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Ácido lisérgico e seus efeitos no organismo

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O que é o ácido lisérgico?

O ácido lisérgico, LSD ou dietilamida do ácido lisérgico, é um produto que lembra substâncias presentes no cogumelo Claviceps purpúrea, de efeito alucinógeno reconhecido. Embora tenha estrutura química semelhante a essas substâncias, ele não é produzido por nenhuma planta e sim fabricado em laboratórios. Portanto, é uma substância sintética e não uma substância natural.

Sua estrutura química básica é semelhante a dos alcaloides do Ergot e está estruturalmente relacionada a vários outros medicamentos que podem bloquear a ação da serotonina no tecido1 cerebral. O uso como agente recreativo começou no início dos anos 1960. Sua popularidade continuou no início dos anos 1970 e aumentou muito pelo famoso festival de Woodstock.

Ele consiste em um líquido que não possui odor, cor ou sabor, utilizado por via oral, embaixo da língua2, através de conta-gotas, bebidas ou selos de cartas. O ácido lisérgico é potentíssimo, mesmo em pequeníssimas doses, de 20 a 50 microgramas. Nessa quantidade já produz grandes alterações mentais.

Leia sobre "Sinais3 da dependência às drogas", "Alucinógenos" e "Alucinações4".

Quais são os efeitos do ácido lisérgico sobre o organismo?

Após a administração, o ácido lisérgico pode ser absorvido prontamente em qualquer superfície mucosa5 e atua dentro de 30 a 60 minutos. Seus efeitos podem durar de 8 a 10 horas e, ocasionalmente, alguns deles persistem por vários dias. O ácido lisérgico bloqueia a ação da serotonina, um neurotransmissor atuante no sistema nervoso6 cerebral, e produz desvios acentuados do comportamento normal. Contudo, o completo mecanismo de ação da droga permanece incerto.

Os efeitos físicos do ácido lisérgico incluem pupilas dilatadas, aumento da temperatura do corpo, aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial7, suores, perda de apetite, falta de sono, boca8 seca e tremores. Mesmo doses grandes do ácido não chegam a intoxicar seriamente uma pessoa, do ponto de vista físico. Mas efeitos de fadiga9 e tensão podem ser relacionados ao uso crônico10 e podem perdurar por vários dias.

Na mente, os efeitos do ácido lisérgico são algo imprevisíveis: dependem da quantidade ingerida, da personalidade do usuário, do humor e até das expectativas do usuário. Os efeitos mentais aparecem de 30 a 90 minutos após a ingestão da substância e duram aproximadamente 6 horas. Durante este período, o ácido lisérgico produz fenômenos alucinatórios que envolvem um conjunto de percepções que ocorre sem a presença de um objeto. Isto significa que, mesmo sem ter um estímulo, a pessoa pode sentir, ver e ouvir. As sensações são "reais", provocando dor, prazer, medo, ansiedade e outras.

Além disso, o ácido lisérgico provoca uma modificação na percepção de tempo, modificação da sensação de espaço, modificação de sensações do próprio corpo e despersonalização (a pessoa não sabe mais quem ou o que é). O usuário pode ter "uma boa viagem" e ver formas coloridas ou "uma viagem ruim" com crises depressivas. Pode ocorrer também uma mistura de informações sensoriais chamada sinestesia, provocando sensações como ouvir uma cor, ver um som, ou seja, as sensações auditivas se traduzem em imagens e as imagens se traduzem em sons.

O ácido lisérgico produz, pois, profundas alterações mentais chamadas de alucinações4 como, por exemplo, “ouvir” sons ou “ver” coisas que não existem. Em geral as pessoas fazem esse uso na intenção de ter sensações novas e coloridas, geralmente agradáveis, mais coloridas e profundas. Outros usam o ácido porque esperam ter visões reveladoras, conhecer melhor a si e aos outros, o que, no entanto, não é verdadeiro. Usa-se dizer que melhora a apreciação do ambiente pelo usuário, aumenta a criatividade e também parece "abrir as portas da consciência" para experiências místicas ou religiosas alucinantes e traz mudanças profundas no usuário.

Essas experiências frequentemente são tidas como agradáveis e as pessoas tendem a repeti-las. Em ocasiões, no entanto, elas são intensamente desagradáveis. Foi isso que levou Aldous Huxley a escrever um livro em 1954 intitulado “As portas da percepção: o céu e o inferno”.

Qual é o uso do ácido lisérgico na Medicina?

O ácido lisérgico foi usado experimentalmente em pesquisas na medicina como agente psicotomimético (que induz sintomas11 psicóticos) para produzir estados mentais que se pareciam com os de doenças psicóticas reais (principalmente as esquizofrenias). Na década de 1960, o ácido lisérgico chegou a ser proposto para uso no tratamento de neuroses, principalmente em pacientes recalcitrantes a procedimentos psicoterapêuticos mais convencionais. Ele também foi tentado como um tratamento para o alcoolismo e para reduzir o sofrimento de pacientes com câncer12 em estado terminal. Foi estudado como um complemento no tratamento da dependência de narcóticos, de crianças com autismo e da chamada personalidade psicopática. No entanto, em nenhum desses usos ele se comprovou ser efetivo e acabou sendo abandonado.

Contudo, no início do século XXI, novas pesquisas sobre o tratamento do alcoolismo com o ácido lisérgico foram revividas, alguns pesquisadores concluindo que ele poderia fornecer benefícios. Também passou a haver interesse no uso do ácido lisérgico para aliviar a ansiedade em pacientes que sofrem de doença terminal.

No Brasil, o Ministério da Saúde13 não reconhece o uso médico do ácido lisérgico e proíbe totalmente a produção, comércio e uso do mesmo em todo o território nacional. A Organização Mundial da Saúde13, por seu turno, considera-o como uma droga proscrita.

Quais são as complicações possíveis com o uso do ácido lisérgico?

O uso do ácido lisérgico fora de um ambiente clínico controlado pode ser perigoso. Mudanças de humor, distorções de tempo e espaço e comportamento impulsivo são complicações especialmente perigosas para um indivíduo que toma o medicamento. O indivíduo pode ficar cada vez mais desconfiado das intenções e motivações daqueles que o rodeiam e pode agir agressivamente contra eles.

O perigo do ácido lisérgico não está tanto na sua toxicidade14 para o organismo, mas sim no fato de que da parte do paciente haja perda da habilidade de perceber e avaliar situações de risco. O usuário fica "fora do ar", julga-se com capacidades ou forças irreais. Por exemplo, acha que pode voar atirando-se pela janela ou andar sobre as águas avançando mar adentro, etc.

Veja também sobre "Interação entre álcool e drogas psicotrópicas", "Esquizofrenia15" e "Transtornos devidos ao abuso de drogas".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da UNIFESP – Escola Paulista de Medicina, da Encyclopedia Britannica e do NIH – National Institute of Health.

ABCMED, 2019. Ácido lisérgico e seus efeitos no organismo. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1351913/acido-lisergico-e-seus-efeitos-no-organismo.htm>. Acesso em: 20 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
2 Língua:
3 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
4 Alucinações: Perturbações mentais que se caracterizam pelo aparecimento de sensações (visuais, auditivas, etc.) atribuídas a causas objetivas que, na realidade, inexistem; sensações sem objeto. Impressões ou noções falsas, sem fundamento na realidade; devaneios, delírios, enganos, ilusões.
5 Mucosa: Tipo de membrana, umidificada por secreções glandulares, que recobre cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
6 Sistema nervoso: O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal e a porção periférica está constituída pelos nervos cranianos e espinhais, pelos gânglios e pelas terminações nervosas.
7 Pressão arterial: A relação que define a pressão arterial é o produto do fluxo sanguíneo pela resistência. Considerando-se a circulação como um todo, o fluxo total é denominado débito cardíaco, enquanto a resistência é denominada de resistência vascular periférica total.
8 Boca: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
9 Fadiga: 1. Sensação de enfraquecimento resultante de esforço físico. 2. Trabalho cansativo. 3. Redução gradual da resistência de um material ou da sensibilidade de um equipamento devido ao uso continuado.
10 Crônico: Descreve algo que existe por longo período de tempo. O oposto de agudo.
11 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
12 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
13 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
14 Toxicidade: Capacidade de uma substância produzir efeitos prejudiciais ao organismo vivo.
15 Esquizofrenia: Doença mental do grupo das Psicoses, caracterizada por alterações emocionais, de conduta e intelectuais, caracterizadas por uma relação pobre com o meio social, desorganização do pensamento, alucinações auditivas, etc.
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