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Norovirose - diarreia em cruzeiros? Pode ser norovirose!

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O que é norovirose?

Até a pouco, uma gastroenterite1 aguda que não fosse bacteriana ou parasitária era dita “virótica”, sem que se identificasse o vírus2, mas essa situação mudou. Hoje se sabe que cerca de três quartos dessas gastroenterites são devidas ao norovírus (anteriormente referido como Norwalk-like vírus2), recentemente identificado. Por isso, a condição é chamada norovirose.

O norovírus é um pequeno vírus2 esférico, de 27 à 35mm, isolado a partir da família Caliciviridae. Ele foi reconhecido pela primeira vez em 2002 em epidemias de gastroenterites ocorridas em navios durante cruzeiros.

Como se transmite a norovirose?

O norovírus é extremamente contagioso, transmitido de pessoa a pessoa por via fecal-oral e persiste por três semanas, durante as quais ele é excretado nas fezes e mesmo em pequenas quantidades (<100) as partículas infectantes contaminam as mãos3, o ar, as superfícies, a água, os alimentos, etc.

Ele é muito estável no meio ambiente, dura um mês a uma temperatura de 20°C, ou mais de dois meses a 4°C. Além disso, é insensível ao álcool à 70°C e aos detergentes comuns. Mesmo portadores assintomáticos podem transmitir o vírus2. A contaminação ambiental também tem sido documentada como um fator contribuinte na manutenção de transmissão durante surtos.

Normalmente, o vírus2 tem sido detectado em surtos de gastroenterite1 que ocorrem em grandes confinamentos humanos como em hospitais, cruzeiros marítimos, hoteis, escolas, etc. Ao que parece, as partículas infectantes também podem ser aerossolizadas a partir de vômitos4 e inaladas ou deglutidas. Existe dificuldade para controlar surtos em locais onde a população compartilha espaços e instalações sanitárias. O norovírus só confere uma imunidade5 de curta duração (algumas semanas ou meses).

Quais são as principais características clínicas da norovirose?

Felizmente, o comprometimento clínico do vírus2 não é grave. O tempo de incubação6 é de 24 a 48 horas. Após isso, aparecem subitamente náuseas7, vômitos4, diarreia8, câimbras9 abdominais, febre10 (menor de 39°C), cefaleias11, mialgias12, desidratação13 e distúrbios hidroeletrolíticos. A doença é geralmente autolimitada e dura de 12 a 60 horas e representa uma gravidade particular em idosos e em crianças muito pequenas ou que estejam em período de amamentação14.

Saiba mais sobre "Náuseas7 e vômitos4", "Diarreia8", "Febre10", "Desidratação13" e "Distúrbios hidroeletrolíticos".

Como o médico diagnostica a norovirose?

Além do diagnóstico15 clínico, feito a partir dos sintomas16, sua confirmação pode ser feita por meio de uma coprocultura (cultura das fezes). Uma confirmação indireta pode ser obtida por meio de um exame parasitológico negativo de fezes, hemograma e velocidade de sedimentação sem particularidades. Técnicas de detecção molecular de DNA tem facilitado um melhor entendimento do seu papel em surtos de doenças gastrointestinais.

Leia sobre o "Exame parasitológico de fezes" e o "Hemograma".

Como o médico trata a norovirose?

Não há tratamento curativo específico. Os tratamentos sintomáticos incluem reequilíbrio hidroeletrolítico17, antieméticos18, antipiréticos19, etc.

Como evolui a norovirose?

Raramente, a norovirose pode causar óbito20 por desidratação13, particularmente em pacientes idosos ou com saúde21 previamente debilitada.

Como prevenir a norovirose?

Deve-se adotar todas as precauções universais contra as doenças infecciosas, reforçadas em virtude da extrema contagiosidade22 do vírus2, e privilegiar cuidados com a transmissão indireta realizando sempre a lavagem das mãos3. Como alternativa, desinfetantes fenólicos mostraram ser efetivos contra o Calicivirus. Existem dados insuficientes para determinar a eficácia das soluções alcoólicas contra os Norovírus.

Quais são as complicações possíveis da norovirose?

As complicações mais temíveis da norovirose, mas facilmente evitáveis, são a desidratação13 e os distúrbios hidroeletrolíticos, que em idosos ou crianças pequenas pode levar à morte.

 

ABCMED, 2016. Norovirose - diarreia em cruzeiros? Pode ser norovirose!. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1279673/norovirose-diarreia-em-cruzeiros-pode-ser-norovirose.htm>. Acesso em: 25 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Gastroenterite: Inflamação do estômago e intestino delgado caracterizada por náuseas, vômitos, diarréia e dores abdominais. É produzida pela ingestão de vírus, bactérias ou suas toxinas, ou agressão da mucosa intestinal por diversos mecanismos.
2 Vírus: Pequeno microorganismo capaz de infectar uma célula de um organismo superior e replicar-se utilizando os elementos celulares do hospedeiro. São capazes de causar múltiplas doenças, desde um resfriado comum até a AIDS.
3 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
4 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
5 Imunidade: Capacidade que um indivíduo tem de defender-se perante uma agressão bacteriana, viral ou perante qualquer tecido anormal (tumores, enxertos, etc.).
6 Incubação: 1. Ato ou processo de chocar ovos, natural ou artificialmente. 2. Processo de laboratório, por meio do qual se cultivam microrganismos com o fim de estudar ou facilitar o seu desenvolvimento. 3. Em infectologia, é o período que vai da penetração do agente infeccioso no organismo até o aparecimento dos primeiros sinais da doença.
7 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
8 Diarréia: Aumento do volume, freqüência ou quantidade de líquido nas evacuações.Deve ser a manifestação mais freqüente de alteração da absorção ou transporte intestinal de substâncias, alterações estas que em geral são devidas a uma infecção bacteriana ou viral, a toxinas alimentares, etc.
9 Câimbras: Contrações involuntárias, espasmódicas e dolorosas de um ou mais músculos.
10 Febre: É a elevação da temperatura do corpo acima dos valores normais para o indivíduo. São aceitos como valores de referência indicativos de febre: temperatura axilar ou oral acima de 37,5°C e temperatura retal acima de 38°C. A febre é uma reação do corpo contra patógenos.
11 Cefaléias: Sinônimo de dor de cabeça. Este termo engloba todas as dores de cabeça existentes, ou seja, enxaqueca ou migrânea, cefaléia ou dor de cabeça tensional, cefaléia cervicogênica, cefaléia em pontada, cefaléia secundária a sinusite, etc... são tipos dentro do grupo das cefaléias ou dores de cabeça. A cefaléia tipo tensional é a mais comum (acomete 78% da população), seguida da enxaqueca ou migrânea (16% da população).
12 Mialgias: Dor que se origina nos músculos. Pode acompanhar outros sintomas como queda no estado geral, febre e dor de cabeça nas doenças infecciosas. Também pode estar associada a diferentes doenças imunológicas.
13 Desidratação: Perda de líquidos do organismo pelo aumento importante da freqüência urinária, sudorese excessiva, diarréia ou vômito.
14 Amamentação: Ato da nutriz dar o peito e o lactente mamá-lo diretamente. É um fenômeno psico-sócio-cultural. Dar de mamar a; criar ao peito; aleitar; lactar... A amamentação é uma forma de aleitamento, mas há outras formas.
15 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
16 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
17 Hidroeletrolítico: Aproximadamente 60% do peso de um adulto são representados por líquido (água e eletrólitos). O líquido corporal localiza-se em dois compartimentos, o espaço intracelular (dentro das células) e o espaço extracelular (fora das células). Os eletrólitos nos líquidos corporais são substâncias químicas ativas. Eles são cátions, que carregam cargas positivas, e ânions, que transportam cargas negativas. Os principais cátions são os íons sódio, potássio, cálcio, magnésio e hidrogênio. Os principais ânions são os íons cloreto, bicarbonato, fosfato e sulfato.
18 Antieméticos: Substância que evita o vômito.
19 Antipiréticos: Medicamentos que reduzem a febre, diminuindo a temperatura corporal que está acima do normal. Entretanto, eles não vão afetar a temperatura normal do corpo se uma pessoa que não tiver febre o ingerir. Os antipiréticos fazem com que o hipotálamo “ignore“ um aumento de temperatura induzido por interleucina. O corpo então irá trabalhar para baixar a temperatura e o resultado é a redução da febre.
20 Óbito: Morte de pessoa; passamento, falecimento.
21 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
22 Contagiosidade: Qualidade do que é contagioso, ou seja, do que é transmitido por contato.
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