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Enterostomia - como é o procedimento? Quando deve ser feito? Como é a evolução?

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O que é enterostomia?

Uma enterostomia é uma cirurgia na qual o cirurgião abre, na parede abdominal1 do paciente, uma passagem temporária ou permanente para seu intestino delgado2, para permitir a drenagem3 das fezes ou inserir um tubo (uma sonda) para alimentação. A abertura é chamada de estoma4, da palavra grega para boca5.

As enterostomias são classificadas de acordo com a parte do intestino que é usada para criar o estoma4: ileostomia, jejunostomia6, colostomia7. Frequentemente as pessoas usam a palavra ostomia como uma palavra que cobre todos esses tipos.

Saiba mais sobre "Ileostomia" e "Colostomia7".

Por que fazer enterostomia?

As enterostomias visam criar uma nova abertura para a passagem de matéria fecal quando o funcionamento intestinal normal é interrompido ou quando doenças do intestino não podem ser tratadas com medicamentos ou cirurgias menos radicais. Algumas situações que podem exigir enterostomias incluem:

  1. Cura de segmentos intestinais inflamados (enterostomias temporárias).
  2. Tratamento de emergência8 de tiro ou de outras feridas penetrantes do abdômen que tenham perfurado os intestinos9 (caso Bolsonaro). Uma enterostomia é necessária para evitar que o conteúdo do intestino se espalhe pelo abdômen e cause uma peritonite10 (inflamação11 séria no interior da cavidade abdominal12 que pode levar à morte). Essas enterostomias são em geral temporárias.
  3. Colocação de um tubo para, através dele, administrar soluções nutricionais diretamente para o estômago13 ou no jejuno14 quando, por alguma razão, o alimento não pode ser ingerido pela boca5.
  4. Remoção de seções doentes dos intestinos9.
  5. Tratamento de câncer15 avançado ou outras causas de obstrução intestinal.

Uma série de outras condições também pode tornar uma pessoa incapaz de nutrir-se através das vias normais, como condições neurológicas, lesões16 na boca5 ou garganta17, obstruções do estômago13, câncer15 do esôfago18 ou estômago13 ou condições ulcerativas do trato gastrointestinal, sendo então indicada a alimentação por uma sonda introduzida por meio de enterostomia, se a parte terminal do trato gastrointestinal está livre. Este procedimento que utiliza o trato gastrointestinal é preferido à nutrição parenteral19 intravenosa, pois mantêm a função do intestino, fornece melhor imunidade20 e evita as complicações relacionadas à alimentação intravenosa.

Há uma variedade de produtos nutricionais entéricos, alimentação líquida com a qualidade nutricional dos alimentos sólidos. Pacientes com função gastrointestinal normal podem se beneficiar desses produtos. Outros pacientes devem ter aconselhamento nutricional, monitoramento e dietas nutricionais precisas desenvolvidas por um profissional de saúde21.

Leia sobre "Perfuração intestinal", "Obstrução intestinal", "Nutrição22 enteral", "Nutrição parenteral19" e "Íleo paralítico23".

Quais são os principais tipos de enterostomia?

As enterostomias são realizadas como tratamentos de emergência8 para lesões16 traumáticas no abdômen ou como medidas finais para distúrbios graves do intestino. A maioria dos pacientes não se recusa a realizar a operação quando lhes é explicada a necessidade. Uma pequena minoria, no entanto, recusa as enterostomias por causa de fortes reações psicológicas à desfiguração pessoal e à necessidade de reaprender os hábitos intestinais. Os tipos principais de enterostomia são:

  • As ileostomias representam cerca de 25% das enterostomias. O cirurgião faz um estoma4 na parte inferior direita do abdômen e posiciona um aparelho para coletar o material fecal. O paciente é instruído a drenar a bolsa de vez em quando durante o dia. As ileostomias precisam ser esvaziadas frequentemente porque o alimento digerido contém grandes quantidades de água.
  • A jejunostomia6 é semelhante a uma ileostomia, exceto que o estoma4 é colocado na segunda seção do intestino delgado2 (jejuno14) e não na primeira (íleo24). As jejunostomias são realizadas com menos frequência que as ileostomias e são quase sempre procedimentos temporários.
  • A colostomia7 é uma abertura do intestino grosso25 na parede abdominal1 anterior. Esta abertura, muitas vezes em conjunto com um aparelho de estoma4 anexado (uma bolsa), fornece um canal alternativo para as fezes saírem do corpo, se o ânus26 natural não está disponível para esse trabalho (por exemplo, nos casos em que foi removido na luta contra o câncer15 colorretal ou colite27 ulcerativa). Dependendo das circunstâncias, uma colostomia7 pode ser reversível ou irreversível.
Veja mais sobre "Câncer15 colorretal", "Colite27 ulcerativa"  e "Aderências cirúrgicas".

Como evoluem as enterostomias?

Os resultados incluem a recuperação da cirurgia com poucas ou nenhuma complicação. Cerca de 95% das pessoas com enterostomias recuperam-se completamente e podem voltar às suas atividades normais, considerando-se saudáveis. Alguns pacientes, no entanto, precisam ser encaminhados a psicoterapeutas para lidar com a depressão ou outros problemas emocionais após a operação.

Quais são as complicações possíveis da enterostomia?

As enterostomias não são consideradas por si mesmas operações de alto risco. Numa jejunostomia6, por exemplo, as possíveis complicações incluem irritação da pele28 causada pelo vazamento de fluidos digestivos sobre a pele28 ao redor do estoma4, diarreia29, desenvolvimento de abscessos30, cálculos biliares ou no trato urinário31, inflamação11, odores desagradáveis que podem ser evitados por uma mudança na dieta, obstrução intestinal e prolapso32 intestinal (uma seção do intestino empurrado para fora do corpo).

Leia também sobre "Cálculos biliares" e "Cálculo33 renal34".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas em parte dos sites da Cleveland Clinic, da Mayo Clinic, da United Ostomy Associations of America e do Johns Hopkins Medicine.

ABCMED, 2019. Enterostomia - como é o procedimento? Quando deve ser feito? Como é a evolução?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/exames-e-procedimentos/1333633/enterostomia-como-e-o-procedimento-quando-deve-ser-feito-como-e-a-evolucao.htm>. Acesso em: 20 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Parede Abdominal: Margem externa do ABDOME que se estende da cavidade torácica osteocartilaginosa até a PELVE. Embora sua maior parte seja muscular, a parede abdominal consiste em pelo menos sete camadas Músculos Abdominais;
2 Intestino delgado: O intestino delgado é constituído por três partes: duodeno, jejuno e íleo. A partir do intestino delgado, o bolo alimentar é transformado em um líquido pastoso chamado quimo. Com os movimentos desta porção do intestino e com a ação dos sucos pancreático e intestinal, o quimo é transformado em quilo, que é o produto final da digestão. Depois do alimento estar transformado em quilo, os produtos úteis para o nosso organismo são absorvidos pelas vilosidades intestinais, passando para os vasos sanguíneos.
3 Drenagem: Saída ou retirada de material líquido (sangue, pus, soro), de forma espontânea ou através de um tubo colocado no interior da cavidade afetada (dreno).
4 Estoma: 1. Na anatomia geral, é um orifício ou poro diminuto. 2. Em cirurgia, é uma abertura feita na parede abdominal por meio de colostomia, ileostomia, etc., ou seja, abertura entre duas porções do intestino em uma anastomose.
5 Boca: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
6 Jejunostomia: Também conhecida como enterostomia, é um procedimento cirúrgico realizado para fixar uma sonda alimentar. Um orifício artificial é criado na altura do jejuno para fazer uma ligação direta do meio externo com o meio interno do paciente.
7 Colostomia: Procedimento cirúrgico que consiste em seccionar uma extremidade do intestino grosso e expô-lo através de uma abertura na parede abdominal anterior, pela qual será eliminado o material fecal. É utilizada em diferentes doenças que afetam o trânsito intestinal normal, podendo ser transitória (quando em uma segunda cirurgia o trânsito intestinal é restabelecido) ou definitiva.
8 Emergência: 1. Ato ou efeito de emergir. 2. Situação grave, perigosa, momento crítico ou fortuito. 3. Setor de uma instituição hospitalar onde são atendidos pacientes que requerem tratamento imediato; pronto-socorro. 4. Eclosão. 5. Qualquer excrescência especializada ou parcial em um ramo ou outro órgão, formada por tecido epidérmico (ou da camada cortical) e um ou mais estratos de tecido subepidérmico, e que pode originar nectários, acúleos, etc. ou não se desenvolver em um órgão definido.
9 Intestinos: Seção do canal alimentar que vai do ESTÔMAGO até o CANAL ANAL. Inclui o INTESTINO GROSSO e o INTESTINO DELGADO.
10 Peritonite: Inflamação do peritônio. Pode ser produzida pela entrada de bactérias através da perfuração de uma víscera (apendicite, colecistite), como complicação de uma cirurgia abdominal, por ferida penetrante no abdome ou, em algumas ocasiões, sem causa aparente. É uma doença grave que pode levar pacientes à morte.
11 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
12 Cavidade Abdominal: Região do abdome que se estende do DIAFRAGMA torácico até o plano da abertura superior da pelve (passagem pélvica). A cavidade abdominal contém o PERiTÔNIO e as VÍSCERAS abdominais, assim como, o espaço extraperitoneal que inclui o ESPAÇO RETROPERITONEAL.
13 Estômago: Órgão da digestão, localizado no quadrante superior esquerdo do abdome, entre o final do ESÔFAGO e o início do DUODENO.
14 Jejuno: Porção intermediária do INTESTINO DELGADO, entre o DUODENO e o ÍLEO. Representa cerca de 2/5 da porção restante do intestino delgado após o duodeno.
15 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
16 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
17 Garganta: Tubo fibromuscular em forma de funil, que leva os alimentos ao ESÔFAGO e o ar à LARINGE e PULMÕES. Situa-se posteriormente à CAVIDADE NASAL, à CAVIDADE ORAL e à LARINGE, extendendo-se da BASE DO CRÂNIO à borda inferior da CARTILAGEM CRICÓIDE (anteriormente) e à borda inferior da vértebra C6 (posteriormente). É dividida em NASOFARINGE, OROFARINGE e HIPOFARINGE (laringofaringe).
18 Esôfago: Segmento muscular membranoso (entre a FARINGE e o ESTÔMAGO), no TRATO GASTRINTESTINAL SUPERIOR.
19 Nutrição parenteral: Administração de alimentos utilizando um acesso venoso. Utilizada em situações nas quais o trato digestivo encontra-se seriamente danificado (pancreatite grave, sepse grave, etc.). Os alimentos são administrados em sua forma mais simples, como se fossem digeridos, para que possam ser absorvidos pelas células.
20 Imunidade: Capacidade que um indivíduo tem de defender-se perante uma agressão bacteriana, viral ou perante qualquer tecido anormal (tumores, enxertos, etc.).
21 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
22 Nutrição: Incorporação de vitaminas, minerais, proteínas, lipídios, carboidratos, oligoelementos, etc. indispensáveis para o desenvolvimento e manutenção de um indivíduo normal.
23 Íleo paralítico: O íleo adinâmico, também denominado íleo paralítico, reflexo, por inibição ou pós-operatório, é definido como uma atonia reflexa gastrintestinal, onde o conteúdo não é propelido através do lúmen, devido à parada da atividade peristáltica, sem uma causa mecânica. É distúrbio comum do pós-operatório podendo-se afirmar que ocorre após toda cirurgia abdominal, como resposta “fisiológica“ à intervenção, variando somente sua intensidade, afetando todo o aparelho digestivo ou parte dele.
24 Íleo: A porção distal and mais estreita do INTESTINO DELGADO, entre o JEJUNO e a VALVA ILEOCECAL do INTESTINO GROSSO. Sinônimos: Ileum
25 Intestino grosso: O intestino grosso é dividido em 4 partes principais: ceco (cecum), cólon (ascendente, transverso, descendente e sigmoide), reto e ânus. Ele tem um papel importante na absorção da água (o que determina a consistência do bolo fecal), de alguns nutrientes e certas vitaminas. Mede cerca de 1,5 m de comprimento.
26 Ânus: Segmento terminal do INTESTINO GROSSO, começando na ampola do RETO e terminando no ânus.
27 Colite: Inflamação da porção terminal do cólon (intestino grosso). Pode ser devido a infecções intestinais (a causa mais freqüente), ou a processos inflamatórios diversos (colite ulcerativa, colite isquêmica, colite por radiação, etc.).
28 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
29 Diarréia: Aumento do volume, freqüência ou quantidade de líquido nas evacuações.Deve ser a manifestação mais freqüente de alteração da absorção ou transporte intestinal de substâncias, alterações estas que em geral são devidas a uma infecção bacteriana ou viral, a toxinas alimentares, etc.
30 Abscessos: Acumulação de pus em uma cavidade formada acidentalmente nos tecidos orgânicos, ou mesmo em órgão cavitário, em consequência de inflamação seguida de infecção.
31 Trato Urinário:
32 Prolapso: Deslocamento de um órgão ou parte dele de sua localização ou aspecto normal. P.ex. prolapso da válvula mitral, prolapso uterino, etc.
33 Cálculo: Formação sólida, produto da precipitação de diferentes substâncias dissolvidas nos líquidos corporais, podendo variar em sua composição segundo diferentes condições biológicas. Podem ser produzidos no sistema biliar (cálculos biliares) e nos rins (cálculos renais) e serem formados de colesterol, ácido úrico, oxalato de cálcio, pigmentos biliares, etc.
34 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
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