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Considerações sobre o término da psicoterapia - vantagens de fazer psicoterapia, quando decidir parar, reações ao encerramento do tratamento

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Quais são as vantagens de fazer uma psicoterapia

A psicoterapia é uma cura pela palavra, embora haja também modelos que envolvem encenações (psicodrama), exercícios ou outros meios. Mas, no geral, a psicoterapia é um "diálogo". No entanto, não um diálogo qualquer ou um mero bate papo recheado de conselhos e orientações. Pelo contrário, é um "diálogo" orientado por normas técnicas que devem conduzir o paciente a eliminar seus sintomas1 e encontrar seus próprios caminhos, sem interferência das posições e preferências do terapeuta.

A mais óbvia de todas as vantagens de fazer uma psicoterapia é afastar sintomas1 que estejam infelicitando a pessoa: fobias2, depressões, ansiedades, transtornos obsessivos-compulsivos (TOC) e outros. Uma vantagem adicional é, de fato, dilatar as potencialidades individuais. Essa dilatação decorre, por um lado, da supressão dos sintomas1 e, por outro, da dissolução de amarras e inibições individuais.

Isso é conseguido, entre outros, por meio de vários recursos adicionais ganhos com a psicoterapia: novas maneiras mais racionais de pensar; aquisição de consciência de motivações inconscientes; reconhecimento de como as pessoas são vistas de fora (cada pessoa só consegue ver-se “de dentro”); elevação da autoestima e maior consciência das potencialidades pessoais que podem ser exploradas.

Saiba mais sobre "Psicoterapia", "Terapia cognitivo3 comportamental" e "Psiquiatra, psicólogo ou psicanalista".

Como e quando terminar uma psicoterapia?

Certamente, não há uma resposta que seja unanimemente aceita, devido a alguns fatores, como a natureza subjetiva da questão e a existência de diversos tipos de psicoterapia. No entanto, algumas considerações sobre a questão podem ajudar a clareá-la.

A psicoterapia geralmente é iniciada a partir de algum sintoma4 ou característica pessoal que se supõe poder ser corrigido, e deveria terminar quando esse sintoma4 ou problema tiver um fim consolidado. Mas, como determinar esse momento ideal? Algumas pessoas podem ainda se decidir pela psicoterapia como uma maneira de expandir e maximizar suas capacidades pessoais. Nesses casos, é mais difícil ainda estabelecer o momento de parar de fazer psicoterapia.

Algumas dicas para ajudar a decidir quando encerrar a psicoterapia

Idealmente, a psicoterapia deve ser encerrada por um acordo mútuo entre terapeuta e paciente. Em caso de não existir esse acordo, a opinião do paciente deve ser preponderante, por duas razões principais:

  • Ele não deve ceder ao terapeuta (como a qualquer outra pessoa) o direito de tomar decisões sobre si mesmo.
  • Uma psicoterapia não progride se não conta com a vontade e o empenho do paciente. E não adianta ela ser fruto da vontade de outra pessoa, ainda que fundamentada.

Algumas dicas podem ajudar o paciente a decidir pelo fim da terapia. Para começar, façamos uma comparação com os exercícios físicos, embora a comparação não valha integralmente. A ginástica tem parâmetros objetivos: quantos quilos perdeu? Quanto ganhou de massa muscular? Como melhorou seu desempenho físico? Etc. Mas, naquilo que pode ser comparado, essa comparação entre elas talvez seja de alguma utilidade: por quanto tempo se deve fazer ginástica? Quando parar? Idealmente, deve-se fazer ginástica pela vida inteira. No entanto, quase ninguém faz ginástica pela vida inteira.

Normalmente, a pessoa começa a fazer atividades físicas instigada por algum sintoma4 ou condição que se acredita que ela possa corrigir como, por exemplo, dores, defeitos de posturas e obesidade5, e para de fazer ginástica quando esses motivos desaparecem. Pode ser, também, que a pessoa procure fazer ginástica para melhorar seu condicionamento físico e, nestes casos, é ainda mais difícil determinar o momento de parar.

Algo parecido ocorre com a psicoterapia. No entanto, algumas ponderações podem ser úteis:

  1. Reconhecer que encerrar uma psicoterapia é quase tão difícil quanto encerrar qualquer relacionamento social, mesmo os relacionamentos amorosos. Haverá inevitavelmente uma “síndrome de abstinência” e os sintomas1 mais agudos só cederão com o tempo (em geral não muito longo).
  2. Assumir que nunca experimentará um estado de felicidade plena e de total ausência de problemas, porque isso não existe. Enfrentar alguns problemas e conseguir superá-los ou conviver com eles faz parte de uma vida normal, desde que não afete os desempenhos cotidianos da pessoa.
  3. A razão mais ostensiva que indica o momento de parar uma psicoterapia é a consolidação (permanência) do desaparecimento dos sintomas1, se existentes. Não basta que os sintomas1 simplesmente tenham desaparecido, assim como não basta que em um tratamento de ortodontia, por exemplo, os dentes tenham voltado à sua posição normal. É preciso maior tempo para que as correções se fixem.
  4. Geralmente o terapeuta é visto como uma pessoa especial, idealizado como dotado de condições excepcionais, livre de problemas, cujas ideias sobre o término da psicoterapia devem preponderar sobre as do paciente. Supostamente, ele conhece, melhor que o paciente, os indicativos do momento de interromper a psicoterapia. No entanto, embora essa idealização possa ser útil à terapia, isso não deve continuar assim. O terapeuta é uma pessoa real que tem tantos problemas quanto o paciente e às vezes ainda mais. Alguns autores chegam mesmo a dizer que o bom terapeuta não é aquele que não tenha problemas, mas aquele que os tenha ou tenha tido e os tenha solucionado por meio de uma psicoterapia. Em resumo: uma terapia deve terminar com a desidealização do terapeuta.
  5. O momento de parar uma psicoterapia pode ser reconhecido por alguns outros indicadores: o paciente sente-se mais livre dos sintomas1 e das amarras, mais seguro e sem ansiedades em situações que antes lhe eram estressantes e sente-se mais à vontade nos seus relacionamentos gerais, sendo mais capaz de produzir, criar e amar. Numa frase: sente-se mais feliz.

Reações ao término da psicoterapia

Num mundo ideal, toda psicoterapia teria um bom final, no entanto, nem sempre as psicoterapias terminam bem. Então, por que esse final positivo é relativamente raro? Às vezes, os clientes não gostam de se despedir, e nem sequer sabem que existe uma "fase de término" que, entre outras coisas, supõe hostilidades, ainda que não sejam objetivamente justificáveis.

É assim, também, com quase todos os demais relacionamentos sociais: terminam com hostilidades ou, pelo menos, com indiferença (negação). Todo término pode ser sentido como abandono, ainda quando promovido pela própria pessoa. Por outro lado, às vezes existe uma tendência a depreciar a psicoterapia, como recurso para enfrentar a falta dela. Afinal, o que se está deixando para trás “não é tão importante assim”.

É muito comum que, ao terminar uma psicoterapia, a pessoa procure substituí-la por alguma outra atividade, como recurso para não sentir falta dela: um curso de línguas, começar a fazer alguma nova atividade física, tocar um novo instrumento, meditar, etc.

A psicanálise supõe que o término da psicoterapia deva ser estabelecido com antecedência à interrupção das sessões para que essas reações possam ser analisadas e elaboradas.

Leia sobre "Depressões", "Fobias2", "Neurose6", "Transtorno de ansiedade generalizada" e "Transtorno do pânico".

 

ABCMED, 2019. Considerações sobre o término da psicoterapia - vantagens de fazer psicoterapia, quando decidir parar, reações ao encerramento do tratamento. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1336258/consideracoes-sobre-o-termino-da-psicoterapia-vantagens-de-fazer-psicoterapia-quando-decidir-parar-reacoes-ao-encerramento-do-tratamento.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
2 Fobias: Medo exagerado, falta de tolerância, aversão.
3 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
4 Sintoma: Qualquer alteração da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. O sintoma é a queixa relatada pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
5 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
6 Neurose: Doença psiquiátrica na qual existe consciência da doença. Caracteriza-se por ansiedade, angústia e transtornos na relação interpessoal. Apresenta diversas variantes segundo o tipo de neurose. Os tipos mais freqüentes são a neurose obsessiva, depressiva, maníaca, etc., podendo apresentar-se em combinação.
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