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Intoxicação por chumbo ou saturnismo: o que vem a ser isso?

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O que é o chumbo?

O chumbo é um metal presente na natureza em pequenas quantidades, mas resistente à corrosão. Foi um dos primeiros metais utilizados pela humanidade e a intoxicação por esse elemento tem, portanto, uma longa história. A intoxicação pelo chumbo é chamada saturnismo1, termo derivado do deus romano Saturno, que os romanos acreditavam ser quem lhes concedeu esse metal. O chumbo pode estar presente no meio ambiente de forma natural ou como consequência de sua utilização industrial e os casos de intoxicação podem decorrer de qualquer dessas fontes. O chumbo é uma substância cumulativa no organismo e costuma levar a uma doença crônica, com episódios sintomáticos agudos, às vezes de efeitos irreversíveis.

Quais são as causas da intoxicação pelo chumbo?

O chumbo pode adentrar o organismo ou pela via respiratória, nos indivíduos expostos a vapores de óxido de chumbo, ou pela via digestiva, mais comum, graças à ingestão de alimentos contaminados pelo metal. Outra via possível de contaminação é a cutânea2. Por esse caminho, todavia, somente seus componentes orgânicos são capazes de serem absorvidos. Depois de ocorrida a absorção, o mineral alcança a corrente sanguínea e daí é distribuído para os tecidos moles (epitélio3 dos túbulos renais e fígado4), ossos, dentes e cabelo5. O chumbo atravessa a barreira placentária e dota o feto6 dos mesmos níveis sanguíneos da mãe. Da mesma forma, elimina-se pelo leite e pode afetar o lactente7.

Quais são os principais sinais8 e sintomas9 da intoxicação pelo chumbo?

Em crianças, os sintomas9 principais são: irritabilidade, perda de interesse por brincadeiras, vômitos10 violentos e persistentes, instabilidade para andar, confusão mental, sono e, por fim, incontroláveis convulsões e coma11.

Em adultos ocorrem dores de cabeça12, sabor metálico na boca13, perda de apetite, incômodos abdominais, vômitos10, prisão de ventre e mudança de personalidade. Tanto crianças quanto adultos podem apresentar anemia14. Em adultos é mais raro que em crianças o acometimento do sistema nervoso15. Se a intoxicação for aguda é mais provável que surja encefalopatia16, dores abdominais intensas, vômitos10, diarreia17, convulsões, coma11 e morte. Se for crônica é de se esperar fraqueza, dores abdominais, anemia14, náuseas18, perda de peso, fadiga19, dores de cabeça12 e perda de funções cognitivas. Esses sintomas9 habitualmente progridem até o surgimento da encefalopatia16, com alterações como distúrbios de comportamento (paranoia, delírios e alucinações20), alterações da marcha e do equilíbrio, agitação psicomotora21, alterações de consciência, estupor, convulsões e coma11.

Como o médico diagnostica a intoxicação por chumbo22?

O diagnóstico23 depende de uma boa história clínica e avaliação dos sintomas9. Deve-se ter em mente que este metal age principalmente em alguns órgãos que assim determinam os sinais8 e sintomas9 típicos da intoxicação: cérebro24, rins25, sistema hematopoiético26, sistema nervoso periférico27. O exame físico pode evidenciar a presença de depósitos de chumbo nas gengivas e neuropatia periférica28. Outras alterações são: anemia14, disfunção renal29, hepatite30 e encefalopatia16. Os níveis de chumbo podem ser medidos no sangue31 e na urina32 (nesta, no primeiro dia de tratamento). Outros exames também podem ser feitos: análise de amostras de medula óssea33 e, em crianças, radiografias do abdome34 e de ossos longos35.

Como o médico trata a intoxicação por chumbo22?

A principal medida de tratamento é remover a fonte de contaminação. Alguns sintomas9 diminuem espontaneamente caso se interrompa a contaminação pelo chumbo e pioram novamente se ela recomeçar. O fim da exposição, contudo, não elimina os riscos de lesão36 cerebral, sendo necessário um tratamento de desintoxicação. A eliminação do chumbo presente no organismo é demorada, difícil e necessita de supervisão médica minuciosa. O ácido dimercaptosuceínico (DMSA), administrado por via oral, liga-se ao chumbo e facilita sua excreção pela urina32, mas tem efeitos colaterais37 sérios, como: erupção38 cutânea2, náuseas18, vômitos10, diarreia17 e alterações das funções hepáticas39. A penicilamina por via oral também pode ajudar na eliminação do chumbo. Casos mais graves podem exigir hospitalização. Por vezes o tratamento tem de ser repetido depois de um período de interrupção. Os níveis de chumbo no sangue31 podem subir após um primeiro tratamento, como resultado da desmobilização do metal depositado nos tecidos orgânicos. Nenhum destes medicamentos deve ser prescrito preventivamente a pessoas expostas, em virtude de seus graves efeitos colaterais37 e porque esses medicamentos podem, paradoxalmente, aumentar a absorção de chumbo. Além dos tratamentos específicos o paciente pode necessitar de hidratação venosa. É necessário fazer a reposição de outros minerais, como zinco, ferro e cobre que são espoliados durante o tratamento da intoxicação por chumbo22.

Como prevenir a intoxicação por chumbo22?

  • Evite a exposição ao chumbo.
  • Se não for possível evitar a exposição, realize controles mensais e procure o médico ao primeiro sinal40 de intoxicação.
ABCMED, 2013. Intoxicação por chumbo ou saturnismo: o que vem a ser isso?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/351404/intoxicacao-por-chumbo-ou-saturnismo-o-que-vem-a-ser-isso.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Saturnismo: Intoxicação aguda ou crônica por chumbo ou por algum de seus sais. Também conhecida como Plumbismo, a intoxicação pelo chumbo ocorre quando o chumbo absorvido causa sinais e sintomas tais como náuseas, vômitos, linha azul na gengiva, aumento dos reticulócitos (reticulocitose); hemácias com granulações basófilas e elevada concentração de chumbo no sangue e na urina. Os principais achados clínicos são cólica, anemia, neurite, encefalopatia e tremores.
2 Cutânea: Que diz respeito à pele, à cútis.
3 Epitélio: Uma ou mais camadas de CÉLULAS EPITELIAIS, sustentadas pela lâmina basal, que recobrem as superfícies internas e externas do corpo.
4 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
5 Cabelo: Estrutura filamentosa formada por uma haste que se projeta para a superfície da PELE a partir de uma raiz (mais macia que a haste) e se aloja na cavidade de um FOLÍCULO PILOSO. É encontrado em muitas áreas do corpo.
6 Feto: Filhote por nascer de um mamífero vivíparo no período pós-embrionário, depois que as principais estruturas foram delineadas. Em humanos, do filhote por nascer vai do final da oitava semana após a CONCEPÇÃO até o NASCIMENTO, diferente do EMBRIÃO DE MAMÍFERO prematuro.
7 Lactente: Que ou aquele que mama, bebê. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
8 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
9 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
10 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
11 Coma: 1. Alteração do estado normal de consciência caracterizado pela falta de abertura ocular e diminuição ou ausência de resposta a estímulos externos. Pode ser reversível ou evoluir para a morte. 2. Presente do subjuntivo ou imperativo do verbo “comer.“
12 Cabeça:
13 Boca: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
14 Anemia: Condição na qual o número de células vermelhas do sangue está abaixo do considerado normal para a idade, resultando em menor oxigenação para as células do organismo.
15 Sistema nervoso: O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal e a porção periférica está constituída pelos nervos cranianos e espinhais, pelos gânglios e pelas terminações nervosas.
16 Encefalopatia: Qualquer patologia do encéfalo. O encéfalo é um conjunto que engloba o tronco cerebral, o cerebelo e o cérebro.
17 Diarréia: Aumento do volume, freqüência ou quantidade de líquido nas evacuações.Deve ser a manifestação mais freqüente de alteração da absorção ou transporte intestinal de substâncias, alterações estas que em geral são devidas a uma infecção bacteriana ou viral, a toxinas alimentares, etc.
18 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
19 Fadiga: 1. Sensação de enfraquecimento resultante de esforço físico. 2. Trabalho cansativo. 3. Redução gradual da resistência de um material ou da sensibilidade de um equipamento devido ao uso continuado.
20 Alucinações: Perturbações mentais que se caracterizam pelo aparecimento de sensações (visuais, auditivas, etc.) atribuídas a causas objetivas que, na realidade, inexistem; sensações sem objeto. Impressões ou noções falsas, sem fundamento na realidade; devaneios, delírios, enganos, ilusões.
21 Psicomotora: Própria ou referente a qualquer resposta que envolva aspectos motores e psíquicos, tais como os movimentos corporais governados pela mente.
22 Intoxicação por chumbo: Intoxicação aguda ou crônica por chumbo ou por algum de seus sais. Também conhecida como Saturnismo ou Plumbismo, a intoxicação pelo chumbo ocorre quando o chumbo absorvido causa sinais e sintomas tais como náuseas, vômitos, linha azul na gengiva, aumento dos reticulócitos (reticulocitose); hemácias com granulações basófilas e elevada concentração de chumbo no sangue e na urina. Os principais achados clínicos são cólica, anemia, neurite, encefalopatia e tremores.
23 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
24 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
25 Rins: Órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
26 Sistema Hematopoiético: Sistema do corpo composto primariamente pela medulla óssea, baço, lifonodos (gânglios linfáticos) e tonsilas, envolvido na produção do sangue.
27 Sistema Nervoso Periférico: Sistema nervoso localizado fora do cérebro e medula espinhal. O sistema nervoso periférico compreende as divisões somática e autônoma. O sistema nervoso autônomo inclui as subdivisões entérica, parassimpática e simpática. O sistema nervoso somático inclui os nervos cranianos e espinhais e seus gânglios e receptores sensitivos periféricos. Vias Neurais;
28 Neuropatia periférica: Dano causado aos nervos que afetam os pés, as pernas e as mãos. A neuropatia causa dor, falta de sensibilidade ou formigamentos no local.
29 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
30 Hepatite: Inflamação do fígado, caracterizada por coloração amarela da pele e mucosas (icterícia), dor na região superior direita do abdome, cansaço generalizado, aumento do tamanho do fígado, etc. Pode ser produzida por múltiplas causas como infecções virais, toxicidade por drogas, doenças imunológicas, etc.
31 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
32 Urina: Resíduo líquido produzido pela filtração renal no organismo, estocado na bexiga e expelido pelo ato de urinar.
33 Medula Óssea: Tecido mole que preenche as cavidades dos ossos. A medula óssea apresenta-se de dois tipos, amarela e vermelha. A medula amarela é encontrada em cavidades grandes de ossos grandes e consiste em sua grande maioria de células adiposas e umas poucas células sangüíneas primitivas. A medula vermelha é um tecido hematopoiético e é o sítio de produção de eritrócitos e leucócitos granulares. A medula óssea é constituída de um rede, em forma de treliça, de tecido conjuntivo, contendo fibras ramificadas e preenchida por células medulares.
34 Abdome: Região do corpo que se localiza entre o TÓRAX e a PELVE.
35 Ossos longos: Exemplo: Fêmur
36 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
37 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
38 Erupção: 1. Ato, processo ou efeito de irromper. 2. Aumento rápido do brilho de uma estrela ou de pequena região da atmosfera solar. 3. Aparecimento de lesões de natureza inflamatória ou infecciosa, geralmente múltiplas, na pele e mucosas, provocadas por vírus, bactérias, intoxicações, etc. 4. Emissão de materiais magmáticos por um vulcão (lava, cinzas etc.).
39 Hepáticas: Relativas a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
40 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
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Comentários

22/05/2017 - Comentário feito por HG
Saudações
Sou praticante do ...
Saudações
Sou praticante do esporte do tiro com carabinas de pressão, devido o vento que vinha na minha direção acabei inalando a fumaça que saia do cano, pelo resto do dia senti forte dor de cabeça e o gosto metálico na boca, medidas para evitar o contato com a fumaça, evitar por a mão na boca e sempre lavar as mãos, além do uso de balas de liga em vez de chumbo puro são medidas que podem reduzir a contaminação.

05/10/2015 - Comentário feito por Márcio
Prezados Senhores
Sou formado em engenhari...
Prezados Senhores
Sou formado em engenharia civil e não é incomum visitar residencias antigas, dos anos 20 ou 30.
Em duas delas, chegou aos meus ouvidos a existência de pessoas que com o passar dos anos começaram a apresentar sintomas de depressão, psicoses ou irritabilidade.
Ao fazer uma das reformas, constatei que ( como já sabia ) a grande quantidade de tubulações de chumbo para água ( o que era comum na época ). Faz sentido imaginar a contaminação gradual por resíduos de chumbo na água potável nestes imóveis ou estaria exagerando em minhas hipóteses?

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