Psicodrama - em que consiste?
O que é psicodrama?
Num sentido amplo, o Psicodrama é um método de ação profunda e transformadora, que trabalha tanto as relações interpessoais como as ideologias particulares e coletivas que as sustentam. Pode ser usado nos campos da saúde1, da educação, das organizações e dos projetos sociais. É orientado pela emoção, pela co-criação em grupo, pois busca promover estados espontâneos, discriminar e integrar, com certa harmonia, o individual com o coletivo, o mundo interno com a realidade compartilhada. Produz catarse2 emocional e insights cognitivos3, para o quê usa tanto a comunicação verbal como a não verbal.
Num sentido mais restrito, o Psicodrama é uma técnica de psicoterapia de grupo (raramente individual) em que os pacientes escolhem os papeis que vão desempenhar na dramatização de uma situação com forte carga emocional, que será discutida pelos demais participantes do grupo, o que dá ao terapeuta a oportunidade de apreender os sintomas4 que afloram no relacionamento entre os participantes do grupo.
A representação dramática improvisada é usada como núcleo de abordagem e exploração da psique humana e seus vínculos emocionais, visando à catarse2 e ao desenvolvimento da espontaneidade do indivíduo.
O Psicodrama foi criado por Jacob Levy Moreno, psiquiatra romeno que nasceu em 1898, viveu e trabalhou em Viena até 1925 quando emigrou para os Estados Unidos, onde desenvolveu suas teorias e veio a falecer em 1974.
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A relação do psicodrama com o teatro
Moreno tinha, desde a infância, uma paixão pelo teatro e gostava de reunir amigos para representar. Na adolescência, ele viveu uma fase mais mística em sua vida, já que começou a reunir um grupo de amigos e discípulos à sua volta em 1908. Juntos, eles criaram uma religião centrada em criatividade, encontros e anonimato. Através dela eles ajudavam pobres e refugiados, deixavam crescer a barba e discutiam questões teológicas e filosóficas.
Em 1922, Moreno alugou um teatro e o nomeou de Teatro de Espontaneidade. Ali, ele se reunia todas as noites com atores de projeção para representar dramas do cotidiano. Além disso, havia uma intensa participação do público durante essas dramatizações. Foi nesse momento que Moreno começou a desenvolver sua proposta de Psicodrama. Uma observação de Moreno, que talvez tenha sido capital para a criação do Psicodrama terapêutico, foi a de que as pessoas mais introvertidas e inibidas, mantendo represadas suas emoções, eram as que melhor se desempenhavam nas representações, expressando estados interiores.
Em que consiste o psicodrama?
Para Moreno, o Psicodrama terapêutico, procura transferir a mente para fora. Para ele, isso é um método de diagnóstico5 e de tratamento. A representação de papéis pode ser aplicada a qualquer tipo de problema, seja ele pessoal ou de grupo, de crianças ou de adultos. Moreno considerava o homem como um ser social que precisa pertencer a um grupo para atender suas necessidades básicas e para solver seus problemas. A utilização de técnicas psicodramáticas ajuda no desempenho dos papeis sociais. Para a efetivação da técnica, a teoria psicodramática se pauta em alguns pilares básicos: a teoria de papeis e a teoria da espontaneidade.
O psicodrama pode ser realizado individualmente, mas mais frequentemente é realizado em grupos. Consiste em que uma pessoa do grupo, ao invés de simplesmente falar sobre um de seus problemas, é convidada a dramatizá-lo, escolhendo outras pessoas do grupo para substituírem as pessoas realmente envolvidas. Essa forma de dramatizar os problemas comunica mais que simplesmente falar sobre eles e permite às demais pessoas analisar as ideias e sentimentos envolvidos na situação.
Na técnica do psicodrama o “público” (membros do grupo terapêutico) passa a representar seus dramas cotidianos no espaço cênico. A situação é composta por um “palco” (espaço cênico), o protagonista ou cliente e um diretor ou terapeuta. Nesse contexto, o espaço cênico é multidimensional e inclui o verbal, o corporal, gestual, a cultura, o jogo e a imaginação. Além deles, há também os egos auxiliares, que falarão pelo “ator” e o público, constituído pelos demais participantes do grupo. As técnicas utilizadas podem ser múltiplas, mas consistem basicamente na inversão de papéis, em que o paciente é colocado no lugar do outro e na percepção do duplo. Por meio das técnicas utilizadas, as pessoas conseguem uma nova percepção de si, também percebendo melhor os outros e permitindo o surgimento de uma nova linguagem resignificada.
De um modo geral, o processo do psicodrama se desenvolve em quatro fases:
- Aquecimento inespecífico / preparação. Nessa primeira etapa, o terapeuta discute com o grupo as questões que podem ser tratadas pela dramatização. Nesse ponto, as pessoas ainda não têm entrosamento suficiente e deve-se conduzi-las a uma atividade para fortalecer os laços entre elas. Em seguida, são selecionados os protagonistas da situação a ser dramatizada.
- Aquecimento específico. Nesse momento são definidos, preferencialmente a partir do próprio grupo, os personagens e a cena a ser representada. Ademais, se houver a necessidade, os elementos cênicos adicionais podem ser selecionados e posicionados.
- A dramatização. Aqui acontece a representação dos papéis e a dramatização em si. É importantíssimo que essa seja o mais realista possível. Assim, é preciso deixar emergir sensações e reações verdadeiras, comandadas pela espontaneidade.
- Comentários. Esse é o último momento e, talvez, o mais importante. Aqui o grupo compartilha as emoções vivenciadas podendo falar livremente e sem julgamentos. É esperado que eles vivam uma verdadeira catarse2 e expurguem todos os sentimentos.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites do Instituto Sedes Sapientiae e da FEBRAP – Federação Brasileira de Psicodrama.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.