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Gagueira: conceito, causas, sinais e sintomas, diagnóstico, tratamento e evolução

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O que é gagueira?

A gagueira é uma disfluência1 (=não fluência) em que o fluir normal da fala é interrompido por repetições involuntárias e/ou prolongamentos de sons, sílabas, palavras ou frases, bem como por pausas silenciosas involuntárias. O termo gagueira também engloba a hesitação ou pausa anormal antes do discurso. Para muitas pessoas que gaguejam, a repetição é o principal problema e o mais facilmente detectável.

Quais são as causas da gagueira?

Nenhuma causa única da gagueira é conhecida e crê-se que tanto fatores genéticos quanto ambientais parecem interagir para esse resultado final. Ela geralmente não é devida a um problema físico. Também o nervosismo e o estresse por si sós não causam a gagueira, embora possam desencadeá-la momentaneamente ou agravá-la em pessoas propensas. Por outro lado, as crianças que têm parentes de primeiro grau que gaguejam, têm três vezes mais chances de também desenvolver gagueira. Em casos raros, a gagueira pode ser adquirida na idade adulta, como resultado de um evento neurológico. Nesses casos, ela tem características diferentes da sua equivalente desenvolvimental. A gagueira também pode ser adquirida por razões psicogênicas e surgir, por exemplo, após uma experiência emocional traumática.

Qual a “fisiopatologia” da gagueira?

Fatores congênitos2 como trauma físico ao nascimento, dificuldades de aprendizagem, paralisia3 cerebral, etc, podem desempenhar um papel importante para algumas pessoas que gaguejam. Em outras pessoas, a condição parece estar associada a situações estressantes, como o nascimento de um irmão, por exemplo. Não se constatam diferenças estruturais ou funcionais no cérebro4 de pessoas gagas, embora recentemente se tenha demonstrado que a organização funcional do córtex auditivo pode ser diferente em pessoas que gaguejam e déficits de processamento auditivo também têm sido propostos como causa da gagueira. Há também indícios de diferenças no processamento linguístico entre pessoas que gaguejam e pessoas que não gaguejam. A existência de modelos linguísticos tem sido proposta para explicar a heterogeneidade desta condição. A gravidade da gagueira aumenta quando se faz demandas sobre a fala. As demandas de uma fala normal podem ser aumentadas por fatores internos, como a falta de confiança, baixa autoestima ou falta de conhecimentos linguísticos ou por fatores externos, como a pressão dos colegas e da família, a pressa de falar e a insistência sobre o discurso perfeito e assim por diante, piorando o problema. Vários estudos de neuroimagem têm sugerido um modo específico de funcionamento de áreas cerebrais associadas à gagueira. Estudos utilizando a tomografia por emissão de pósitrons (PET) em pessoas gagas mostram alterações em áreas corticais associadas com o processamento da linguagem na área de Broca5 e em áreas cerebrais associadas à função motora. A ressonância magnética6 funcional também tem demonstrado alterações no opérculo frontal direito. Muitas evidências apoiam a teoria de que o hemisfério direito das pessoas que gaguejam interfere com a produção da fala do hemisfério esquerdo.

Quais são os principais sinais7 e sintomas8 da gagueira?

A gagueira afeta os homens cerca de quatro vezes mais do que as mulheres. O impacto da gagueira no estado emocional de uma pessoa pode ser grave e incluir o receio de pronunciar certas vogais ou consoantes, temor de gaguejar em situações sociais, isolamento, ansiedade, vergonha, constrangimento, frustração, medo, raiva9, culpa, etc. Por outro lado, esses sentimentos podem aumentar a gagueira. Muitas vezes a pessoa gaga tem que substituir palavras em uma frase, por outras que sinta como mais fáceis de pronunciar, visando esconder a gagueira. A gagueira pode se tornar mais grave ou menos grave em situações específicas, como falar ao telefone, cantar, falar a um grande grupo, etc. A intensidade da gagueira não é constante, mesmo para as pessoas severamente gagas. Os gagos alegam ter dias "bons" e dias "maus" em relação ao seu problema. Na gagueira são evidentes as repetições e prolongamentos de sons, sílabas, palavras ou frases. Elas se diferenciam das disfluências “normais” porque duram mais tempo, ocorrem com mais frequência e implicam em mais esforço e maior tensão. Muitas pessoas gagas se tornam plenamente conscientes da sua desordem, mas outras não.

Como diagnosticar a gagueira?

O diagnóstico10 da gagueira é feito basicamente pela observação da fala, porque algumas características do discurso da pessoa gaga são fáceis de reconhecer, embora outras não o sejam. Muitas vezes o diagnóstico10 de gagueira requererá as habilidades de um fonoaudiologista. Um histórico do caso pode ser obtido através de uma detalhada entrevista ou conversa. Em particular, o terapeuta pode fazer testes de disfluências para avaliar a gravidade da gagueira e as previsões para o seu curso. Um diagnóstico10 diferencial deve ser feito com a síndrome11 de Asperger, fala entrecortada do parkinsoniano, palilalia12, disfonia13 espasmódica14, mutismo15 seletivo e ansiedade social.

Como tratar a gagueira?

No presente não há nenhuma cura para esta condição, embora haja muitos tratamentos e técnicas que podem ajudar a aumentar a fluência das pessoas gagas. Um fonoaudiologista é o profissional indicado para escolher e aplicar essas técnicas. Sentimentos como isolamento, ansiedade, vergonha, constrangimento, frustração, medo, raiva9 ou culpa podem se tornar um dos focos do tratamento. Atitudes que peçam "fale devagar", "respire direito", "diga novamente", etc, podem levar a mais dificuldades com a fala.

Como evolui a gagueira?

A gagueira, na maioria dos casos, começa quando a criança está aprendendo a falar e, em pelo menos 20% das crianças afetadas, se desenvolve à medida que a criança amadurece. Com jovens, a disfluência1 pode ser episódica e seguida por períodos de fluência relativamente normal. A taxa de recuperação da gagueira com o passar do tempo é muito elevada. Muitas crianças de idade pré-escolar que gaguejam, superam a gagueira e terão fala normal à medida que envelhecem restando apenas uma disfonia13 “normal”.

ABCMED, 2015. Gagueira: conceito, causas, sinais e sintomas, diagnóstico, tratamento e evolução. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/802709/gagueira-conceito-causas-sinais-e-sintomas-diagnostico-tratamento-e-evolucao.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Disfluência: Disfluência ou disfemia, conhecida popularmente como gagueira ou gaguez, é a mais comum desordem de fluência da fala. Cerca de 5% das crianças entre 2 e 4 anos de idade apresentam episódios de disfemia, sendo geralmente episódios transitórios.
2 Congênitos: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
3 Paralisia: Perda total da força muscular que produz incapacidade para realizar movimentos nos setores afetados. Pode ser produzida por doença neurológica, muscular, tóxica, metabólica ou ser uma combinação das mesmas.
4 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
5 Área de Broca: Parte anterior do hemisfério cerebral.
6 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
7 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
8 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
9 Raiva: 1. Doença infecciosa freqüentemente mortal, transmitida ao homem através da mordida de animais domésticos e selvagens infectados e que produz uma paralisia progressiva juntamente com um aumento de sensibilidade perante estímulos visuais ou sonoros mínimos. 2. Fúria, ódio.
10 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
11 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
12 Palilalia: Repetição ou imitação de eco feita por uma pessoa relativamente a palavras acabadas de proferir por esta mesma pessoa. Trata-se de um tique complexo, tal como a ecolalia e a coprolalia. Todos estes distúrbios podem ser sintomas de síndrome de Tourette, síndrome de Asperger ou do autismo.
13 Disfonia: Alteração da produção normal de voz.
14 Espasmódica: 1.    Relativo a espasmo. 2.    Que provoca ou revela espasmos repetidos.
15 Mutismo: Estado de não reatividade e de imobilidade, com uma especial ausência da necessidade de falar e de impulso verbal, que está presente em alguns casos de esquizofrenia e de histeria.
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