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Delirium tremens - características, causas, tratamento, evolução

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O que é delirium tremens1?

O delirium2 é um distúrbio mental de causa orgânica, marcado por desorientação e confusão mental, no qual o paciente apreende incorretamente o ambiente à sua volta. A pessoa com delirium2 está sonolenta, inquieta e com medo de ocorrências imaginárias. Ela pode também sofrer alucinações3, vendo supostos animais aterrorizantes ou pensando que o prédio está pegando fogo, por exemplo.

O delirium tremens1 (DT) — chamado assim por causa do tremor característico que o acompanha — é uma forma grave de delirium2, na qual todo o corpo treme e que, além dos sintomas4 gerais, causa problemas súbitos e graves no cérebro5 e no sistema nervoso6.

Leia sobre "Alucinações3", "Delirium2 ou estado confusional em idosos" e "Urgências em Psiquiatria".

Quais são as causas do delirium tremens1?

O DT é observado em casos de abstinência alcoólica súbita e grave, complicados por exaustão, falta de comida e desidratação7, geralmente precedidos por deterioração física devido a vômitos8 e agitação. Beber em excesso afeta de maneira especial o sistema nervoso6 e, quando isso acontece, o cérebro5 não consegue mais se adaptar facilmente à falta de álcool.

Qual é o substrato fisiológico9 do delirium tremens1?

A ingestão crônica de álcool afeta vários sistemas de neurotransmissores no cérebro5. Esses efeitos incluem (1) aumento da liberação de opiáceos endógenos; (2) ativação do receptor inibidor do ácido gama-aminobutírico; (3) regulação positiva do receptor de glutamato, que medeia os efeitos excitatórios pós-sinápticos e (4) interações com receptores de serotonina e dopamina10.

O álcool pode também afetar os neurotransmissores do cérebro5, que são produtos químicos que atuam como mensageiros de partes do cérebro5 para outras partes do cérebro5 e sistema nervoso6.

Quando uma pessoa bebe álcool, suprime certos neurotransmissores do cérebro5. É isso que pode fazer com que a pessoa se sinta relaxada. Quando os neurotransmissores não são mais suprimidos, mas estão acostumados a trabalhar mais para superar a supressão, eles entram em um estado de superexcitação. Se a pessoa parar de beber de repente ou reduzir significativamente a quantidade de álcool que bebe, isso pode causar os sintomas4 de retirada do álcool.

Quais são as principais características clínicas do delirium tremens1?

Estima-se que 50% das pessoas que sofrem de dependência pesada de álcool terão sintomas4 de abstinência se pararem de beber ou se diminuírem abruptamente a ingestão de álcool. Dessas pessoas, 3 a 5% experimentarão sintomas4 de DT. Os sintomas4 do DT ocorrem dentro de três dias após a parada de beber. No entanto, às vezes eles podem demorar uma semana ou mais para aparecer.

Além de todo o corpo tremer, o DT é manifestado por um estado de confusão mental global e hiperatividade autonômica, que pode progredir para um colapso11 cardiovascular. A abstinência de álcool é caracterizada por tremor, ansiedade, náusea12, vômito13 e insônia. Os principais sinais14 e sintomas4 de abstinência de álcool incluem ainda alucinações3 visuais e alucinações3 auditivas, tremor de corpo inteiro, diaforese15 e pressão arterial16 alta. As manifestações clínicas do DT incluem também agitação, desorientação e febre17. A profunda confusão global é a marca registrada do DT.

O DT é sempre uma emergência18 médica que envolve alta taxa de mortalidade19, tornando essencial o reconhecimento e o tratamento precoces.

Saiba mais sobre "Desidratação7", "Sìndrome de abstinência" e "Alcoolismo".

Como o médico diagnostica o delirium tremens1?

O diagnóstico20 de DT é feito a partir do histórico clínico do paciente, de alguns sinais14 clínicos e de exames de laboratório. Os principais sintomas4 a serem observados incluem: tremores nas mãos21, frequência cardíaca irregular, desidratação7 e febre17. Um exame de toxicologia testa a quantidade de álcool no corpo do paciente, bem como pode indicar se há outras substâncias em seu corpo.

Outros testes que podem ser solicitados para avaliar a dependência do álcool ou a gravidade da abstinência incluem: nível de magnésio e de fosfato no sangue22, painel metabólico abrangente feito em jejum, eletrocardiograma23 e eletroencefalograma24.

Como o médico trata o delirium tremens1?

Os tratamentos do DT incluem ministração de fluidos intravenosos para tratar a desidratação7, anticonvulsivantes para fazer cessar ou prevenir convulsões, sedativos para tratar a ansiedade, antipsicóticos para prevenir alucinações3, medicamento para reduzir febre17 e dores no corpo e tratamento para outras condições relacionadas ao álcool.

Como evolui o delirium tremens1?

O delirium tremens1 dura de 3 a 10 dias, com uma taxa de mortalidade19 relatada de até 20%, se não for tratado a tempo. As alucinações3 podem se desenvolver independentemente do delirium tremens1 e podem durar de dias a semanas.

O delirium2 desaparece logo após as causas físicas terem sido tratadas. A recuperação, no entanto, depende não apenas da solução das causas, mas também da extensão do dano que tenha sido causado ao cérebro5 e da capacidade dos mecanismos reparadores do corpo.

Como o DT pode ser fatal, o médico pode sugerir que o paciente receba tratamento em um hospital para que sua equipe de saúde25 possa monitorar a condição e gerenciar quaisquer complicações. Pode levar até uma semana para que o paciente se sinta melhor.

Quais são as complicações possíveis do delirium tremens1?

Com tratamento médico oportuno, a taxa de mortalidade19 do DT é muito baixa. No entanto, alguns sintomas4 de abstinência alcoólica podem durar mais de um ano, como mudanças de humor, fadiga26 e insônia.

Veja também sobre "Diferenças entre delírio27, delirium2 e delirium tremens1".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da Mayo Clinic Proceedings, da Encyclopedia Britannica e do National Center for Biotechnology Information.

ABCMED, 2019. Delirium tremens - características, causas, tratamento, evolução. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1354353/delirium-tremens-caracteristicas-causas-tratamento-evolucao.htm>. Acesso em: 18 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Delirium tremens: Variedade de delírio associado ao consumo ou abstinência de álcool.
2 Delirium: Alteração aguda da consciência ou da lucidez mental, provocado por uma causa orgânica. O delirium tem causa orgânica e cessa se a causa orgânica cessar. Ele pode acontecer nos traumas cranianos, nas infecções etc. Os exemplos mais típicos são o delirium do alcoólatra crônico e o delirium febril.
3 Alucinações: Perturbações mentais que se caracterizam pelo aparecimento de sensações (visuais, auditivas, etc.) atribuídas a causas objetivas que, na realidade, inexistem; sensações sem objeto. Impressões ou noções falsas, sem fundamento na realidade; devaneios, delírios, enganos, ilusões.
4 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
5 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
6 Sistema nervoso: O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal e a porção periférica está constituída pelos nervos cranianos e espinhais, pelos gânglios e pelas terminações nervosas.
7 Desidratação: Perda de líquidos do organismo pelo aumento importante da freqüência urinária, sudorese excessiva, diarréia ou vômito.
8 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
9 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
10 Dopamina: É um mediador químico presente nas glândulas suprarrenais, indispensável para a atividade normal do cérebro.
11 Colapso: 1. Em patologia, é um estado semelhante ao choque, caracterizado por prostração extrema, grande perda de líquido, acompanhado geralmente de insuficiência cardíaca. 2. Em medicina, é o achatamento conjunto das paredes de uma estrutura. 3. No sentido figurado, é uma diminuição súbita de eficiência, de poder. Derrocada, desmoronamento, ruína. 4. Em botânica, é a perda da turgescência de tecido vegetal.
12 Náusea: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc.
13 Vômito: É a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Pode ser classificado como: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
14 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
15 Diaforese: Sudação, transpiração intensa.
16 Pressão arterial: A relação que define a pressão arterial é o produto do fluxo sanguíneo pela resistência. Considerando-se a circulação como um todo, o fluxo total é denominado débito cardíaco, enquanto a resistência é denominada de resistência vascular periférica total.
17 Febre: É a elevação da temperatura do corpo acima dos valores normais para o indivíduo. São aceitos como valores de referência indicativos de febre: temperatura axilar ou oral acima de 37,5°C e temperatura retal acima de 38°C. A febre é uma reação do corpo contra patógenos.
18 Emergência: 1. Ato ou efeito de emergir. 2. Situação grave, perigosa, momento crítico ou fortuito. 3. Setor de uma instituição hospitalar onde são atendidos pacientes que requerem tratamento imediato; pronto-socorro. 4. Eclosão. 5. Qualquer excrescência especializada ou parcial em um ramo ou outro órgão, formada por tecido epidérmico (ou da camada cortical) e um ou mais estratos de tecido subepidérmico, e que pode originar nectários, acúleos, etc. ou não se desenvolver em um órgão definido.
19 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
20 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
21 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
22 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
23 Eletrocardiograma: Registro da atividade elétrica produzida pelo coração através da captação e amplificação dos pequenos potenciais gerados por este durante o ciclo cardíaco.
24 Eletroencefalograma: Registro da atividade elétrica cerebral mediante a utilização de eletrodos cutâneos que recebem e amplificam os potenciais gerados em cada região encefálica.
25 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
26 Fadiga: 1. Sensação de enfraquecimento resultante de esforço físico. 2. Trabalho cansativo. 3. Redução gradual da resistência de um material ou da sensibilidade de um equipamento devido ao uso continuado.
27 Delírio: Delirio é uma crença sem evidência, acompanhada de uma excepcional convicção irrefutável pelo argumento lógico. Ele se dá com plena lucidez de consciência e não há fatores orgânicos.
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