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Transtorno de conduta

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O que é transtorno de conduta?

O transtorno de conduta é um grupo de problemas comportamentais e emocionais que geralmente começa na infância ou na adolescência, caracterizado por um padrão repetitivo e persistente de conduta antissocial.

Para que seja considerado um transtorno, ele deve ser permanente e alcançar violações importantes, de natureza mais grave que as travessuras ou a rebeldia normal de um adolescente. Este tipo de comportamento delinquencial parece preocupar muito mais aos outros do que à própria criança ou adolescente que sofre da perturbação.

Veja sobre "Transtorno de esquiva", "Timidez", "Transtornos afetivos" e "Isolamento social".

Quais são as causas do transtorno de conduta?

A interação entre fatores genéticos e ambientais é responsável pelo desenvolvimento dos distúrbios de conduta. Entre os fatores genéticos, podem ocorrer anomalias congênitas1 do lobo frontal2 do cérebro3, que regula importantes habilidades cognitivas e é considerado a “sede” da personalidade. Se o lobo frontal2 não funcionar corretamente, pode causar falta de controle dos impulsos, capacidade reduzida de planejar ações e diminuição da capacidade de aprender com experiências negativas passadas. O comprometimento do lobo frontal2 também pode ser causado por dano cerebral devido a uma lesão4. Uma criança também pode herdar traços de personalidade que são comumente vistos em transtornos de conduta.

Os fatores ambientais associados ao transtorno de conduta incluem abuso infantil físico e/ou sexual por parte de adultos e uma família disfuncional5 em que pais abusam de drogas ou álcool. Os transtornos de conduta acabam favorecendo um círculo vicioso: transtornos de conduta → prejuízos sociais → repressões sociais → revoltas → transtornos de conduta.

As pessoas em maior risco são do sexo masculino, vivem em ambiente urbano, têm uma baixa situação econômica, têm história familiar de transtorno psicológico ou de doença mental, fazem uso abusivo de drogas ou de álcool e vivem em ambiente doméstico disfuncional5.

Quais são as principais características clínicas do transtorno de conduta?

A baixa tolerância a frustrações dos portadores de transtorno de conduta favorece as crises de irritabilidade, explosões temperamentais e agressividade exagerada, parecendo, muitas vezes, uma espécie de comportamento vingativo e desaforado. As crianças e adolescentes com esse transtorno têm dificuldade em seguir regras e se comportar de uma maneira socialmente aceitável. Eles podem exibir comportamentos agressivos, destrutivos e enganosos que podem violar os direitos dos outros, demonstrando falta de empatia.

Em geral, eles são considerados pelas outras crianças como "ruins" ou delinquentes ao invés de serem vistos como portadores de transtorno ou patologia6. Os indivíduos que têm distúrbio de conduta podem parecer durões e confiantes, mas na realidade são inseguros e acreditam erroneamente que as pessoas estão sendo agressivas ou ameaçadoras em relação a eles.

O portador de distúrbios de conduta pode não ter consideração pelos sentimentos, direitos e bem-estar dos outros, faltando-lhe um sentimento apropriado de empatia, culpa e remorso (agenesia7 de sentimentos) que caracteriza as "pessoas boas". São pessoas que tendem à destruição deliberada da propriedade alheia, podendo incluir a provocação de incêndios, quebra de vitrines e vidros de carros, prática de vandalismo na escola e outras atitudes da mesma natureza.

Essas pessoas podem também exibir um comportamento de provocação, ameaça, intimidação e crueldade com outras pessoas e/ou com animais, que pode assumir a forma de estupro, agressão ou homicídio.

Como o médico diagnostica o transtorno de conduta?

O diagnóstico8 do transtorno de conduta deve ser baseado nas características do comportamento. É um diagnóstico8 problemático, exatamente por situar-se nos limites da psiquiatria com a moral e a ética, sem contar também as tentativas de atribuir a ele aspectos políticos.

O diagnóstico8 somente deve ser feito se o comportamento antissocial já persistir por um período de mais de seis meses, abrangendo todo o cuidado necessário para evitar avaliações incorretas e tendo em vista a possibilidade de que os sintomas9 possam ser indício de alguma outra patologia6.

Como o médico trata o transtorno de conduta?

Não há nenhum tratamento específico para o transtorno de conduta. As crianças que têm o transtorno costumam ser difíceis de controlar e é um desafio levá-las a seguir a disciplina necessária a qualquer forma de tratamento. Ademais, pode-se considerar que o transtorno de conduta é uma alteração qualitativa do caráter que caracteriza uma maneira de ser e não exatamente uma patologia6, no sentido clássico. Quando juntamente com esse transtorno há uma depressão ou uma hiperatividade, o tratamento deve ser dirigido para esses estados de base.

Outros programas têm tentado lidar com o comportamento disruptivo dessas crianças com o uso de medicamentos, tais como o carbonato de lítio, a carbamazepina ou antidepressivos, conforme o caso. O sucesso desses tratamentos, contudo, não tem sido muito animador.

Uma terapia cognitivo10-comportamental pode ajudar a criança ou adolescente a expressar ou controlar mais adequadamente suas emoções. Para estabelecer novas atitudes e padrões de comportamento, as crianças requerem tratamento a longo prazo. O tratamento precoce pode retardar a progressão do distúrbio ou reduzir a gravidade dos comportamentos negativos.

Saiba mais sobre "Depressão em crianças" e "Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)".

Como evolui o transtorno de conduta?

O transtorno de conduta é um diagnóstico8 que se aplica à infância ou à adolescência pois, persistindo os sintomas9 básicos, o diagnóstico8 depois dos 18 anos, deve ser alterado para transtorno da personalidade antissocial. É muito incomum encontrar um adulto com transtorno da personalidade antissocial sem uma história pregressa de transtorno de conduta. Embora algum tipo de delinquência geralmente ocorra na adolescência comum, apenas um pequeno percentual de jovens torna-se infrator crônico11 ou antissocial depois de adulto.

Nem sempre é possível traçar uma fronteira nítida entre as alterações comportamentais próprias da adolescência e o transtorno de conduta.

O prognóstico12 a longo prazo para transtorno de conduta depende da gravidade. A perspectiva futura é pior se houver outras doenças mentais associadas. No entanto, um diagnóstico8 rápido e um tratamento abrangente pode melhorar significativamente o futuro de algumas crianças. Sem tratamento, é provável que a criança tenha problemas continuadamente e não consiga se adaptar às demandas da vida adulta.

Leia também sobre "Transtorno de oposição desafiante" e "O desafio das famílias que convivem com a doença mental".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da Mayo Clinic e da American Academy of Child & Adolescent Psychiatry.

ABCMED, 2019. Transtorno de conduta. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1348263/transtorno-de-conduta.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Congênitas: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
2 Lobo frontal:
3 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
4 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
5 Disfuncional: 1. Funcionamento anormal ou prejudicado. 2. Em patologia, distúrbio da função de um órgão.
6 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
7 Agenesia: Atrofia de um órgão ou tecido por parada do desenvolvimento na fase embrionária.
8 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
9 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
10 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
11 Crônico: Descreve algo que existe por longo período de tempo. O oposto de agudo.
12 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
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