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K9: o que é isso?

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Introdução ao problema

Não bastasse o flagelo das drogas atuais, acaba de surgir uma nova droga, muito mais potente em seus efeitos danosos do que as existentes até aqui. Batizada de K9, também chamada de maconha sintética ou supermaconha, a nova droga é 100 vezes mais potente do que a maconha e tem efeitos muito mais devastadores que ela.

E, para piorar as coisas, trata-se de uma droga muito barata que faz efeito em cinco minutos, o que ajuda sua rápida difusão. Com menos de dez reais é possível comprar a K9. E, ademais, já existem mais de 320 tipos diferentes da droga sintética, com potências intoxicantes variáveis.

É difícil saber quando a maconha sintética chegou ao Brasil, porque ela é facilmente modificada em laboratório, o que torna sua identificação muito difícil. Há notícias de apreensões desde 2018 em presídios, com um aumento muito significativo nos últimos três a quatro anos.

Enquanto um desses canabinoides sintéticos era identificado e proibido pelas autoridades, outras centenas eram criadas. E alguns deles, a princípio, foram considerados substância legal, até que a ANVISA os tornasse proibidos.

Leia sobre "Transtornos devidos ao abuso de drogas", "Abuso da cocaína", "Usos e abusos dos anorexígenos1" e "Oxicodona: remédio ou droga?"

O que é K9?

A K9 (também chamada de spice [especiaria], K2 ou K4) é um novo canabinoide sintético derivado do tetrahidrocanabinol, princípio ativo da maconha, capaz de gerar efeitos neuropsíquicos imediatos.

As drogas K ficaram conhecidas como "supermaconha". No entanto, não se trata de uma derivação da planta cannabis. A associação indevida está relacionada ao fato de que as drogas K possuem efeitos semelhantes aos da principal substância psicoativa encontrada nas plantas do gênero Cannabis, o tetrahidrocanabinol, e atingem o mesmo receptor do cérebro2 que a maconha comum.

As diferenças das drogas K (K2, K4 e K9) dizem respeito especialmente à apresentação e a outras substâncias associadas à droga sintética feita em laboratório. Se borrifada em papel, é chamada de K2; se aparece junto com tabaco, para o fumo, é conhecida como K4; e, se borrifada em porções de outras drogas, que podem ser cocaína ou maconha, é chamada de K9. É esse uso em conjunto com a maconha que pode ter levado a droga a ser chamada de "supermaconha".

Essas novas drogas são produzidas em laboratórios (geralmente clandestinos) e possuem o mesmo princípio ativo da maconha, mas muito mais potente que ele. Elas fazem parte das chamadas “novas drogas psicoativas” e têm um alto potencial viciante, ainda maior que as drogas tradicionais. Surgiram inicialmente em laboratórios americanos, na década de 1990, mas só algum tempo depois ganharam uso popular.

A droga bruta tem aparência semelhante à maconha e o extrato vem impregnado em tiras de papel, escondido em cápsulas de remédios ou vendido em embalagens de ervas aromáticas, com a falsa advertência “não para consumo humano”, tornando muito difícil a sua detecção. E para dificultar ainda mais o reconhecimento dela, pode ser consumida em papel borrifado com a substância, em selos (micropontos), inalada diretamente da pipeta, dissolvida debaixo da língua3, fumada numa mistura de ervas que simulam a maconha ou utilizadas em sais para inalação.

Pesquisadores afirmam que o seu princípio ativo se liga muito mais fortemente aos receptores celulares de THC e por isso podem produzir efeitos muito mais acentuados.

A maioria dos canabinoides sintéticos são agonistas dos receptores canabinoides naturais e competem com eles. Eles foram projetados para fazerem uma ligação mais forte com o receptor CB1, que está ligado aos efeitos psicoativos da maconha, e geralmente têm maior afinidade de ligação e maior potência que os produtos naturais.

Do ponto de vista químico, existem várias famílias de canabinoides sintéticos que podem vir de diferentes estruturas de base.

Quais são os efeitos da K9 sobre o organismo?

Efeitos como palpitações4, paranoia, ansiedade intensa, náusea5, vômito6, confusão mental, falta de coordenação e convulsões deixam a pessoa desligada do mundo externo. A droga pode ter efeitos nocivos novos ao corpo, incluindo o novo “efeito zumbi”, que deixa a pessoa entorpecida. Além disso, os usuários relatam humor elevado e relaxamento, semelhantes aos que dizem experimentar com a maconha. Uma overdose da nova droga pode ser fatal, mesmo numa primeira vez.

A droga começou entrando nos presídios de São Paulo, mas já se espalhou por outras cidades e passou a ser distribuída também nas “baladas”. De tão temida, a droga chegou a ser proibida (e depois liberada) pelos chefões do tráfico, devido ao “efeito zumbi” e a vários casos de overdose entre usuários.

Nos Estados Unidos, o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) relata que o número de mortes por uso de canabinoides sintéticos triplicou entre 2014 e 2015. No Brasil, pelas ruas do centro de São Paulo (cracolândias), o consumo da nova droga tem se espalhado, vem trazendo muito sofrimento para famílias e tem aumentado o número de jovens entregues ao vício.

Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde7, durante todo o ano de 2022, foram 73 internações relacionadas com a K9. Do início deste ano (2023) até o dia 15 de março, foram registrados 102 atendimentos do tipo. Parte significativa dos usuários têm entre 12 e 17 anos.

Veja também sobre "Interação entre álcool e drogas psicotrópicas", "Síndrome8 de abstinência" e "Posso beber tomando remédios?

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da IPA - International Police Association e da NDASA – National Drug and Alcohol Screening Association.

ABCMED, 2023. K9: o que é isso?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/1438525/k9-o-que-e-isso.htm>. Acesso em: 16 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Anorexígenos: Que ou o que provoca anorexia (diz-se de substância ou droga), ou seja, que ou o que produz falta ou perda de apetite.
2 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
3 Língua:
4 Palpitações: Designa a sensação de consciência do batimento do coração, que habitualmente não se sente. As palpitações são detectadas usualmente após um exercício violento, em situações de tensão ou depois de um grande susto, quando o coração bate com mais força e/ou mais rapidez que o normal.
5 Náusea: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc.
6 Vômito: É a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Pode ser classificado como: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
7 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
8 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
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