Erros inatos do metabolismo
O que são erros inatos do metabolismo1?
Erros inatos do metabolismo1 são distúrbios hereditários raros, causados por um defeito genético que altera a capacidade do corpo de derivar energia de alguns nutrientes. Como atualmente são conhecidas várias centenas de erros inatos do metabolismo1, é impossível determinar com precisão quantas pessoas são afetadas por esses distúrbios, mas estima-se que afetem um em cada 4.000 bebês2 nascidos vivos. No entanto, essa incidência3 pode variar entre as diversas populações, dependendo de fatores como, por exemplo, origem étnica.
Alguns dos principais erros inatos do metabolismo1 são biotinidase, cistinose, Cushing, doença de Pompe, fenilcetonúria4, fibrose cística5, doença de Gaucher, homocistinúria, imunodeficiências primárias, mucopolissacaridoses, paramiloidose, porfirias6 agudas, porfiria7 eritropoiética congênita8, síndrome9 Cri-Du-Chat, tirosinemia, etc.
O termo erro inato do metabolismo1 foi introduzido em 1908 pelo médico britânico Sir Archibald Garrod.
Saiba mais sobre "Fibrose cística5", "Teste do Pezinho" e "Mutações genéticas".
Quais são as causas dos erros inatos do metabolismo1?
Sir Archibald Garrod postulou que os erros inatos do metabolismo1 que ele estudou resultavam de redução ou ausência herdada de enzimas envolvidas em certas vias bioquímicas. Essa mesma tese é hoje estendida para todos os erros metabólicos inatos conhecidos, causados pelo inadequado manuseio pelo organismo de aminoácidos, lipídios, carboidratos e ácidos nucleicos. Em verdade, na maioria dos casos, a causa subjacente dos erros inatos do metabolismo1 é a herança de uma enzima10 mutada ou de uma proteína de transporte que também sofreu mutação11.
A herança de erros inatos do metabolismo1 geralmente reflete um padrão autossômico12 recessivo. Em alguns casos, no entanto, a herança pode ser dominante ou ligada ao sexo.
Qual é o mecanismo fisiológico13 dos erros inatos do metabolismo1?
Os erros inatos do metabolismo1 resultam de distúrbios genéticos ou hereditários raros, constituídos por um defeito enzimático nas vias bioquímicas e metabólicas que afetam proteínas14, gorduras, carboidratos ou função das organelas, apresentando-se como condições médicas complicadas que envolvem vários sistemas de órgãos humanos. Elas envolvem grande complexidade da fisiopatologia15 subjacente, avaliação bioquímica de proteínas14 específicas (enzimas), análise molecular e têm opções terapêuticas complicadas para o manejo.
Os erros metabólicos conhecidos atualmente podem ser reunidos em três grupos:
- Grupo I: constituído pelos distúrbios de síntese ou catabolismo16 de moléculas complexas.
- Grupo II: consistente com erros inatos do metabolismo1 intermediário que culminam em intoxicação aguda ou crônica.
- Grupo III: representado pela deficiência na produção ou utilização de energia.
Quais são as principais características clínicas dos erros inatos do metabolismo1?
Os erros inatos do metabolismo1 podem afetar qualquer sistema orgânico, inclusive vários sistemas ao mesmo tempo. A idade de apresentação pode variar da primeira infância à adolescência, com as formas mais graves aparecendo na primeira infância e acompanhadas de significativa morbimortalidade.
A progressão pode ser (1) incessante, com rápida deterioração e risco de vida ao longo de horas, (2) episódica, com descompensações intermitentes17 e intervalos assintomáticos ou (3) insidiosa, com lenta degeneração18 ao longo de décadas. Dieta inadequada ou doença intercorrente, trauma, cirurgia ou imunização19 podem precipitar uma descompensação do distúrbio.
A história clínica variará de início abrupto e episódico a crônico20 e progressivo e incluirá sinais21 e sintomas22 como má alimentação, vômito23, letargia24, atraso no desenvolvimento, início dos sintomas22 com mudança na dieta e preferências alimentares incomuns, efeitos desproporcionais aos esperados de uma infecção25 intercorrente e mortes neonatais súbitas.
Em neonatos26, a melhor indicação de erro inato do metabolismo1 é uma história de deterioração do estado geral de saúde27, com risco de vida.
Em crianças de 1 mês a 5 anos, o início dos sintomas22 coincide com mudanças na dieta e com o aumento da duração do jejum, à medida que os bebês2 começam a dormir a noite toda. Os bebês2 podem ter um histórico de episódios recorrentes de vômitos28, ataxia29, convulsões, letargia24, coma30 ou hepatoencefalopatia fulminante, e podem parecer normais entre os episódios ou apresentar histórico de má alimentação, fracasso no crescimento, agitação, atividade reduzida e atraso no desenvolvimento.
Crianças maiores de 5 anos e adolescentes podem mostrar anormalidades neurológicas ou psiquiátricas sutis. Muitos indivíduos previamente diagnosticados com lesões31 no nascimento ou formas atípicas de distúrbios psiquiátricos ou doenças médicas, como esclerose múltipla32, paralisia33 cerebral, enxaquecas34 ou derrame35, têm realmente um erro inato não diagnosticado do metabolismo1.
O grupo I é constituído pelas doenças lisossomiais e peroxissomiais que tendem a apresentar sintomas22 permanentes, como face36 grosseira, dismorfias, visceromegalias e neurodegeneração, entre outros.
O grupo II consiste em erros do metabolismo1 intermediário que culminam em intoxicação aguda ou crônica. As doenças do grupo II compreendem as aminoacidopatias, os defeitos dos ácidos orgânicos e do ciclo da ureia37 e as intolerâncias aos açúcares. Caracterizam-se por apresentarem intervalos livres de sintomas22 e relação evidente com o aporte alimentar. As manifestações levam, de maneira geral, à intoxicação aguda e recorrente ou crônica e progressiva.
O grupo III é representado pela deficiência na produção ou utilização de energia e inclui doenças cuja clínica é decorrente de alterações de produção e consumo energéticos. Na maioria das vezes, elas são provenientes de distúrbios do fígado38, miocárdio39, músculo e cérebro40 e manifestam-se, comumente, através de hipoglicemia41, hipotonia42 generalizada, miopatia43, insuficiência cardíaca44, retardo de crescimento e até morte súbita, entre outros sintomas22.
Exemplos desse grupo são as glicogenoses, hiperlacticemias congênitas45, doenças mitocondriais da cadeia respiratória e defeitos na oxidação de ácidos graxos.
Como o médico diagnostica os erros inatos do metabolismo1?
Alguns erros inatos do metabolismo1 são detectados durante a triagem neonatal padrão. Muitos países testam recém-nascidos em busca de um conjunto básico de 29 doenças, e muitos os testam para mais de 50 doenças, a maioria das quais são erros inatos do metabolismo1.
Um resultado negativo da triagem neonatal não exclui o diagnóstico46 de doença metabólica, porque podem ocorrer achados falso-negativos, os quais podem resultar de triagem muito precoce, de medicamentos, de transfusões e de problemas na coleta e manuseio de amostras.
Como o médico trata os erros inatos do metabolismo1?
Muitos dos erros inatos do metabolismo1 podem ser resolvidos ou controlados com eficácia quando são diagnosticados e tratados precocemente. Os objetivos do tratamento são a prevenção de acúmulo adicional de substâncias nocivas, correção de anormalidades metabólicas e eliminação de metabólitos47 tóxicos.
Com terapia apropriada (geralmente dietas), os pacientes podem se recuperar completamente sem sequelas48. Por isso, o tratamento deve ser iniciado assim que o diagnóstico46 for estabelecido. É importante haver uma adesão estrita ao regime alimentar e farmacológico recomendado.
Geralmente, a terapia médica específica para o erro inato do metabolismo1 diagnosticado precisará ser continuada por toda a vida. Evitar estressores49 fisiológicos, como doenças intercorrentes, traumas, cirurgias e mudanças na dieta, são importantes para evitar descompensação metabólica.
Como evoluem em geral os erros inatos do metabolismo1?
O prognóstico50 dos erros inatos do metabolismo1 varia de acordo com a natureza deles e pode diferir para diferentes formas destes erros. Depende também do diagnóstico46 e tratamento precoces do distúrbio, que muitas vezes resulta em recuperação total e pode salvar vidas. A mortalidade51 pode ser alta para certos erros inatos do metabolismo1, particularmente aqueles que se apresentam em neonatos26.
Leia também sobre "Fenilcetonúria4", "Doença de Gaucher" e "Porfiria7".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da Encyclopedia Britannica, do Children’s Hospital of Pittisburgh e da U. S. National Library of Medicine.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.