Gostou do artigo? Compartilhe!

Catatonia

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie este artigo

O que é catatonia?

A catatonia é uma síndrome1 clínica muito rara caracterizada por anormalidades impressionantes do comportamento motor, constante de movimentos e comportamentos anormais, imobilidade e retraimento2. A sua forma mais conhecida envolve a manutenção de uma posição rígida e imóvel que pode durar horas, dias ou semanas. Mas também pode se referir à agitação motora sem propósito, mesmo na ausência de estímulos ambientais.

A prevalência3 relativa e o significado diagnóstico4 dos sinais5 catatônicos varia entre estudos e populações diferentes, mas há um consenso de que a catatonia ocorre em 9-17% dos pacientes com doenças psiquiátricas agudas.

Leia também sobre "Depressão bipolar e unipolar", "Mutismo6 seletivo" e "Quando internar um paciente psiquiátrico?"

Quais são as causas da catatonia?

A catatonia é quase sempre secundária a outra doença subjacente, geralmente um distúrbio psiquiátrico, mas também pode ser devida a alguma alteração clínica. Afinal, os sintomas7 catatônicos são inespecíficos e podem ser observados em uma grande variedade de condições médicas. O que os médicos ainda não sabem com precisão é o que faz com que esses doentes algumas vezes se tornem catatônicos.

Na psiquiatria, embora a catatonia tenha sido historicamente relacionada à esquizofrenia8, tendo inclusive sido considerada uma de suas formas clínicas (esquizofrenia8 catatônica), ela é frequentemente observada também em transtornos bipolares do humor e depressões severas.

Outras associações psiquiátricas incluem alguns transtornos psicóticos primários e transtornos do espectro autista.

Na clínica, a catatonia pode ser observada em:

O uso de alguns fármacos também pode induzir a esta condição como, por exemplo, corticoides, imunossupressores e agentes antipsicóticos como os neurolépticos16.

Alguns especialistas acreditam que ter um excesso ou falta de neurotransmissores causa catatonia. Uma teoria em voga afirma que uma redução repentina na dopamina17, que é um neurotransmissor, causa catatonia. Uma outra teoria é que uma redução no ácido gama-aminobutírico (GABA18), outro neurotransmissor, leva à condição catatônica.

Qual é o substrato fisiopatológico da catatonia?

A neurobiologia alterada da catatonia parece dever-se a alterações patológicas do GABA18 (ácido gama amino butírico), do glutamato e da dopamina17. O GABA18 responde pelo comportamento motor e afetivo da pessoa e a diminuição dele ajudaria na catatonia. O glutamato é um excitante dos neurotransmissores e uma anormalidade da atuação dele nos gânglios19 da base seria também um dos substratos da catatonia. Nos anos 1970, nasceu a hipótese de uma disfunção do metabolismo20 de dopamina17 em áreas específicas do cérebro21.

Quais são as características clínicas da catatonia?

A forma de início da catatonia pode ser súbita ou gradual e os sintomas7 podem aumentar, diminuir ou mudar durante os episódios. São descritos dois subtipos de catatonia.

1. Catatonia retardada

É o tipo mais comum, marcada por uma escassez de movimentos, incluindo imobilidade, olhar fixo, mutismo6, rigidez, retraimento2 e recusa de comer, juntamente a características mais bizarras, como postura, caretas, negativismo, flexibilidade cérea (o paciente permanece na postura em que for passivamente colocado), ecolalia22 ou ecopraxia23, estereotipia24, verbigeração (repetição insistente de palavras ou frases sem sentido) e obediência automática.

2. Catatonia excitada

Também chamada catatonia “maligna” ou “letal”, é caracterizada por agitação psicomotora25 grave, levando potencialmente a complicações com risco de vida, como hipertermia, consciência alterada e disfunção autonômica. Esta forma de catatonia pode ser rapidamente fatal se não for tratada adequadamente.

Como o médico diagnostica a catatonia?

Não existe exame decisivo para diagnosticar a catatonia. Um exame físico e exames complementares devem primeiro descartar outras condições assemelhadas. Tomografias computadorizadas ou ressonâncias magnéticas permitem que os médicos visualizem o cérebro21 e possam detectar eventuais anormalidades.

O passo mais importante no diagnóstico4 da catatonia é o reconhecimento dos sinais5 clínicos característicos da síndrome1. A imobilidade e o mutismo6 são particularmente chamativos e comuns e o aparecimento de qualquer um desses sinais5 na ausência de outra condição explicativa deve levantar a suspeita clínica de catatonia, momento em que a presença de outros sinais5 catatônicos pode ser determinada.

Um diferencial tem de ser feito com a psicose26 aguda, encefalite27, síndrome1 neuroléptica maligna, uma reação rara e grave a medicamentos antipsicóticos (reação neuroléptica maligna), estado de mal epiléptico não convulsivo e um tipo de convulsão28 grave. Os médicos devem descartar essas condições antes que possam diagnosticar a catatonia.

Como o médico trata a catatonia?

Os médicos geralmente tratam a catatonia com benzodiazepínicos. Às vezes são usados antipsicóticos, mas esses possuem efeitos colaterais29 que podem agravar o quadro.

Outra opção de tratamento é a eletroconvulsoterapia (eletrochoque). Nessa técnica, impulsos elétricos são enviados para o cérebro21 da pessoa através de eletrodos colocados na cabeça30. Elas recebem remédios para dormir durante o procedimento e a pessoa geralmente sofre uma convulsão28 controlada. O tratamento só é recomendado se os sedativos não funcionarem, se a catatonia for grave, se a pessoa já teve catatonia antes ou se é necessária uma ação rápida para salvar a vida da pessoa acometida.

Veja informações sobre "Terapia cognitivo31 comportamental", "Psicoterapia" e "Big Five (Cinco Grandes) da Psicologia".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Psych Scene Hub e do Jornal da USP.

ABCMED, 2022. Catatonia. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1411335/catatonia.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Retraimento: 1. Ato ou efeito de retrair (-se); retração, contração, encolhimento. 2. Atitude reservada; reserva, timidez, acanhamento. 3. Estado ou condição de quem se encontra só; solidão, isolamento, retiro. 4. Lugar ermo ou solitário; retiro. 5. Retração. 6. Retirada.
3 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
4 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
5 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
6 Mutismo: Estado de não reatividade e de imobilidade, com uma especial ausência da necessidade de falar e de impulso verbal, que está presente em alguns casos de esquizofrenia e de histeria.
7 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
8 Esquizofrenia: Doença mental do grupo das Psicoses, caracterizada por alterações emocionais, de conduta e intelectuais, caracterizadas por uma relação pobre com o meio social, desorganização do pensamento, alucinações auditivas, etc.
9 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
10 Autoimunes: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
11 Meningite: Inflamação das meninges, aguda ou crônica, quase sempre de origem infecciosa, com ou sem reação purulenta do líquido cefalorraquidiano. As meninges são três membranas superpostas (dura-máter, aracnoide e pia-máter) que envolvem o encéfalo e a medula espinhal.
12 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
13 Doença cerebrovascular: É um dano aos vasos sangüíneos do cérebro que resulta em derrame (acidente vascular cerebral). Os vasos tornam-se obstruídos por depósitos de gordura (aterosclerose) ou tornam-se espessados ou duros bloqueando o fluxo sangüíneo para o cérebro. Quando o fluxo é interrompido, as células nervosas sofrem dano ou morrem, resultando no derrame. Pacientes com diabetes descompensado têm maiores riscos de AVC.
14 Neoplasias: Termo que denomina um conjunto de doenças caracterizadas pelo crescimento anormal e em certas situações pela invasão de órgãos à distância (metástases). As neoplasias mais frequentes são as de mama, cólon, pele e pulmões.
15 Traumatismo: Lesão produzida pela ação de um agente vulnerante físico, químico ou biológico e etc. sobre uma ou várias partes do organismo.
16 Neurolépticos: Medicamento que exerce ação calmante sobre o sistema nervoso, tranquilizante, psicoléptico.
17 Dopamina: É um mediador químico presente nas glândulas suprarrenais, indispensável para a atividade normal do cérebro.
18 GABA: GABA ou Ácido gama-aminobutírico é o neurotransmissor inibitório mais comum no sistema nervoso central.
19 Gânglios: 1. Na anatomia geral, são corpos arredondados de tamanho e estrutura variáveis; nodos, nódulos. 2. Em patologia, são pequenos tumores císticos localizados em uma bainha tendinosa ou em uma cápsula articular, especialmente nas mãos, punhos e pés.
20 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
21 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
22 Ecolalia: Repetição patológica e aparentemente sem sentido (“fazer eco“) de uma palavra ou frase recém falada por outra pessoa.
23 Ecopraxia: Repetição por imitação dos movimentos de outra pessoa. É uma ação involuntária e tem uma qualidade semi-automática e incontrolável.
24 Estereotipia: 1. Processo de reprodução, em chapa ou clichê único e inteiriço, de uma fôrma de composição tipográfica obtida por metal líquido moldado. 2. Na psicopatologia: comportamento verbal ou motor repetitivo, produzido de forma quase automática, sem relação com a situação e de aparência absurda.
25 Psicomotora: Própria ou referente a qualquer resposta que envolva aspectos motores e psíquicos, tais como os movimentos corporais governados pela mente.
26 Psicose: Grupo de doenças psiquiátricas caracterizadas pela incapacidade de avaliar corretamente a realidade. A pessoa psicótica reestrutura sua concepção de realidade em torno de uma idéia delirante, sem ter consciência de sua doença.
27 Encefalite: Inflamação do tecido encefálico produzida por uma infecção viral, bacteriana ou micótica (fungos).
28 Convulsão: Episódio agudo caracterizado pela presença de contrações musculares espasmódicas permanentes e/ou repetitivas (tônicas, clônicas ou tônico-clônicas). Em geral está associada à perda de consciência e relaxamento dos esfíncteres. Pode ser devida a medicamentos ou doenças.
29 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
30 Cabeça:
31 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
Gostou do artigo? Compartilhe!

Pergunte diretamente a um especialista

Sua pergunta será enviada aos especialistas do CatalogoMed, veja as dúvidas já respondidas.