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Alucinações na infância

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O que são alucinações1?

Alucinações1 são distúrbios das sensopercepções que consistem na percepção de objetos inexistentes, acompanhados da convicção inabalável na existência dos mesmos. Embora as alucinações1 possam se manifestar através de qualquer um dos cinco sentidos (audição, visão2, tato, olfato e gustação), as mais frequentes são as auditivas e as visuais.

As alucinações1 auditivas podem ser elementares (ruídos, silvos, zumbidos, etc.) ou complexas (figuras, cenas, etc.). As alucinações1 visuais podem também ter diferentes complexidades, podendo inclusive criar figuras inexistentes na realidade, através da combinação de elementos existentes. Assim, por exemplo, um avião pode aparecer como um animal de quatro patas ou um peixe pode estar voando.

As alucinações1 devem ser diferenciadas das ilusões (percepção errônea de estímulos reais), fantasias elaboradas, companheiros imaginários e imagens eidéticas (imagens visuais armazenadas na memória).

Leia mais sobre "Alucinações1".

O que são alucinações1 na infância?

Nos adultos, as alucinações1 geralmente estão ligadas a psicopatologias graves; no entanto, em crianças, embora assustem muito os pais, elas não são incomuns e podem fazer parte do desenvolvimento normal. Mais frequentemente as crianças alegam ver ou ouvir coisas inexistentes.

Pesquisas recentes descobriram que as alucinações1 em crianças são mais comuns do que se imaginava anteriormente. Durante anos, os relatos de crianças verem, ouvirem e experimentarem coisas que não estavam realmente presentes foram considerados parte de uma "imaginação hiperativa" e de um "mundo de fantasia". À medida que se tornou reconhecido que as alucinações1 podem ser identificadas com segurança em crianças, a ciência começou a analisar por que essas experiências ilusórias são muitas vezes mais comuns durante os primeiros anos de vida. Nas brincadeiras de faz de conta, as crianças apenas imaginam e não têm a experiência perceptiva real de ver e ouvir. Outra diferença fundamental é que as alucinações1 são sentidas como impostas e as crianças não podem exercer um controle direto sobre elas.

Quase dois terços das crianças relatam ter tido pelo menos uma experiência alucinatória, que inclui crenças e medos impossíveis e irreais. Em se tratando apenas de alucinações1, descobriu-se que 17% das crianças entre 9 e 12 anos têm essas experiências em algum momento de suas vidas.

Isso, contudo, não significa inevitavelmente que, se uma criança estiver tendo uma alucinação3, está doente. Na maioria dos casos, as alucinações1 infantis desaparecem dentro de alguns dias ou semanas e não são motivo de preocupação. Como as alucinações1 se tornam menos comuns à medida que a idade avança, não está claro se a vida começa em um mundo mais alucinatório, que se torna cada vez mais estável à medida que envelhecemos, ou se a infância é um momento de pico para experiências irreais. A puberdade, apesar de geralmente causar uma desordem emocional, pode ser estabilizadora em nossas percepções.

Quais são as causas das alucinações1 na infância?

As alucinações1 na infância são muitas vezes desencadeadas por estresses da vida, falta de sono e períodos de mau humor, situações que desaparecem quando as situações difíceis se desfazem. Contudo, se elas são perturbadoras ou persistentes devem ser avaliadas por um profissional.

Em casos raros, problemas médicos podem ser a causa das alucinações1 infantis. A epilepsia4 ou os distúrbios do sono podem causar alucinações1. Por razões que não são totalmente claras, a esquizofrenia5, a causa mais grave de alucinações1, é extremamente rara em crianças pequenas. Mas quando ocorrem, as alucinações1 podem ser excessivamente aterrorizantes. Algumas drogas e mesmo medicações também podem causar alucinações1.

Saiba mais sobre "Estresse", "Insônia", "Esquizofrenia5", "Psicoses" e "Antipsicóticos".

Qual é o mecanismo fisiológico6 das alucinações1 na infância?

Embora as alucinações1 em adultos frequentemente sejam consideradas sinônimas de transtornos psicóticos, em crianças não é assim. Segundo Piaget, crianças com menos de 7 anos de idade podem ter dificuldades em distinguir entre sonhos e realidade, entre irrealidade e realidade.

Strauss sugeriu que as alucinações1 psicóticas poderiam estar em um continuum com fenômenos normais. Ele ainda teorizou que alucinações1 não patológicas poderiam se tornar patológicas quando combinadas com determinados traumas como abuso sexual, por exemplo. Em alguns casos, as dificuldades de desenvolvimento, a privação, as condições socioculturais e as relações familiares poderiam contribuir para o teste de realidade prejudicada, favorecendo as alucinações1 em crianças.

Como o médico trata as alucinações1 na infância?

O critério para julgar se uma criança precisa de apoio médico profissional é se as alucinações1 são frequentes, complexas, angustiantes e causadoras de outros comprometimentos. As alucinações1 associadas a emoções positivas e que não interferem nas amizades e na vida familiar da criança, geralmente são benignas e desaparecem por si mesmas.

Como evoluem as alucinações1 na infância?

Crianças com alucinações1, mas sem outros sintomas7 psicóticos, têm um bom prognóstico8 a longo prazo. Alucinações1 na infância não aumentam o risco de psicose9, depressão, transtorno cerebral orgânico ou de outras doenças psiquiátricas na idade adulta.

Leia também sobre "Alucinose orgânica", "Depressão psicótica versus depressão maior" e "Depressão maior ou transtorno depressivo reativo".

 

ABCMED, 2018. Alucinações na infância. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1320893/alucinacoes-na-infancia.htm>. Acesso em: 18 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Alucinações: Perturbações mentais que se caracterizam pelo aparecimento de sensações (visuais, auditivas, etc.) atribuídas a causas objetivas que, na realidade, inexistem; sensações sem objeto. Impressões ou noções falsas, sem fundamento na realidade; devaneios, delírios, enganos, ilusões.
2 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
3 Alucinação: Perturbação mental que se caracteriza pelo aparecimento de sensações (visuais, auditivas, etc.) atribuídas a causas objetivas que, na realidade, inexistem; sensação sem objeto. Impressão ou noção falsa, sem fundamento na realidade; devaneio, delírio, engano, ilusão.
4 Epilepsia: Alteração temporária e reversível do funcionamento cerebral, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Quando restritos, a crise será chamada crise epiléptica parcial; quando envolverem os dois hemisférios cerebrais, será uma crise epiléptica generalizada. O paciente pode ter distorções de percepção, movimentos descontrolados de uma parte do corpo, medo repentino, desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente e até perder a consciência - neste caso é chamada de crise complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Existem outros tipos de crises epilépticas.
5 Esquizofrenia: Doença mental do grupo das Psicoses, caracterizada por alterações emocionais, de conduta e intelectuais, caracterizadas por uma relação pobre com o meio social, desorganização do pensamento, alucinações auditivas, etc.
6 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
7 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
8 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
9 Psicose: Grupo de doenças psiquiátricas caracterizadas pela incapacidade de avaliar corretamente a realidade. A pessoa psicótica reestrutura sua concepção de realidade em torno de uma idéia delirante, sem ter consciência de sua doença.
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