Gostou do artigo? Compartilhe!

Automutilação

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie este artigo

O que é automutilação?

Automutilação é todo comportamento intencional envolvendo agressão direta ao próprio corpo sem intenção consciente de suicídio, embora possa resultar em morte. Normalmente, em seguida à automutilação, a pessoa procura esconder as feridas autoinfligidas com roupas ou oferece explicações alternativas para elas. Algumas pessoas, com o interesse de escondê-las, abandonam as situações em que seja necessária a exibição do corpo, como ir à praia ou a um clube, por exemplo.

A pessoa que se automutila não está, usualmente, querendo interromper a própria vida, mas sim usando esse comportamento como um modo de aliviar alguma dor emocional e desconforto.

Quais são as causas da automutilação?

Os atos automutilatórios visam o alívio de dores emocionais e, em muitos casos, estão associados ao Transtorno de Personalidade Borderline. Muitos automutiladores, contudo, não sofrem desse transtorno de personalidade.

Atualmente, esse comportamento tem sido associado também a problemas como depressão, transtorno bipolar, síndrome1 do pânico, bulimia2, anorexia3, bullying, epilepsia4, problemas emocionais, transtornos alimentares dentre outros. Outro fator que deve ser investigado está relacionado à associação entre dor e prazer (sadismo).

A automutilação é mais comum entre jovens e adolescentes que sofrem pressão psicológica.

Leia sobre "Personalidade Borderline", "Transtorno bipolar", "Anorexia3", "Bulimia2", "Síndrome1 do pânico" e "Sadismo".

Qual o perfil automutilador?

Geralmente a pessoa se automutila com a intenção de interromper uma dor emocional muito forte, numa espécie de troca, da dor emocional pela dor física. No entanto, apesar desses intensos sentimentos internos, o automutilador não experimenta muitas reações emocionais no que diz respeito a eventos externos, sendo capaz de presenciar grandes tragédias sem reações emocionais.

Deparam-se com uma sensação de vazio e tornam-se incapazes de quaisquer sentimentos comuns, como ódio, raiva5, indignação, medo, insegurança, alegria, amor, etc. Sentem-se apáticos e desinteressados com relação a qualquer assunto que os rodeie. Os automutiladores em geral sentem compaixão por outras pessoas na mesma situação. No mais, eles tendem a ter grandes dificuldades de expressão verbal ou emocional e não conseguem falar sobre suas angústias, nem chorar diante dos outros. No máximo, alguns indivíduos afirmam que escrever (textos, poemas, contos, músicas ou sua história pessoal, etc.) lhes parece de grande ajuda.

Essas pessoas não possuem amor próprio, têm muito baixa autoestima e se definem como "um lixo", “sem qualquer importância” e fracassadas. Não guardam qualquer expectativa futura positiva, pois se consideram incapazes de alcançar qualquer coisa realmente boa. Assim, procuram se afastar da família e dos amigos, com a ideia de que assim os poupam do mal que presumem ser a sua presença e passam a levar uma vida isolada.

Com frequência se descobrem buscando feridas ou cicatrizes6 semelhante às suas em outras pessoas, como uma forma de não se sentirem tão sós. O desejo de se automutilar é descrito por elas como algo incontrolável, um vício do qual, ainda que queiram, não conseguem se libertar. Muitas pessoas alegam não saberem porque fazem isso.

Após uma crise em que fere o próprio corpo, a pessoa apresenta um sentimento de culpabilidade. O indivíduo chora muito e a sensação de fracasso é extrema, assim como a dificuldade de falar sobre si mesmo e sobre a doença é acentuada, com medo de não ser compreendido e aceito.

Quais são as principais características clínicas da automutilação?

A automutilação é comum entre jovens e adolescentes que sofrem pressão psicológica. As formas mais frequentes de automutilação são esmurrar-se, chicotear-se, cortar-se com giletes, navalhas, vidros e facas, enforcar-se por alguns instantes, morder as próprias mãos7, lábios, língua8 ou braços, apertar ou reabrir feridas, arrancar os cabelos, queimar-se, furar-se com agulhas, arames, pregos, canetas, beliscar-se, ingerir agentes corrosivos, pregos, alfinetes etc., se bater, socar paredes e outras superfícies ásperas capazes de machucar as mãos7 e envenenar-se, sem a intenção de suicídio.

Uma forma clássica de automutilação, comum nos serviços de emergência9, envolve fazer cortes nos braços, pernas, coxas10, abdômen, etc., mais nos pulsos. A automutilação entre indivíduos com outros distúrbios mentais (autismo, retardamento, inteligência limítrofe, etc.) costuma envolver ações relativamente simples, tais como bater a cabeça11 contra a parede, esmurrar superfícies duras e morder-se. É comum desenvolverem pica, que corresponde a um transtorno em que o afetado engole substâncias/objetos que não são comestíveis.

Veja também sobre "Depressões", "Suicídio", "Autismo" e "Alotriofagia ou pica".

Como tratar a automutilação?

O tratamento da automutilação deve ser feito por uma associação entre psicoterapia e medicação. A psicoterapia tem como um dos objetivos ajudar o paciente a identificar outras formas de lidar com as frustrações. Ainda não há medicação específica para a automutilação, entretanto, a medicação pode aliviar os sintomas12 depressivos e ansiosos associados e também este comportamento.

É essencial identificar as causas do problema, embora isso seja difícil, e tratá-las. É importante que a iniciativa do tratamento parta do próprio paciente.

Quais são as complicações possíveis da automutilação?

A automutilação pode causar uma variedade de complicações, como infecções13, cicatrizes6 e desfigurações permanentes. Embora a automutilação não seja uma tentativa de suicídio, pode produzir a morte.

 

ABCMED, 2017. Automutilação. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1307133/automutilacao.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Bulimia: Ingestão compulsiva de alimentos, em geral seguida de indução do vômito ou uso abusivo de laxantes. Trata-se de uma doença psiquiátrica, que faz parte dos chamados Transtornos Alimentares, juntamente com a Anorexia Nervosa, à qual pode estar associada.
3 Anorexia: Perda do apetite ou do desejo de ingerir alimentos.
4 Epilepsia: Alteração temporária e reversível do funcionamento cerebral, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Quando restritos, a crise será chamada crise epiléptica parcial; quando envolverem os dois hemisférios cerebrais, será uma crise epiléptica generalizada. O paciente pode ter distorções de percepção, movimentos descontrolados de uma parte do corpo, medo repentino, desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente e até perder a consciência - neste caso é chamada de crise complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Existem outros tipos de crises epilépticas.
5 Raiva: 1. Doença infecciosa freqüentemente mortal, transmitida ao homem através da mordida de animais domésticos e selvagens infectados e que produz uma paralisia progressiva juntamente com um aumento de sensibilidade perante estímulos visuais ou sonoros mínimos. 2. Fúria, ódio.
6 Cicatrizes: Formação de um novo tecido durante o processo de cicatrização de um ferimento.
7 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
8 Língua:
9 Emergência: 1. Ato ou efeito de emergir. 2. Situação grave, perigosa, momento crítico ou fortuito. 3. Setor de uma instituição hospitalar onde são atendidos pacientes que requerem tratamento imediato; pronto-socorro. 4. Eclosão. 5. Qualquer excrescência especializada ou parcial em um ramo ou outro órgão, formada por tecido epidérmico (ou da camada cortical) e um ou mais estratos de tecido subepidérmico, e que pode originar nectários, acúleos, etc. ou não se desenvolver em um órgão definido.
10 Coxas: É a região situada abaixo da virilha e acima do joelho, onde está localizado o maior osso do corpo humano, o fêmur.
11 Cabeça:
12 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
13 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
Gostou do artigo? Compartilhe!

Pergunte diretamente a um especialista

Sua pergunta será enviada aos especialistas do CatalogoMed, veja as dúvidas já respondidas.