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Intoxicações medicamentosas - o que elas podem fazer no nosso organismo?

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O que é um tóxico?

Um tóxico (ou veneno) é qualquer substância que introduzida no corpo provoca lesões1 mais ou menos graves e até mesmo potencialmente mortais. Embora esses dois termos sejam sinônimos, costuma-se chamar de tóxico toda as substâncias potencialmente perigosas e veneno aquelas substâncias com o fim deliberado de provocarem efeitos nocivos: venenos de plantas, veneno de formigas, venenos de ratos, etc.

Os efeitos de um tóxico no organismo dependem do grau de toxicidade2 da substância e da dose que tenha sido absorvida, mas também da idade da pessoa, peso do corpo e estado físico do intoxicado.

Caso a substância não seja originalmente tóxica ou seja de baixa toxicidade2, é necessário que o organismo absorva doses elevadas para que, de fato, se produza uma intoxicação. É este o caso de certas medicações. Os digitálicos, por exemplo, em doses adequadas são benéficos no tratamento de doenças cardíacas, mas se as doses forem muito ultrapassadas em relação às doses terapêuticas, provocam uma intoxicação potencialmente mortal. Os sais de lítio são úteis na estabilização do humor, mas se as doses convenientes forem ultrapassadas eles afetarão os glomérulos renais3 e podem causar insuficiência renal4 irreversível.

Leia sobre "Intoxicação por mercúrio", "Perigos da automedicação5", "Overdose" e "Urgências e emergências médicas mais comuns".

O que é uma intoxicação medicamentosa?

O efeito de qualquer droga sobre o organismo depende da dose em que ela é tomada. Em geral, existe uma variação fixa dentro da qual ela é terapeuticamente útil, abaixo da qual ela não faz o efeito previsto ou acima da qual ela produz intoxicação. As intoxicações medicamentosas ocorrem na maioria das vezes por doses excessivas de medicações que penetram no corpo por via digestiva, embora possam também ingressar por via respiratória, sanguínea ou por simples contato com a pele6.

A manifestação clínica da intoxicação medicamentosa consiste em uma série de sinais7 e sintomas8 produzidos quando um medicamento é ingerido, inalado, injetado ou entra em contato com a pele6, olhos9 ou membranas mucosas10 em dose acima das terapêuticas.

As intoxicações podem ser acidentais ou voluntárias. Nesse último caso, ocorrem nos casos de tentativas de suicídio, em que as substâncias mais usadas são hipnóticas, tranquilizantes ou sedativas. Raramente são usadas substâncias reconhecidas como venenos, mais usadas em casos de homicídios.

Algumas substâncias de uso comum que mais frequentemente podem causar intoxicação:

  1. O paracetamol, fármaco11 de venda livre, se ingerido em excesso pode causar gastroenterite12, com diarreia13, náusea14, vômito15 e febre16. Outra complicação que pode surgir é a hepatotoxicidade17, que além dos sinais7 acima citados pode levar à icterícia18 e perda de apetite e de peso corporal.
  2. A aspirina, que também é um medicamento de venda livre, se ingerida em dose excessiva pode levar a uma intoxicação caracterizada por enjoo, vômito15, respiração rápida, zumbido nos ouvidos, confusão mental e sonolência. Vale dizer que essa intoxicação dificilmente ocorrerá de forma acidental, pois é preciso uma dosagem muito alta para que isso aconteça.
  3. A intoxicação por descongestionantes nasais ocorre quando o paciente os ingere ou faz aplicações excessivas. Os casos leves podem apresentar vômitos19, náuseas20, cefaleia21, irritabilidade, aumento da pressão arterial22 e sudorese23. Os casos graves podem levar a dilatação das pupilas, sonolência, hipotermia24 e até coma25.
  4. Os antigripais podem ser usados abusivamente de modo proposital como meio de produzir alucinações26. Intoxicações graves podem causar hipertensão arterial27, tremores, tonturas28, sonolência, confusão mental, convulsão29, alucinações26 e palpitação30.

Outros tipos de medicamentos que causam intoxicações graves, levando muitas vezes a óbito31 por overdose, são os antidepressivos, tranquilizantes, anticonvulsivantes e barbitúricos.

Como tratar as intoxicações medicamentosas?

As intoxicações medicamentosas podem ser agudas ou crônicas. Nos casos crônicos, há tempo para o médico agir de modo adequado. O tratamento das intoxicações agudas pode ser iniciado com os primeiros socorros prestados pela pessoa que primeiro atende o paciente e compreendem:

  • Ligar imediatamente para o atendimento de urgência32 disponível (geralmente o SAMU).
  • Afastar o paciente do agente tóxico, lavando com água e sabão a parte da pele6 contaminada, se for o caso, ou mudando o paciente de ambiente caso o tóxico seja inalatório.
  • Manter o paciente deitado em posição lateral, caso ele perca a consciência. Desse modo procura-se evitar uma possível aspiração, em caso de vômitos19.
  • Coletar o máximo de informações sobre a substância que provocou a intoxicação, incluindo dose, tempo da intoxicação, etc.
  • Evitar que o paciente coma25 ou beba algo antes de ser atendido pela equipe de socorro.

Depois que o médico assumir o caso, o tratamento dependerá da causa da intoxicação e do estado clínico da pessoa, devendo ser iniciado o mais cedo possível, às vezes já na ambulância. O médico fará uma avaliação dos sinais vitais33, como pressão arterial22, batimentos cardíacos e oxigenação do sangue34, e tentará uma estabilização do paciente, com hidratação ou uso de oxigênio, se necessário.

Em seguida, procurará identificar as causas da intoxicação, através da análise da história clínica, sintomas8 e exame físico da vítima e fará uma descontaminação, que tem como objetivo diminuir a exposição do organismo à substância tóxica, através de medidas como lavagem gástrica35, com irrigação de soro36 fisiológico37 através de uma sonda nasogástrica38, administração de carvão ativado no trato digestivo para facilitar a absorção do agente tóxico, ou lavagem intestinal com laxativos39. O médico também usará um antídoto40 específico para cada sustância, se houver.

Veja também sobre "Interação entre álcool e drogas psicotrópicas", "Cuidados necessários em casos de envenenamento" e "Antidepressivos: eles estão sendo usados em excesso?"

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do Conselho Federal de Farmácia e do Science Direct.

ABCMED, 2020. Intoxicações medicamentosas - o que elas podem fazer no nosso organismo?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1383968/intoxicacoes-medicamentosas-o-que-elas-podem-fazer-no-nosso-organismo.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
2 Toxicidade: Capacidade de uma substância produzir efeitos prejudiciais ao organismo vivo.
3 Glomérulos Renais: Grupo de capilares enovelados (sustentados pelo tecido conjuntivo) que se iniciam em cada túbulo renal. Taxa de Filtração Glomerular; Fluxo Sanguíneo Renal Efetivo; Fluxo Plasmático Renal Efetivo;
4 Insuficiência renal: Condição crônica na qual o corpo retém líquido e excretas pois os rins não são mais capazes de trabalhar apropriadamente. Uma pessoa com insuficiência renal necessita de diálise ou transplante renal.
5 Automedicação: Automedicação é a prática de tomar remédios sem a prescrição, orientação e supervisão médicas.
6 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
7 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
8 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
9 Olhos:
10 Mucosas: Tipo de membranas, umidificadas por secreções glandulares, que recobrem cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
11 Fármaco: Qualquer produto ou preparado farmacêutico; medicamento.
12 Gastroenterite: Inflamação do estômago e intestino delgado caracterizada por náuseas, vômitos, diarréia e dores abdominais. É produzida pela ingestão de vírus, bactérias ou suas toxinas, ou agressão da mucosa intestinal por diversos mecanismos.
13 Diarréia: Aumento do volume, freqüência ou quantidade de líquido nas evacuações.Deve ser a manifestação mais freqüente de alteração da absorção ou transporte intestinal de substâncias, alterações estas que em geral são devidas a uma infecção bacteriana ou viral, a toxinas alimentares, etc.
14 Náusea: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc.
15 Vômito: É a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Pode ser classificado como: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
16 Febre: É a elevação da temperatura do corpo acima dos valores normais para o indivíduo. São aceitos como valores de referência indicativos de febre: temperatura axilar ou oral acima de 37,5°C e temperatura retal acima de 38°C. A febre é uma reação do corpo contra patógenos.
17 Hepatotoxicidade: É um dano no fígado causado por substâncias químicas chamadas hepatotoxinas.
18 Icterícia: Coloração amarelada da pele e mucosas devido a uma acumulação de bilirrubina no organismo. Existem dois tipos de icterícia que têm etiologias e sintomas distintos: icterícia por acumulação de bilirrubina conjugada ou direta e icterícia por acumulação de bilirrubina não conjugada ou indireta.
19 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
20 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
21 Cefaleia: Sinônimo de dor de cabeça. Este termo engloba todas as dores de cabeça existentes, ou seja, enxaqueca ou migrânea, cefaleia ou dor de cabeça tensional, cefaleia cervicogênica, cefaleia em pontada, cefaleia secundária a sinusite, etc... são tipos dentro do grupo das cefaleias ou dores de cabeça. A cefaleia tipo tensional é a mais comum (acomete 78% da população), seguida da enxaqueca ou migrânea (16% da população).
22 Pressão arterial: A relação que define a pressão arterial é o produto do fluxo sanguíneo pela resistência. Considerando-se a circulação como um todo, o fluxo total é denominado débito cardíaco, enquanto a resistência é denominada de resistência vascular periférica total.
23 Sudorese: Suor excessivo
24 Hipotermia: Diminuição da temperatura corporal abaixo de 35ºC.Pode ser produzida por choque, infecção grave ou em estados de congelamento.
25 Coma: 1. Alteração do estado normal de consciência caracterizado pela falta de abertura ocular e diminuição ou ausência de resposta a estímulos externos. Pode ser reversível ou evoluir para a morte. 2. Presente do subjuntivo ou imperativo do verbo “comer.“
26 Alucinações: Perturbações mentais que se caracterizam pelo aparecimento de sensações (visuais, auditivas, etc.) atribuídas a causas objetivas que, na realidade, inexistem; sensações sem objeto. Impressões ou noções falsas, sem fundamento na realidade; devaneios, delírios, enganos, ilusões.
27 Hipertensão arterial: Aumento dos valores de pressão arterial acima dos valores considerados normais, que no adulto são de 140 milímetros de mercúrio de pressão sistólica e 85 milímetros de pressão diastólica.
28 Tonturas: O indivíduo tem a sensação de desequilíbrio, de instabilidade, de pisar no vazio, de que vai cair.
29 Convulsão: Episódio agudo caracterizado pela presença de contrações musculares espasmódicas permanentes e/ou repetitivas (tônicas, clônicas ou tônico-clônicas). Em geral está associada à perda de consciência e relaxamento dos esfíncteres. Pode ser devida a medicamentos ou doenças.
30 Palpitação: Designa a sensação de consciência do batimento do coração, que habitualmente não se sente. As palpitações são detectadas usualmente após um exercício violento, em situações de tensão ou depois de um grande susto, quando o coração bate com mais força e/ou mais rapidez que o normal.
31 Óbito: Morte de pessoa; passamento, falecimento.
32 Urgência: 1. Necessidade que requer solução imediata; pressa. 2. Situação crítica ou muito grave que tem prioridade sobre outras; emergência.
33 Sinais vitais: Conjunto de variáveis fisiológicas que são pressão arterial, freqüência cardíaca, freqüência respiratória e temperatura corporal.
34 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
35 Lavagem gástrica: É a introdução, através de sonda nasogástrica, de líquido na cavidade gástrica, seguida de sua remoção.
36 Soro: Chama-se assim qualquer líquido de características cristalinas e incolor.
37 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
38 Sonda nasogástrica: Equipamento de uso médico que pode servir tanto para alimentar pacientes que não conseguem realizar a deglutição, como para drenar líquidos do estômago (em casos de intoxicação ou cirurgias, por exemplo). A sonda é um equipamento que consiste basicamente em um tubo com duas aberturas para comunicação entre o interior e o exterior do corpo do paciente.
39 Laxativos: Mesmo que laxantes. Que laxa, afrouxa, dilata. Medicamentos que tratam da constipação intestinal; purgantes, purgativos, solutivos.
40 Antídoto: Substância ou mistura que neutraliza os efeitos de um veneno. Esta ação pode reagir diretamente com o veneno ou amenizar/reverter a ação biológica causada por ele.
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