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Inveja “do bem” e inveja “do mal”: quais as diferenças?

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O que é a inveja?

A inveja é um sentimento natural e corriqueiro que todo mundo tem em algum momento da vida. Ela pode ser definida de dois modos diferentes: (1) como um sentimento de admiração ou (2) de frustração gerado pela vontade de possuir os atributos ou qualidades de uma outra pessoa. Estes sentimentos podem motivar o desejo de ter tanto coisas materiais como qualidades que o outro tem.

Segundo a etologia (estudo do comportamento animal), a inveja pode ser encontrada também em outros animais, demonstrando ter um marco biológico por trás de sua evolução através das espécies. Ela não seleciona idade, religião, cor, sexo ou posição social e, embora ela se expresse mais nas mulheres que nos homens, isso pode ser porque eles têm outros modos de expressá-la.

Há muita gente que, mesmo tendo posses e qualidades excepcionais, também sofre desta condição. É típico que a pessoa invejosa deixe de usufruir dos próprios êxitos para ficar o tempo todo vigiando os sucessos alheios. 

A inveja vem de longe. Na Bíblia, Caim matou Abel por inveja. Na tradição católica, ela é considerada um dos sete pecados capitais. Muitas obras literárias de sucesso trataram do tema, como foi o caso de “Otelo, o Mouro de Veneza”, escrita por William Shakespeare, por volta de 1603, e “A Bela Adormecida”, dos irmãos Grimm, de 1812.

A inveja tem sido amplamente estudada nos campos da filosofia e da psicologia, entre outros ramos do conhecimento. Parece que ela se forma desde o início da vida até os 7 anos de idade, mais ou menos, quando a personalidade da criança adquire sua forma definitiva. Geralmente é perdurável, mas pode vir a aparecer também esporadicamente em alguma situação que funcione como “gatilho” de um sentimento represado, podendo então ser um sentimento transitório.

A inveja e o ciúme são conceitos distintos, embora os termos frequentemente sejam usados de forma intercambiável. Mas o ciúme normalmente existe no contexto dos relacionamentos e se refere a uma terceira pessoa, o que não é próprio da inveja.

Veja mais sobre "O que é inveja", "Personalidade narcisista", "Agressividade" e "Autoestima".

A inveja “do bem”

A inveja “do bem” (“normal”) consiste em que a pessoa, invejando os aspectos positivos de outro indivíduo, tente consegui-los também e se igualar a ele. Esse tipo de inveja fica próxima da admiração e só se diferencia dela por ser um sentimento um pouco incomodativo, embora de um incômodo suportável. A inveja “do bem” é, pois, construtiva.

Por outro lado, ela é leve e a pessoa não procura destruir os êxitos da outra, e sim imitá-los. Quando ela é moderada e equilibrada (normal) pode ajudar a pessoa a buscar os meios de conseguir obter o mesmo que a pessoa invejada, contribuindo para o progresso individual. Essa inveja pode fazer com que algumas metas e objetivos saiam do papel e se tornem realidade. A pessoa invejada passa a ser objeto de admiração e a pessoa que inveja chega até a torcer pelo seu maior sucesso.

Praticamente todas as pessoas já sentiram esse tipo de inveja em algum momento de suas vidas, embora quem a carrega de uma maneira mais constante, em geral é inseguro, com baixa autoestima e não avalia bem o próprio valor.

A inveja “do mal”

A inveja “do mal (“patológica”) tem intenções destrutivas, tanto da pessoa que a sente quanto do alvo a que se dirige. O invejoso dessa extirpe costuma sentir mais prazer com as derrotas alheias do que com as próprias vitórias. Esse tipo de inveja gera um sentimento de angústia, ou mesmo raiva1, perante o que o outro tem.

Como uma experiência emocional complexa, essa inveja pode consistir em muitos elementos que já não se pode com tranquilidade considerar normais: anseio desmedido, sentimentos de inferioridade, má vontade para com a pessoa invejada, ressentimento e culpa. Mas a inveja também pode envolver algum grau de desejo de que a outra pessoa não possua o objeto ou qualidade invejada, ou até mesmo de destruir as posses invejadas na outra pessoa. Ela chega a causar uma sensação de prazer no invejoso ao notar algum infortúnio do invejado.

Uma historinha anedótica reflete bem essa situação: um gênio milagreiro encontrou dois invejosos caminhando por uma trilha e lhes disse: “Posso fazer por qualquer um de vocês qualquer coisa que me pedirem, com uma condição: farei em dobro para o outro”. Colocou os dois numa posição difícil, porque o outro teria muito mais que aquele que pedisse algo. Depois de muito pensar, um deles disse: “Já sei o que quero. Quero que você me fure um olho”. Eis uma ótima figuração do que seja a inveja do mal. Ela pode se tornar prejudicial para a própria pessoa quando "agride" o outro em maior grau. Ela se manifesta em geral quando a pessoa que sente inveja começa a torcer para que a outra se dê mal nos seus empreendimentos.

Além disso, a inveja do mal pode ser encarada como um desvio de caráter e ser um sintoma2 de certos transtornos de personalidade, como no Transtorno de Personalidade Borderline, no Transtorno de Personalidade Passivo-Agressiva e no Transtorno de Personalidade Narcisista.

Leia sobre "Ciúme normal e ciúme patológico", "Psicoterapias", "Terapia cognitivo3 comportamental" e "Diferenças entre psiquiatra, psicólogo e psicanalista".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da U.S. National Library of Medicine e da Cleveland Clinic.

ABCMED, 2021. Inveja “do bem” e inveja “do mal”: quais as diferenças?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1392830/inveja-do-bem-e-inveja-do-mal-quais-as-diferencas.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Raiva: 1. Doença infecciosa freqüentemente mortal, transmitida ao homem através da mordida de animais domésticos e selvagens infectados e que produz uma paralisia progressiva juntamente com um aumento de sensibilidade perante estímulos visuais ou sonoros mínimos. 2. Fúria, ódio.
2 Sintoma: Qualquer alteração da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. O sintoma é a queixa relatada pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
3 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
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