis1 congênita11 também podem ter deformidades, atrasos de desenvolvimento, erupções cutâneas37, febre35, fígado40 ou baço59 aumentados e feridas infecciosas. Se a sífilis1 congênita11 não for detectada, o bebê pode vir a sofrer danos em quase todos os sistemas do corpo.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Mayo Clinic, da Cleveland Clinic e do CDC - Centers for Disease Control and Prevention.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.