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Tratamento de feridas - como deve ser feito?

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O que são feridas?

Uma ferida é uma interrupção na continuidade de um tecido1 corpóreo, geralmente a pele2. As feridas podem ser classificadas de diversas maneiras:

  • Quanto à profundidade: feridas superficiais, quando atingem apenas as camadas mais superficiais da pele2 (derme e epiderme3), ou feridas profundas, quando atingem níveis mais profundos.
  • Quanto à complexidade: feridas simples, que, em geral, são superficiais e livres de sinais4 de infecção5, demandando apenas cuidados com curativos ligeiros e menos frequentes, e feridas complexas, mais profundas, comprometendo tipos diferentes de tecidos além da pele2 (ossos, cartilagens6, tecido adiposo7, fáscias musculares, tendões8, ligamentos9, vasos sanguíneos10, tecido nervoso11, etc.), muitas vezes infectadas ou com algum grau de necrose12.
  • Saiba mais sobre "Necrose12" e "Diferenças entre inflamação13 e infecção5".
  • Quanto ao formato:
    • Ferida puntiforme, geralmente causada por instrumento perfurante de pequena área de secção transversal, como espinhos, pregos, agulhas, etc.
    • Ferida incisa, de formato linear e bordas regulares, quase sempre causada por lâminas como facas, lâminas de barbear, etc.
    • Ferida cortocontusa, de formato irregular, com diversos segmentos ulcerados e áreas de equimoses14 adjacentes, normalmente causadas por objetos que tanto produzem lesões15 por corte e por impacto, como machados, foices, aresta de um tijolo, etc.
    • Ferida perfurocontusa, de formato quase regular e bordas ligeiramente irregulares. Possibilidade de se observar áreas de equimoses14 e hematomas16 adjacentes, normalmente causadas por objetos que penetram a pele2 mediante impacto, como um projétil de arma-de-fogo, por exemplo.
    • Ferida perfuroincisa, de formato e bordas habitualmente regulares, normalmente causada por objetos que penetram a pele2 com pouco impacto mas com bom potencial de divulsão de tecidos, como uma lâmina de um punhal, por exemplo.
    Além dessas, há as feridas não traumáticas:
    • Ferida causada por queimadura de formato irregular e extensão variável, seja causada por radiação ionizante, fonte de calor, abrasão ou produto químico. A queimadura é dita de primeiro grau se há apenas "avermelhamento" do local, sem produção de ferimento; de segundo grau quando há formação de bolhas que se ulceram e formam feridas superficiais; de terceiro grau quando há necrose12 da derme17 e tecido adiposo7 ou de quarto grau quando há necrose12 de tecidos profundos como ossos, cartilagens6, músculos18, etc e formação de lesões15 ulceradas.
    • Ferida causada pelo frio, cujo formato irregular depende da área de pele2 exposta à baixa temperatura. Muitas vezes pode assumir as mesmas características das queimaduras, apenas com "avermelhamento" local ou com a formação de bolhas ou necrose12 de tecidos mais superficiais ou profundos.
    • Ferida causada por fatores endógenos como pênfigo, vasculites, psoríase19, xeroderma, etc. Têm formatos diversos, na dependência da patologia20 causadora. Variam de "rachaduras" em determinadas áreas de pele2 até lesões15 evolutivas que surgem como pequenos pontos avermelhados ou escurecidos e se desenvolvem em feridas de dificílima cicatrização.
Leia sobre "Queimadura", "Pênfigo", "Psoríase19" e "Cicatrização".

Como se preparar para cuidar das feridas?

Cada ferida exigirá uma preparação específica, mas há alguns princípios básicos:

  • Lavar as mãos21 antes e depois do procedimento.
  • Comunicar previamente ao paciente o procedimento que será realizado.
  • Limpar a ferida com soro22 fisiológico23 0,9%.
  • Usar técnica estéril ou limpa.
  • Aplicar a medicação prescrita.
  • Não secar o leito da ferida.
  • Utilizar coberturas que favoreçam a cicatrização.
  • Preencher as cavidades.
  • Proteger as bordas da ferida.
  • Ocluir com material hipoalergênico.
  • Desbridar24 quando necessário.

O médico ou o enfermeiro deve registrar em prontuário o procedimento realizado e a evolução da ferida, descrevendo seus aspectos principais.

Como tratar as feridas?

O tratamento das feridas depende da natureza de cada uma delas e pode ser tão simples como apenas colocar uma cobertura sobre elas ou tão complexo que requeira conhecimentos especializados. Em geral, essa atividade cabe à equipe de enfermagem. Cerca de 80% dos casos são atendidos em nível ambulatorial, mas outros casos tornam necessários conhecimentos teóricos mais aprofundados para um tratamento eficaz, o que faz do tratamento de feridas uma área especializada da enfermagem. Alguns casos têm mesmo de ser tratados por médicos, em hospitais.

Alguns fatores atuam de modo a favorecer o desenvolvimento de uma ferida e a dificultar seu tratamento: diabetes25, hipertensão26, tabagismo e obesidade27. Esses fatores comprometem a perfusão tecidual, aumentando o risco de desenvolver lesões15 e dificultando a cicatrização quando as mesmas ocorrem.

Nos pacientes acamados ou em uso de cadeira de rodas, os cuidados devem ser redobrados para evitar o surgimento de lesões15 por pressão que normalmente surgem nos pontos de proeminências ósseas. E, paralelamente, o paciente pode apresentar problemas que interferem no processo de cicatrização como idade e seu estado nutricional.

A cicatrização é um processo sistêmico28, que depende do organismo como um todo e, portanto, tanto dos cuidados de enfermagem quanto do tratamento médico das condições subjacentes à ferida e do estado nutricional, emocional, psicossocial e ambiental do paciente.

Veja mais sobre "Diabetes25", "Hipertensão26", "Parar de fumar" e "Obesidade27".

Numa ferida pode-se encontrar diversos tipos de tecidos, alguns bons que fazem parte do processo normal de cicatrização (tecido de granulação29, tecido1 de epitelização30, fibrina31, etc.) e outros ruins e que devem ser retirados (tecido1 macerado, tecido1 esfacelado, tecido1 de necrose12, etc.).

Por um processo natural, chamado desbridamento32 autolítico, o organismo realiza a desintegração das células33 desvitalizadas. Porém, nas feridas crônicas, este mecanismo muitas vezes é insuficiente e a retirada desses tecidos ruins tem de ser feita artificialmente, porque esses tecidos desvitalizados aumentam o risco de infecção5 e dificultam o processo de cicatrização. Nesses casos, pode ser necessário fazer um desbridamento32 artificial.

O desbridamento32 cirúrgico é realizado em centro cirúrgico, pelo cirurgião, e está indicado para casos de necrose12. O desbridamento32 instrumental consiste na remoção do tecido1 desvitalizado em diversas sessões e pode ser realizado a beira do leito ou em sala de curativos com a utilização de material como bisturi, tesouras e pinças. Esta técnica pode ser realizada por enfermeiro devidamente capacitado com conhecimento e formação específica. O desbridamento32 enzimático consiste na aplicação tópica de substâncias enzimáticas e proteolíticas que atuam como desbridantes diretamente em tecidos necróticos.

Feito isso, um cuidado especial deve ser dado às coberturas específicas para cada tipo de lesão34. O profissional deve escolher a cobertura mais adequada para cada caso, com o objetivo de facilitar o processo de cicatrização.

Leia também sobre "Úlceras35 de perna", "Úlceras35 de decúbito36 ou escaras37" e "Prevenção do Pé Diabético".

 

ABCMED, 2017. Tratamento de feridas - como deve ser feito?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/exames-e-procedimentos/1295093/tratamento-de-feridas-como-deve-ser-feito.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
2 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
3 Derme e epiderme: A derme é a camada da pele localizada entre a epiderme e a hipoderme, responsável pela resistência e elasticidade da pele. Constituída por tecido conjuntivo (fibras colágenas e elásticas envoltas por substância fundamental), vasos sanguíneos e linfáticos, nervos e terminações nervosas. Os folículos pilossebáceos e glândulas sudoríparas, originadas na epiderme, também localizam-se na derme. A epiderme é a camada mais externa da pele, constituída por células epiteliais (queratinócitos), melanócitos e células de defesa imunológica (células de Langerhans). A epiderme dá origem aos anexos cutâneos: unhas, pêlos, glândulas sudoríparas e glândulas sebáceas. A abertura dos folículos pilossebáceos (pêlo + glândula sebácea) e das glândulas sudoríparas na pele formam os orifícios conhecidos como poros.
4 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
5 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
6 Cartilagens: Tecido resistente e flexível, de cor branca ou cinzenta, formado de grandes células inclusas em substância que apresenta tendência à calcificação e à ossificação.
7 Tecido Adiposo: Tecido conjuntivo especializado composto por células gordurosas (ADIPÓCITOS). É o local de armazenamento de GORDURAS, geralmente na forma de TRIGLICERÍDEOS. Em mamíferos, existem dois tipos de tecido adiposo, a GORDURA BRANCA e a GORDURA MARROM. Suas distribuições relativas variam em diferentes espécies sendo que a maioria do tecido adiposo compreende o do tipo branco.
8 Tendões: Tecidos fibrosos pelos quais um músculo se prende a um osso.
9 Ligamentos: 1. Ato ou efeito de ligar(-se). Tudo o que serve para ligar ou unir. 2. Junção ou relação entre coisas ou pessoas; ligação, conexão, união, vínculo. 3. Na anatomia geral, é um feixe fibroso que liga entre si os ossos articulados ou mantém os órgãos nas respectivas posições. É uma expansão fibrosa ou aponeurótica de aparência ligamentosa. Ou também uma prega de peritônio que serve de apoio a qualquer das vísceras abdominais. 4. Vestígio de artéria fetal ou outra estrutura que perdeu sua luz original.
10 Vasos Sanguíneos: Qualquer vaso tubular que transporta o sangue (artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias).
11 Tecido Nervoso:
12 Necrose: Conjunto de processos irreversíveis através dos quais se produz a degeneração celular seguida de morte da célula.
13 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
14 Equimoses: Manchas escuras ou azuladas devido à infiltração difusa de sangue no tecido subcutâneo. A maioria aparece após um traumatismo, mas pode surgir espontaneamente em pessoas que apresentam fragilidade capilar ou alguma coagulopatia. Após um período de tempo variável, as equimoses desaparecem passando por diferentes gradações: violácea, acastanhada, esverdeada e amarelada.
15 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
16 Hematomas: Acúmulo de sangue em um órgão ou tecido após uma hemorragia.
17 Derme: Camada interna das duas principais camadas da pele. A derme é formada por tecido conjuntivo, vasos sanguíneos, glândulas sebáceas e sudoríparas, nervos, folículos pilosos e outras estruturas. É constituída por uma fina camada superior que é a derme papilar e uma camada mais grossa, mais baixa, que é a derme reticular.
18 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
19 Psoríase: Doença imunológica caracterizada por lesões avermelhadas com descamação aumentada da pele dos cotovelos, joelhos, couro cabeludo e costas juntamente com alterações das unhas (unhas em dedal). Evolui através do tempo com melhoras e pioras, podendo afetar também diferentes articulações.
20 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
21 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
22 Soro: Chama-se assim qualquer líquido de características cristalinas e incolor.
23 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
24 Desbridar: Sinônimo de debridar, soltar(-se) da brida ou bridão (o animal); desembridar. Em medicina significa remover a brida, a dobra membranosa que comprime um órgão ou remover tecido necrosado ou corpo estranho.
25 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
26 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
27 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
28 Sistêmico: 1. Relativo a sistema ou a sistemática. 2. Relativo à visão conspectiva, estrutural de um sistema; que se refere ou segue um sistema em seu conjunto. 3. Disposto de modo ordenado, metódico, coerente. 4. Em medicina, é o que envolve o organismo como um todo ou em grande parte.
29 Tecido de Granulação: Tecido conjuntivo vascular formado na superfície de um ferimento, úlcera ou tecido inflamado em cicatrização. Constituído por capilares novos e um infiltrado (com células linfóides, macrófagos e células plasmáticas).
30 Epitelização: É uma das fases da cicatrização de feridas, quando a ferida está coberta por células epiteliais. Os macrófagos liberam o fator de crescimento epidérmico (FCE), que estimula a proliferação e a migração das células epiteliais. Os queratinócitos, às margens da ferida e em volta dos folículos pilosos remanescentes, sintetizam a fibronectina, a qual forma uma matriz temporária ao longo da qual as células migram.
31 Fibrina: Proteína formada no plasma a partir da ação da trombina sobre o fibrinogênio. Ela é o principal componente dos coágulos sanguíneos.
32 Desbridamento: Retirada de tecido desvitalizado (necrosado) ou de corpo estranho de uma ferida.
33 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
34 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
35 Úlceras: Feridas superficiais em tecido cutâneo ou mucoso que podem ocorrer em diversas partes do organismo. Uma afta é, por exemplo, uma úlcera na boca. A úlcera péptica ocorre no estômago ou no duodeno (mais freqüente). Pessoas que sofrem de estresse são mais susceptíveis a úlcera.
36 Decúbito: 1. Atitude do corpo em repouso em um plano horizontal. 2. Na história da medicina, é o momento em que o paciente é levado a deitar-se devido à doença.
37 Escaras: Formação de um novo tecido durante o processo de cicatrização de um ferimento.
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