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Pseudotumor cerebral - existe o risco de perder a visão se não tratar?

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O que é pseudotumor cerebral?

O pseudotumor cerebral (Pseudotumor cerebri), também conhecido como hipertensão1 intracraniana idiopática2, é um distúrbio da pressão elevada do fluido espinhal no cérebro3. É importante reconhecer rapidamente essa condição porque ela pode levar à perda progressiva e permanente da visão4 ao longo de algum tempo.

Apesar de ser dita “benigna”, deve-se distingui-la da hipertensão1 intracraniana “maligna”, causada por tumores cerebrais. Essa hipertensão1 está longe de ser inócua5 porque pode causar cefaleias6 intensas e intratáveis e afetar a visão4, com perda grave desta.

Saiba mais sobre "Hipertensão1 intracraniana".

Quais são as causas do pseudotumor cerebral?

O pseudotumor cerebral (hipertensão1 intracraniana “benigna”) é uma condição que afeta principalmente pessoas que tiveram ganho de peso recente, mesmo o peso excessivo ganho durante a gravidez7. A incidência8 do problema, nesse grupo de ganho de peso, pode ser até 10 vezes maior que nas demais pessoas.

Certos medicamentos (hormônio9 do crescimento, tetraciclina, esteroides, vitamina10 A, etc.) também podem predispor a essa síndrome11. Algumas pessoas podem ser predispostas ao pseudotumor cerebral em virtude de terem nascido com um estreitamento da veia que drena o sangue12 do cérebro3. No entanto, na maioria dos casos a causa permanece desconhecida.

Quais são as principais características clínicas do pseudotumor cerebral?

A clínica clássica do pseudotumor cerebral envolve:

  1. Mulher obesa em idade fértil.
  2. Cefaleias6 intensas e refratárias13 a analgésicos14 potentes.
  3. Papiledema no exame de fundo de olho15.

As cefaleias6 são o sintoma16 mais comum (84-92% das pessoas), sendo raros os pacientes que não as apresentam. Essas cefaleias6 têm características variadas e inespecíficas e podem ser intermitentes17 ou persistentes, pioram com certas alterações posturais e costumam melhorar com o descanso.

As alterações visuais iniciais são transitórias, duram alguns segundos e podem ser uni ou bilaterais. Esses episódios podem ser isolados ou ocorrer várias vezes por dia e nem sempre são preditivos para perda visual definitiva.

Outros sintomas18 incluem incômodos barulhos intracranianos, em geral descritos como água correndo ou barulho do vento; percepção de flashes de luz nos olhos19; dor retrobulbar; diplopia20, devido à paralisia21 do nervo abducente uni ou bilateralmente e perda visual transitória ou sustentada.

Com relação aos sinais22, podemos citar entre os mais importantes: papiledema, tipicamente bilateral e simétrico; perda visual, às vezes com evolução fulminante; paralisia21 do nervo abducente.

Leia sobre "Papiledema", "Dores de cabeça23", "Deficiência visual" e "Diplopia20".

Como o médico diagnostica o pseudotumor cerebral?

A primeira aproximação do diagnóstico24 é feita a partir dos sintomas18 queixados pelos pacientes. Contudo, os sintomas18 do pseudotumor cerebral não são específicos e são comuns em várias outras patologias. De todos eles, os barulhos intracranianos (Tinitus pulsatil) é o que se mostra ser o sintoma16 mais útil para o diagnóstico24 diferencial.

Um exame de fundo de olho15 pode revelar um papiledema. A tomografia computadorizada25 ou a ressonância magnética26 podem ser normais ou podem revelar ventrículos (bolsas que contêm o líquido espinhal) menores do que o normal. Elas também podem mostrar veias27 de drenagem28 estreitas ou sinais22 indiretos de pressão do fluido espinhal anormalmente elevada. Como esses sinais22 e sintomas18 também podem ser observados em tumores cerebrais com exames normais, a condição foi denominada pseudotumor cerebral (“falso tumor29 cerebral”).

A medida da pressão do líquido espinhal precisa ser feita de preferência por uma punção lombar. Alguns pacientes têm alívio imediato de seus sintomas18 após a drenagem28 do líquido espinhal, mas esse efeito é apenas temporário.

Uma vez feito o diagnóstico24 de pseudotumor cerebral, deve ser realizado um exame ocular cuidadoso e testes dos campos visuais para determinar o risco de perda da visão4.

Como o médico trata o pseudotumor cerebral?

O objetivo principal do tratamento é a redução da pressão do líquido cefalorraquidiano30 (LCR), visando, sobretudo, a prevenção da perda visual, assim como o controle dos demais sintomas18. A hipertensão1 liquórica é tratada principalmente através de medicações, repetidas punções lombares e, quando possível, através da perda de peso.

As repetidas punções lombares têm por função reduzir a pressão do fluido espinhal e manter a pressão intracraniana em um nível seguro e tolerável. A perda de peso, mesmo em quantidade moderada, pode curar a condição. Às vezes pode ser necessário fazer cirurgicamente pequenos orifícios na bainha que envolve os nervos ópticos para aliviar a pressão e prevenir a deterioração da visão4.

Em casos graves, um tubo pode ser implantado para drenar o fluido espinhal para fora do cérebro3. Uma nova opção mais recente para o tratamento envolve a colocação de um stent (uma pequena mola distensível) para expandir a porção estreita da veia afetada, permitindo que o sangue12 drene mais livremente e alivie a pressão do fluido no cérebro3.

Como evolui o pseudotumor cerebral?

A hipertensão1 endocraniana geralmente não afeta a expectativa de vida31. As principais complicações surgem do papiledema resistente ao tratamento ou não tratado. O risco a longo prazo da visão4 de uma pessoa ser significantemente afetada fica em torno de 10 a 25%.

Veja também sobre "Exame de fundo de olho15" e "Punção lombar".

 

ABCMED, 2019. Pseudotumor cerebral - existe o risco de perder a visão se não tratar?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1341068/pseudotumor-cerebral-existe-o-risco-de-perder-a-visao-se-nao-tratar.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
2 Idiopática: 1. Relativo a idiopatia; que se forma ou se manifesta espontaneamente ou a partir de causas obscuras ou desconhecidas; não associado a outra doença. 2. Peculiar a um indivíduo.
3 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
4 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
5 Inócua: 1. Que não causa dano material, físico, orgânico; que não é nocivo ou prejudicial. 2. Que não causa dano moral, psicológico ou afim; improvável de causar ofensa moral. 3. Incapaz de produzir o efeito pretendido.
6 Cefaléias: Sinônimo de dor de cabeça. Este termo engloba todas as dores de cabeça existentes, ou seja, enxaqueca ou migrânea, cefaléia ou dor de cabeça tensional, cefaléia cervicogênica, cefaléia em pontada, cefaléia secundária a sinusite, etc... são tipos dentro do grupo das cefaléias ou dores de cabeça. A cefaléia tipo tensional é a mais comum (acomete 78% da população), seguida da enxaqueca ou migrânea (16% da população).
7 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
8 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
9 Hormônio: Substância química produzida por uma parte do corpo e liberada no sangue para desencadear ou regular funções particulares do organismo. Por exemplo, a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que diz a outras células quando usar a glicose para energia. Hormônios sintéticos, usados como medicamentos, podem ser semelhantes ou diferentes daqueles produzidos pelo organismo.
10 Vitamina: Compostos presentes em pequenas quantidades nos diversos alimentos e nutrientes e que são indispensáveis para o desenvolvimento dos processos biológicos normais.
11 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
12 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
13 Refratárias: 1. Que resiste à ação física ou química. 2. Que resiste às leis ou a princípios de autoridade. 3. No sentido figurado, que não se ressente de ataques ou ações exteriores; insensível, indiferente, resistente. 4. Imune a certas doenças.
14 Analgésicos: Grupo de medicamentos usados para aliviar a dor. As drogas analgésicas incluem os antiinflamatórios não-esteróides (AINE), tais como os salicilatos, drogas narcóticas como a morfina e drogas sintéticas com propriedades narcóticas, como o tramadol.
15 Fundo de olho: Fundoscopia, oftalmoscopia ou exame de fundo de olho é o exame em que se visualizam as estruturas do segmento posterior do olho (cabeça do nervo óptico, retina, vasos retinianos e coroide), dando atenção especialmente a região central da retina, denominada mácula. O principal aparelho utilizado pelo clínico para realização do exame de fundo de olho é o oftalmoscópio direto. O oftalmologista usa o oftalmoscópio indireto e a lâmpada de fenda.
16 Sintoma: Qualquer alteração da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. O sintoma é a queixa relatada pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
17 Intermitentes: Nos quais ou em que ocorrem interrupções; que cessa e recomeça por intervalos; intervalado, descontínuo. Em medicina, diz-se de episódios de febre alta que se alternam com intervalos de temperatura normal ou cujas pulsações têm intervalos desiguais entre si.
18 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
19 Olhos:
20 Diplopia: Visão dupla.
21 Paralisia: Perda total da força muscular que produz incapacidade para realizar movimentos nos setores afetados. Pode ser produzida por doença neurológica, muscular, tóxica, metabólica ou ser uma combinação das mesmas.
22 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
23 Cabeça:
24 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
25 Tomografia computadorizada: Exame capaz de obter imagens em tons de cinza de “fatias†de partes do corpo ou de órgãos selecionados, as quais são geradas pelo processamento por um computador de uma sucessão de imagens de raios X de alta resolução em diversos segmentos sucessivos de partes do corpo ou de órgãos.
26 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
27 Veias: Vasos sangüíneos que levam o sangue ao coração.
28 Drenagem: Saída ou retirada de material líquido (sangue, pus, soro), de forma espontânea ou através de um tubo colocado no interior da cavidade afetada (dreno).
29 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
30 Líquido cefalorraquidiano: Líquido cefalorraquidiano (LCR), também conhecido como líquor ou fluido cérebro espinhal, é definido como um fluido corporal estéril, incolor, encontrado no espaço subaracnoideo no cérebro e na medula espinhal (entre as meninges aracnoide e pia-máter). Caracteriza-se por ser uma solução salina pura, com baixo teor de proteínas e células, atuando como um amortecedor para o córtex cerebral e a medula espinhal. Possui também a função de fornecer nutrientes para o tecido nervoso e remover resíduos metabólicos do mesmo. É sintetizado pelos plexos coroidais, epitélio ventricular e espaço subaracnoideo em uma taxa de aproximadamente 20 mL/hora. Em recém-nascidos, este líquido é encontrado em um volume que varia entre 10 a 60 mL, enquanto que no adulto fica entre 100 a 150 mL.
31 Expectativa de vida: A expectativa de vida ao nascer é o número de anos que se calcula que um recém-nascido pode viver caso as taxas de mortalidade registradas da população residente, no ano de seu nascimento, permaneçam as mesmas ao longo de sua vida.
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