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Crises de ausência - conceito, causas, características clínicas, diagnóstico e tratamento

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O que são crises de ausência?

As crises de ausência, antigamente denominadas de "pequeno mal epiléptico", são episódios em que a pessoa experimenta uma súbita alteração da consciência por 10 a 30 segundos, durante os quais fica quieta, com olhar vago, parecendo estar olhando para o infinito. Existem dois tipos de crises (1) crise de ausência simples e (2) crises de ausência complexas.

Quais são as causas das crises de ausência?

As crises de ausência são uma forma de epilepsia1 devido a uma atividade anormal do cérebro2 ativada por hiperventilação. Em geral, a causa desse tipo de epilepsia1 é genética. Os pacientes com essa forma de epilepsia1 geralmente têm uma história familiar desse ou de outros tipos de epilepsia1.

Após a não-adesão ao tratamento, a falta de sono é a causa mais frequente de exacerbação das crises. Os fármacos que reduzem o limiar de convulsão3 (por exemplo, álcool, cocaína, penicilina em altas doses, overdose de isoniazida e neurolépticos4) são mais susceptíveis de causar convulsões em doentes com epilepsia1. A brusca supressão de álcool, benzodiazepínicos e de outros sedativos também são causas comuns de exacerbação das crises.

Saiba mais sobre "Epilepsias" e "Convulsões".

Qual é o mecanismo fisiológico5 das crises de ausência?

A fisiopatologia6 das crises de ausência ainda não está totalmente esclarecida. Acredita-se que os ritmos oscilatórios anormais se desenvolvam nas vias tálamo7-corticais e que o mecanismo celular envolva correntes de cálcio. Os neurônios8 reticulares9 GABAérgicos do núcleo talâmico parecem desempenhar um papel importante. A atividade das redes talâmicas parece ser necessária para a ritmogênese da descarga de onda de ponta e a hiperexcitabilidade cortical é necessária para a geração das crises de ausência. Enfim, as crises de ausência são devidas a uma grande variedade de causas que, numa fase precoce do desenvolvimento neural, resultam em dano cerebral difuso ou multifocal.

Quais são as principais características clínicas das crises de ausência?

As crises de ausência na maioria das vezes acontecem em crianças, mas mais raramente podem ocorrer também em adultos. Quase nunca as crises de ausência ocasionam danos à criança. Elas tendem a desaparecer naturalmente com a chegada da adolescência, porém, algumas crianças podem ter as crises para o resto da vida ou desenvolver outras manifestações epilépticas associadas, inclusive convulsões motoras tônico-clônicas.

As crises de ausência simples podem ser tomadas durante muito tempo como mera falta de atenção e, assim, algumas pessoas podem ter crises de ausência durante anos antes que elas sejam detectadas.

Durante uma crise de ausência simples a pessoa apenas olha para o espaço por alguns poucos segundos e tavez nem note o acontecido. Nas crises mais complexas, a criança perde a consciência, fica parada, sem cair ao chão, para de falar, fica com o olhar vago, desviado para cima, não responde nem reage a estímulos e pode deixar cair os objetos que esteja segurando.

As crises podem ser frequentes e breves, durando apenas alguns segundos, e podem ser muitas por dia. Nas crianças de idade mais avançada, elas podem durar vários segundos e até minutos e podem ocorrer apenas algumas poucas vezes ao dia.

Depois da crise, a criança se recupera e continua fazendo o que estava fazendo e não guarda lembrança do acontecido. Outros automatismos motores podem se fazer presentes, como piscar ou revirar os olhos10, apertar os lábios, mastigar ou fazer pequenos movimentos com a cabeça11 ou com as mãos12. Após a crise, não há a confusão mental e por vezes o paciente nem percebe que a teve.

Como o médico diagnostica as crises de ausência?

Clinicamente, as crises de ausência podem ser difíceis de identificar e podem ser confundidas com falta de atenção, por exemplo. Um diagnóstico13 de certeza pode ser feito através de um eletroencefalograma14, durante o qual o médico pode pedir ao paciente que respire muito rapidamente, na tentativa de produzir uma crise de ausência durante o exame, o que o tornaria ainda mais definitivo.

Leia mais sobre "Eletroencefalograma14".

Como o médico trata as crises de ausência?

As crises de ausência são controladas com medicamentos antiepilépticos específicos.

Como evoluem as crises de ausência?

Uma pessoa pode ter crises esparsas, apenas “de vez em quando” ou tê-las com muita frequência. Geralmente as crises desaparecem antes dos 18 anos, mas podem persistir na vida adulta e serem associadas a outras manifestações epilépticas. A taxa de remissão das crises de ausência na infância, quando medicadas adequadamente, é de mais de 80%.

 

ABCMED, 2016. Crises de ausência - conceito, causas, características clínicas, diagnóstico e tratamento. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1281983/crises-de-ausencia-conceito-causas-caracteristicas-clinicas-diagnostico-e-tratamento.htm>. Acesso em: 24 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Epilepsia: Alteração temporária e reversível do funcionamento cerebral, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Quando restritos, a crise será chamada crise epiléptica parcial; quando envolverem os dois hemisférios cerebrais, será uma crise epiléptica generalizada. O paciente pode ter distorções de percepção, movimentos descontrolados de uma parte do corpo, medo repentino, desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente e até perder a consciência - neste caso é chamada de crise complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Existem outros tipos de crises epilépticas.
2 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
3 Convulsão: Episódio agudo caracterizado pela presença de contrações musculares espasmódicas permanentes e/ou repetitivas (tônicas, clônicas ou tônico-clônicas). Em geral está associada à perda de consciência e relaxamento dos esfíncteres. Pode ser devida a medicamentos ou doenças.
4 Neurolépticos: Medicamento que exerce ação calmante sobre o sistema nervoso, tranquilizante, psicoléptico.
5 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
6 Fisiopatologia: Estudo do conjunto de alterações fisiológicas que acontecem no organismo e estão associadas a uma doença.
7 Tálamo: Corpos pareados (contendo principalmente substância cinzenta), que formam uma parte da parede lateral do terceiro ventrículo do cérebro. O tálamo é a maior porção do diencéfalo, sendo geralmente dividido em agregados celulares (conhecidos como grupos nucleares).
8 Neurônios: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO. Sinônimos: Células Nervosas
9 Reticulares: Dar formato de rede a alguma coisa ou guarnecer de retículo ou retícula.
10 Olhos:
11 Cabeça:
12 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
13 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
14 Eletroencefalograma: Registro da atividade elétrica cerebral mediante a utilização de eletrodos cutâneos que recebem e amplificam os potenciais gerados em cada região encefálica.
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